Tania Zanella: “É possível crescer sem deixar ninguém para trás”
Primeira mulher superintendente do Sistema OCB fala em entrevista exclusiva sobre o cenário do cooperativismo no Brasil
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Primeira mulher a ocupar o cargo de superintendente do Sistema OCB, Tania Zanella é uma líder nata que desbrava caminhos no cooperativismo brasileiro. Recentemente, ela acrescentou ao seu currículo a presidência do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), entidade que reúne 59 organizações do setor. No IPA, ela atua na defesa da agricultura e assessora a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Congresso Nacional.
Por seu trabalho em fortalecer as cooperativas, foi eleita uma das 100 mulheres mais influentes do agronegócio pela Revista Forbes.
Tania falou com exclusividade para a edição Cooperativismo 2025.
A Tribuna - A senhora é reconhecida como uma das 100 mulheres mais importantes do agronegócio, da Revista Forbes. Como define sua missão?
Tania Zanella Esse reconhecimento, embora pessoal, representa o trabalho coletivo de milhares de mulheres e homens que fazem o cooperativismo acontecer todos os dias, nos mais diversos cantos do Brasil. Ser superintendente do Sistema OCB é um desafio que encaro com humildade e senso de missão.
Minha atuação é pautada pela defesa de um modelo econômico centrado nas pessoas, que valoriza a produção com responsabilidade social e ambiental.
Quero contribuir para fortalecer esse movimento em todas as suas dimensões: econômica, institucional, educativa e política.
Minha missão é garantir que o cooperativismo seja, cada vez mais, uma alternativa concreta para um desenvolvimento mais justo, inclusivo e sustentável.
O que significa a declaração da ONU de que 2025 é o Ano Internacional das Cooperativas?
A declaração da ONU é um reconhecimento global da capacidade do cooperativismo de enfrentar os desafios urgentes do nosso tempo — como a erradicação da pobreza, a promoção da igualdade, a sustentabilidade ambiental e a inclusão social.
Para o Brasil, onde o cooperativismo é altamente estruturado e presente em todos os estados, essa decisão traz grande responsabilidade: mostrar ao mundo como o modelo cooperativo funciona na prática, com eficiência econômica e impacto social.
Em 2025, estamos tendo a oportunidade de dar mais visibilidade ao nosso trabalho, influenciar políticas públicas, atrair novos cooperados e ampliar o diálogo com a sociedade sobre os valores e os diferenciais do cooperativismo. É uma chance única de reafirmar que, sim, é possível crescer sem deixar ninguém para trás.
De que modo as cooperativas têm contribuído para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, especialmente nas regiões mais vulneráveis?
As cooperativas desempenham um papel estratégico no desenvolvimento regional, especialmente em localidades onde o poder público ou as grandes empresas não conseguem atuar com efetividade.
Elas oferecem acesso a crédito, assistência técnica, comercialização da produção, saúde de qualidade, infraestrutura e serviços essenciais. Isso tudo com base em um modelo participativo, que distribui os resultados entre os próprios cooperados.
Esse impacto é ainda mais visível em áreas rurais remotas, em comunidades da Amazônia, no semiárido nordestino, nos pequenos municípios do Sul e Sudeste — onde o cooperativismo, muitas vezes, é o principal motor da economia local. É um modelo que gera pertencimento, reduz desigualdades e empodera as pessoas para que construam seu próprio desenvolvimento.
Quais são os principais desafios e oportunidades para tornar o cooperativismo ainda mais sustentável e inclusivo no Brasil?
Temos o desafio de ampliar nossa base de atuação sem perder a essência: pessoas no centro e o bem coletivo como norte. Ainda há barreiras estruturais — como acesso limitado de algumas populações a oportunidades de formação, tecnologia ou crédito — que precisam ser superadas. Por outro lado, o cooperativismo já nasce com um DNA de sustentabilidade, pois valoriza o território, respeita a cultura local e busca resultados duradouros.
O grande diferencial é que temos instrumentos práticos para promover a inclusão produtiva de mulheres, jovens, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência, entre outros grupos. As cooperativas precisam estar cada vez mais atentas à diversidade, atuando com intencionalidade para garantir representatividade e equidade em seus espaços de decisão.

Quais barreiras legais e regulatórias dificultam o crescimento das cooperativas no Brasil?
Apesar de avanços, ainda temos uma legislação que não compreende totalmente a especificidade das cooperativas como sociedades de pessoas, com natureza própria e sem fins lucrativos. Muitas vezes, somos tratados como empresas comuns, o que nos impõe tributações indevidas, restrições no acesso a políticas públicas e insegurança jurídica em diversos setores.
É urgente modernizar o marco regulatório das cooperativas, no reconhecimento da singularidade dos atos cooperativos e na desburocratização de processos. Estamos dialogando com o Congresso, com o Executivo e com o Judiciário para corrigir essas distorções. Um ambiente jurídico seguro e adequado é essencial para que o cooperativismo possa crescer ainda mais e contribuir com os grandes objetivos nacionais.
Que recado a senhora deixaria sobre a importância de apoiar e fortalecer o cooperativismo?
Convido líderes, empreendedores e consumidores a conhecer, apoiar e vivenciar o cooperativismo em sua plenitude. Ao escolher uma cooperativa, você não está apenas consumindo ou investindo — está contribuindo para um modelo econômico que distribui riquezas, fortalece comunidades e cuida das pessoas. O ano de 2025 será um marco global, mas nosso compromisso é diário. E ele só será verdadeiramente transformador se for coletivo. Porque juntos, cooperando, vamos mais longe — e levamos todos com a gente.
QUEM É
Tania Zanella
- Formada em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, com pós-graduação em Direito Processual Civil, Civil, Público e em Gestão de Servi ços Sociais pelo IDP. Tania Zanella tem mais de 15 anos de atuação no cooperativismo, tornando-se a primeira superintendente mulher da entidade.
- Em 2024,assumiu a presidência do IPA, integra o Cosag e a Fiesp, e foi eleita pela Forbes entre as 100 mulheres mais poderosas do agronegócio, sendo referência no setor.
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