X

Olá! Você atingiu o número máximo de leituras de nossas matérias especiais.

Para ganhar 90 dias de acesso gratuito para ler nosso conteúdo premium, basta preencher os campos abaixo.

Já possui conta?

Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

ASSINE
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
ASSINE
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Filmes e Séries

Filme perdido de Zé do Caixão, 56 anos depois, é uma joia do cinema

Obra chega aos cinemas nesta quinta-feira (06)


Ouvir

Escute essa reportagem

Imagem ilustrativa da imagem Filme perdido de Zé do Caixão, 56 anos depois, é uma joia do cinema
José Mojica Marins no filme "A Praga" |  Foto: Reprodução/Filme A Praga

Em 1967, José Mojica Marins rodou o especial televisivo "A Praga", sobre uma bruxa velha que amaldiçoa um rapaz que tenta fotografá-la. Mas o filme logo se perderia em um incêndio.

Como tinha grande apreço pelo material, Mojica decidiu refilmá-lo em 1980, para outro programa de TV -mas problemas financeiros o impediram de finalizar o projeto. Parecia que o roteiro, tal como a idosa nele descrita, se recusava a ser registrado por uma câmera; era como se alguém tivesse praguejado "A Praga".

Leia mais sobre Entretenimento aqui

A versão de 1980 passou anos dada como perdida, mas em 2007 seus negativos foram encontrados pelo cineasta Eugênio Puppo, que se lançou em um longo processo de restauração. Mojica chegou a fazer parte dele, mas sua morte, em 2020, o impediu de ver o resultado final.

Mas o público agora pode conferi-lo -o média-metragem chega ao cinema, em sessão conjunta com um curta documental que conta a história do filme e de sua restauração: "A Última Praga de Mojica", dirigido por Puppo, Cédric Fanti, Matheus Sundfeld e Pedro Junqueira.

O documentário é um complemento importante para a contextualização do projeto, mas "A Praga" teria força o suficiente para existir sozinho enquanto filme. Vendo seus pouco mais de 50 minutos compreende-se por que Mojica tinha tanto apego a ele. É uma obra sempre pulsante, absorvente, apesar do potencial distanciador dos vários arroubos vanguardistas da direção.

Mesmo diante de visíveis limitações materiais, o filme tem uma textura sensual que se destaca. Há nas imagens um tipo de vulgaridade ao mesmo tempo sexy e grotesca, e a sanguinolência trash consegue transmitir uma carga erótica pegajosa que os filmes de terror nacionais mais recentes estão longe de atingir.

O personagem mais famoso de Mojica, Zé do Caixão, não faz parte da trama, mas surge como um mestre de cerimônias macabro, que nos narra a história de Juvenal e Marina, um casal fogoso, mas entediado, que resolve fazer um passeio no campo. Ali, encontra uma velha com fama de bruxa.

A figura decadente e excêntrica da idosa é irresistível demais para os ímpetos depreciativos de Juvenal, que começa a fotografá-la como se ela fosse uma aberração.

Furiosa pelo desacato, a estranha mulher roga uma praga no rapaz, que a princípio não dá muita bola, mas que não demora a notar seus efeitos. Começa tendo pesadelos, depois fica cada vez mais irritado. Passa a se alimentar apenas de carne crua, e seu corpo vai se deteriorando de modo assustador -tudo conforme vaticinara a feiticeira. Seu trágico destino é ineludível.

"A Praga" traz uma mensagem moralizante clara: quem desafia o oculto, o desconhecido, há de pagar o preço de sua incredulidade -tema, aliás, habitual na obra de Mojica. Mas é uma moral por demais imediata e simplória; há outros subtextos ali que permitem análises mais interessantes.

Sim, o filme é datado na questão de certas representações -o trecho com o pai de santo usa religiões africanas de forma algo depreciativa. E a personagem Marina é mero objeto voyeurístico da câmera de Mojica -mas, também, como não objetificar uma figura como a da deslumbrante Silvia Gless, em sua carnalidade platinada, com a boca infalivelmente vermelha?

A feiticeira, ao contrário, tem um viés feminista. Quando é afrontada por Juvenal, ela revida de forma tão violenta, impiedosa e inescapável que é como se ela articulasse em sua maldição todo o ódio secular feminino contra os abusos masculinos.

Ela representa a revanche do tipo de mulher em geral desdenhada pelos homens -velha, feia, insubmissa aos caprichos masculinos- sobre o macho que não a respeita. O sexismo arrogante dele não tem a menor chance contra a ira ardilosa dela.

A grande Wanda Kosmo, aliás, está sublime no papel da velha, mesmo que o filme não traga uma de suas principais marcas: a voz grave e rascante. Mas sua dublagem, feita pela atriz Luah Guimarãez, é bastante satisfatória.

Em seu excelente trabalho de pós-produção, "A Praga" se revela uma pequena joia do cinema fantástico brasileiro. Há o esdrúxulo, o tosco, e todo o prazer mundano que lhes são peculiares. Mas há também o espírito de descumprimento de regras de um dos nossos maiores artistas instintivos, cujo cinema ia costumeiramente muito além das módicas pretensões iniciais do diretor.

A PRAGA

Avaliação: Muito bom 

Quando: Estreia nesta quinta (6) nos cinemas

Classificação 16 anos

Elenco: José Mojica Marins, Wanda Kosmo e Silvia Gless

Produção: Brasil, 2021

Direção: José Mojica Marins

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Leia os termos de uso

SUGERIMOS PARA VOCÊ: