Mari Chamon em prece pela natureza
Natural de Cachoeiro de Itapemirim, a cantora apresenta o reggae “Prece” e fala da sua relação com a música e o meio ambiente
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A intensa relação da cachoeirense Mari Chamon, 26, com a natureza e a música começou ainda na infância. No mundo das artes, mergulhou ao ter aulas de pintura com o já falecido Dedé Caiano, irmão do saudoso Sérgio Sampaio. Mas o que era para ser uma aula movida a cores, tornou-se uma viagem sonora.
“Não tenho lembrança de pintar uma tela sequer. A gente ficava cantando, ele tocando violão, inventando música...”, revela a cantora que, diariamente, após a escola, soltava a voz no karaokê. Depois, fez aulas de teclado e violão, e, aos 11 anos, passou a compor.
Paralelamente aos primeiros passos para uma carreira artística, ela fortalecia sua conexão com o meio ambiente, nas idas a Burarama, distrito de Cachoeiro de Itapemirim.
Nas lembranças, banhos de chuva e na cachoeira, trilhas, brincadeiras de subir em árvores, de acampar e pegar argila no rio, além de idas ao açude e ao Poço do Pedro com os primos. Já nos verões, aproveitava as praias de Marataízes. Tempos depois, até aprendeu a surfar, paixão que rendeu a música “Raio de Sol”!
“Me encanta só parar para observar o céu, as estrelas, o sol nascendo, o pôr do sol, sentir o vento, olhar para o horizonte, infinito do mar... tudo isso é muito belo, aguça a minha criatividade, me inspira na vida e na arte. Essa relação com a natureza é algo muito presente em mim, na minha vida, por isso é natural que esteja presente nas minhas composições também”, explica.
E é fazendo um pedido de proteção ao meio ambiente que a cantora e compositora acaba de apresentar o reggae “Prece”. A canção chega com clipe gravado na Floresta da Tijuca, no Rio.
“Escrevi visualizando a história de um homem que cresceu vivendo da terra e a respeitando, mas que foi 'engolido' pelo sistema quando adulto, e se tornou ganancioso, o que apelido de 'espécie de engravatado', que só pensa em explorar e se esquece de cuidar da sua própria casa. Tudo vem da terra, da natureza, a vida só existe por causa dela. É muito triste ver que estamos acabando com ela, com a gente”, desabafa Mari.
Antes de “Prece”, a cachoeirense gravou releitura de “Vida Toda”, com a banda carioca Via Jah, de quem ela é fã. A versão atingiu mais de 110 mil execuções no Spotify.

ENTREVISTA - “Esse processo de superar medos é constante”
AT2 - Quando começou a sonhar em viver de música?
Mari Chamon - Desde muito pequena, gostava de cantar. Tem muitos vídeos caseiros em que apareço cantando, dançando... Viver de música sempre foi um sonho, que ficou escondido por um tempo, mas não teve jeito e tomou conta da minha vida de novo.
“Prece”, seu novo single, é um pedido de proteção à natureza. Um tema bem atual, certo?
Infelizmente. Se pararmos para pensar, todo ano vemos desastres ambientais de todo tipo acontecendo em todo lugar. Esse é um tema muito importante para mim, porque, claro, quero continuar tendo contato com a natureza, e que todas as gerações possam aproveitar a natureza como eu aproveito hoje. Mas deveria ser de interesse de todos, porque afeta toda a vida no planeta.
O que espera com essa música?
Costumo dizer que toda composição minha sai como um cuspe, um desabafo. Inicialmente, não tem intenção, é uma necessidade da minha alma em dizer algo, botar para fora. É só mais uma forma de chamar a atenção para cuidarmos do meio ambiente, e talvez despertar o interesse nas pessoas: “o que posso fazer em casa para ajudar? Quais hábitos posso mudar para preservar o meio ambiente?”.
“Raio de Sol”, do ano passado, também é uma música sobre a sua relação com a natureza.
Escrevi quando estava louca de saudade do mar, na quarentena de 2020, em Cachoeiro de Itapemirim. Sonhando com a cena que vivi centenas de vezes em Marataízes: acordar com o sol nascendo, ver a luz do sol refletindo no mar, ver se está dando onda e ir surfar.
A canção também fala sobre ter coragem para enfrentar medos. Também encarou esse processo de superar medos quando decidiu seguir carreira musical?
Esse processo de superar medos é constante, e acho que a vida é sobre isso aí mesmo. Mas o maior aprendizado, para mim, e que o surf também trouxe, é de ir com medo. Não deixar de fazer algo por conta do medo.
Quando tive coragem de seguir profissionalmente na música, tinha muitas inseguranças, e achava que precisava evoluir em muitas coisas, mas entendi que as inseguranças sempre vão estar presentes, e que o aprendizado maior acontece no caminho. Essa mudança de pensamento é que me trouxe a coragem para me movimentar em direção à realização do meu sonho.
Já gravou disco de pop rock, mas hoje aposta em reggae e MPB. Como foi essa transição?
Desde sempre, sou muito eclética, escutava de MPB a Slipknot. Comecei a compor na fase de pré-adolescente, meio rebelde, escutava muito rock e pop rock em inglês, e ainda estava descobrindo a minha personalidade. Na época, alisava o cabelo, usava unha postiça com pedrinhas, pulseiras de couro preta e amava salto alto, não sabia ainda quem era a Mari de verdade.
Há algum tempo, invisto em autoconhecimento e descobri a minha essência e do que gosto de cantar e falar. A forma que me visto mudou, sou vegetariana, gosto de cantar descalça, estar confortável, leve, por fora e por dentro. A minha identidade artística, hoje, é uma extensão de quem eu sou, e me encontrei no reggae e na MPB, gêneros musicais que mais consumo.
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