“Porteiros ensinaram que não há limites para realizar sonhos”, diz Alexandre Lino
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Dizem que ouvir é uma das formas de aprender. O ator, produtor e diretor Alexandre Lino, 45, teve essa certeza enquanto se preparava para entrar em cena com a comédia “O Porteiro”, de 2017. A peça ficou em cartaz durante três anos e hoje o “Waldisney gente fina” segue em carreira solo, com direito a canal oficial no YouTube.
Em entrevista ao AT2, o pernambucano revela: “Os porteiros me ensinaram que não há limites para realizar sonhos e que não devemos assumir o que querem determinar para nós. Somos maiores que os preconceitos”.
Lino, que garante ser “um rato de teatro” e “não vive sem os palcos”, conta que, na quarentena, foi atrás do seu público através das redes sociais. “Fiz a leitura dramatizada de peças, participei de muitas lives com meu personagem mais popular, o porteiro Waldisney”.
O ator, produtor e diretor defende que a realidade tem muito mais a ensinar que a ficção. “Mesmo que a segunda tente reproduzir a primeira”, frisa ele, que atuou no seriado de TV “A Cara do Pai” como o porteiro Gilmar, ao lado de Leandro Hassum, e ainda nas novelas “Órfãos da Terra”, “Malhação Sonhos” e “Totalmente Demais”.
“Acredito numa fala e na sabedoria que não se ensinam nos livros. Poucas pessoas prestam atenção no dia a dia. Escutar o sr. Pedro me dizer que é um homem realizado, pois ele e sua esposa conseguiram formar uma filha médica e irão formar outras duas em Advocacia e Contabilidade não tem preço. E ele fala que não sai da portaria, mesmo as filhas pedindo, pois é ali que ele se reconhece. Isso é maior que qualquer estudo acadêmico sobre o tema. Isso muda nossa visão”, diz.
Entrevista - Alexandre Lino ator, diretor e produtor: “É a vida que ninguém vê”
AT2 - A peça “O Porteiro” traz um humor simples, que, em tempos de pandemia, alcançou a internet. Conta sobre as lives que fez com o Waldisney? Tem dado certo as reuniões de condomínio virtuais?
Alexandre Lino - Tem sido uma felicidade para mim e para o público. As pessoas me pediram, os amigos me cobraram e acabei cedendo. A atriz Andrea Veiga, que adora Waldisney, praticamente me intimou e foi com ela que fiz a primeira live. Foi sensacional! As pessoas acreditavam que eu era o porteiro do prédio dela! Todos queriam participar.
Hoje atendo a pedidos de empresas e faço para grupos fechados de funcionários e a agenda só cresce. Deu tão certo que virou um mix de brincadeira e trabalho.
O espetáculo nasceu a partir de entrevistas que fez com nordestinos vivendo em grandes centros. Deve ter ouvido fortes depoimentos. Isso mudou sua forma de enxergar a vida?
Parto do princípio que a realidade tem muito mais a nos ensinar que a ficção, mesmo que a segunda tente reproduzir a primeira.
Tenho formação em cinema e teatro e em ambas busquei o documentário como pesquisa. Isso me ampliou a escuta e estabeleceu um pacto com o real nas produções que realizo. Isso surgiu em “Domésticas” (2012) e em “O Porteiro” não foi diferente.
Acredito numa fala e sabedoria que não se ensinam nos livros e poucas pessoas prestam atenção no dia a dia. É a vida que ninguém vê. E isso é maior que qualquer estudo acadêmico sobre o tema. Isso muda nossa visão sobre muita coisa.
Acredita que, com esse novo cenário mundial, a solidariedade tem se destacado?
Sim. Isso é um dos pontos positivos de toda essa tragédia. Infelizmente, há quem faça como moeda de troca, mas nunca iremos saber as intenções. O mais importante é amenizar a fome das pessoas e isso é imensurável.
Nos sentimos abençoados em poder ser um canal de ajuda para os nossos conterrâneos. Agora estamos na segunda fase para tentar arrecadar mais 100 cestas. O canal de doação é: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/nordestinos-contra-a-pandemia.
Acha que, quando o assunto é improvisar, dar um jeitinho, o brasileiro não decepciona?
Mais que dá um jeitinho. Prefiro pensar que temos que preparar agora o que queremos ter na volta. Transformar esse momento adverso em oportunidade. Afinal, tudo depende do que cada pessoa faz diante das possibilidades.
As circunstâncias e as dificuldades estão aí e cabe a nós a transformação, a apropriação e a coragem para dar um passo adiante. Isso, sim, é o melhor do brasileiro: coragem.
Apesar da flexibilização, ainda temos que usar máscaras, evitar contato. Já providenciou uma máscara transparente, para exibir o bigodinho?
Engraçado isso! Uso esse bigode desde 2012 e virou uma espécie de assinatura. Trabalho muito por conta dele. É uma relação de amor e gratidão. Com a máscara, as pessoas que não me conhecem podem ter a impressão que não há bigode. Fico me perguntando como ela deve achar que sou sem máscara.
Agora, quanto à mascara transparente, se houver alguma que garanta proteção, serei um dos primeiros a comprar. Estou sentindo falta de exibir meu bigode de respeito! (Risos)
“O Marido de Daniel” defende todas as formas de amar. Um texto bem atual. Seria o amor no divã?
A peça discute o amor materno, o amor entre amigos e o amor de casal. Nisso ela está mais próxima a questões psicanalíticas e bem distante da perspectiva panfletária. É uma peça incrível do norte- americano Michael Mckeever, que fala muito bem para a realidade do nosso país e nossas questões.
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