Médicos explicam avanço de doença que matou Preta Gil
Hábitos da vida moderna e má alimentação têm feito aumentar os casos de câncer colorretal entre pacientes com menos de 50 anos
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Depois de pouco mais de dois anos de tratamento contra um câncer colorretal, a cantora Preta Gil, de 50 anos, morreu no último domingo (20), nos Estados Unidos. A doença foi descoberta em janeiro de 2023.
O câncer colorretal é o segundo que mais mata no mundo (900 mil mortes), atrás apenas do câncer de pulmão (1,8 milhão de mortes), segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Esse tipo de câncer, que afeta o intestino grosso e reto, tem crescido entre pessoas com menos de 50 anos, alertam os médicos.
A oncologista Kitia Perciano, diretora da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), destaca que, entre as causas para o aumento de casos entre jovens, está o consumo de alimentos comprovadamente cancerígenos, os ultraprocessados, como defumados, embutidos, queimados (churrasco) e muitos salgados, como bacalhau e carne de sol.
“Não é de um alimento que a pessoa vai comer de vez em quando que ela terá câncer. Nosso organismo tem os efeitos protetores. O problema está no exagero, em adotar esses alimentos como comida do dia a dia”, aponta.
A oncologista Juliana Alvarenga alerta que esse tipo de câncer é o mais relacionado ao estilo de vida e fatores — além da alimentação — como obesidade, sedentarismo, tabagismo e consumo de álcool têm influência no aparecimento do tumor. “Nossa geração, infelizmente, cresceu tomando refrigerante e comendo chips. Não tínhamos o conhecimento que temos hoje”.
Virgínia Altoé Sessa, oncologista do Hospital Santa Rita, ressalta que apesar de a ciência ainda não comprovar todos os fatores, a medicina acredita que, provavelmente, os hábitos de vida podem causar mais câncer colorretal do que no passado.
O médico cirurgião oncológico da Unimed Duílio Eutrópio Netto alerta que entre os sinais que podem indicar a doença estão sangramento nas fezes, emagrecimento sem explicação, alteração de hábito intestinal, dor abdominal persistente e anemia.
Entenda a doença
Câncer colorretal
O câncer colorretal também é chamado de câncer de cólon e reto ou de câncer de intestino.
pode se desenvolver silenciosamente por um tempo, sem apresentar nenhum sintoma. Quando o paciente apresenta sintomas, já pode ser sinal de uma doença mais avançada, afirmam especialistas.
Causas
Os fatores de risco para a ocorrência do câncer colorretal são diversos. Para começar, todas as pessoas com mais de 50 anos têm chances aumentadas de desenvolvê-lo.
O tipo de alimentação também é determinante. Uma dieta pobre em frutas, vegetais, carnes magras e alimentos com fibras, assim como o consumo excessivo de carnes vermelhas e/ou processadas (salsichas, linguiças, presuntos), também potencializa o risco para a doença.
Além disso, existem certos comportamentos associados à sua ocorrência. É o caso do sedentarismo, do consumo regular de álcool, do tabagismo e do uso regular de medicamentos anti-inflamatórios não esteroides, como ibuprofeno, naproxeno, diclofenaco e aspirina.
Obesidade e sedentarismo também aumentam o risco.
Sinais e sintomas
Presença de sangue nas fezes;
Alternância entre diarreia e prisão de ventre;
Alteração na forma das fezes (muito finas e compridas);
Perda de peso sem causa aparente;
Sensação de fraqueza e/ou diagnóstico de anemia;
Dor ou desconforto abdominal, e presença de massa abdominal (que pode ser indicativa de tumor).
Colonoscopia
A colonoscopia possibilita identificar eventuais pólipos, os quais podem ser removidos antes de se transformarem em tumores malignos. Além disso, também permite identificar tumorações em estágios iniciais, quando as chances de cura são maiores. A recomendação é realizar o exame a partir dos 45 anos ou antes, se houver caso na família.
Colonoscopia deve ser feita a partir dos 45 anos
O câncer colorretal pode evoluir sem sintomas e, quando aparecem, já indicar estágio avançado, alertam os especialistas. Por isso, a colonoscopia, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é recomendada a partir dos 45 anos.
Se há casos na família, o exame pode ser indicado até com 10 anos a menos do que tinha o familiar ao receber o diagnóstico. O exame permite a retirada de pólipos, prevenindo o surgimento do tumor.
O cirurgião oncológico Duílio Eutrópio Netto lembra que a colonoscopia teve recentemente sua idade mínima reduzida dos 50 para os 45 anos.
“Essas políticas de rastreio são definidas através de estudos populacionais e de custos visando atingir o maior número de pessoas possíveis a partir de uma idade onde a incidência aumenta. Apesar do aumento de casos em pacientes com menos de 45 anos, a maioria dos casos de câncer colorretal acontece a partir dessa idade”.
A oncologista Juliana Alvarenga acredita que nos próximos anos a indicação de colonoscopia deve passar para 40 anos. “Passamos a indicação para 45 porque estávamos vendo casos em pessoas mais novas. Então, acredito que não vai demorar muito para que a gente comece a fazer o rastreamento aos 40 anos”.
A oncologista Kitia Perciano lembra que a pesquisa de sangue oculto nas fezes (exame de fezes) pode ser feita a cada seis meses ou um ano, auxiliando na triagem para a realização da colonoscopia.
Tratamento
O tratamento, segundo especialistas, vai depender do estágio da doença. Cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapia-alvo e imunoterapia são algumas das estratégias que podem ser utilizadas.
A cantora Preta Gil viajou aos Estados Unidos, este ano, em busca de tratamentos experimentais, com medicamentos personalizados para o tipo e estágio do câncer que enfrentava, segundo especialistas. Ela foi ao país após esgotar as opções de tratamento no Brasil.
Preta passou por operações para a retirada dos tumores e reconstrução do trato intestinal entre 2023 e 2024.
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