Ex-pastor vira conselheira de mulheres
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Em apenas três meses, uma morena de voz grave, lábios carnudos, cílios enormes, olhos azuis e brincos dourados conquistou mais de três milhões de seguidores somente no Instagram, com seus conselhos ácidos e divertidos sobre relacionamento e para fisgar um “mili” (milionário). O nome dela? Karen Kardasha, personagem criada pelo ator, cantor e dançarino paulista Renato Shippee, 32.
“Com pouco tempo, é comum que as pessoas atrelem a imagem da Karen à questão de encontrar um milionário e acho que tudo bem. Ela sempre será essa mulher que dá dicas para vencer na vida sem ter que trabalhar. E não trata disso como vergonha. Perde esse tabu! Ela mostra as coisas por um novo ângulo”, diz o criador ao AT2.
Natural de Bauru, Renato é formado em Pedagogia, atuou como pastor em uma comunidade cristã e há quatro anos vive em Hollywood, onde moram as grandes celebridades. Por lá, participou de clipes de nomes como Camila Cabello e fez aparições na série “The Assassination of Gianni Versace” e no filme de Lady Gaga. Após tantos trabalhos, ele acredita que 2021 é o ano para se dedicar à Karen.
“Sempre tive vontade de ir para essa área artística, mas nunca imaginei que fosse trabalhar com isso. Sou de família humilde. Aos 16 anos, estava fazendo curso profissionalizante para ganhar dinheiro e ajudar minha mãe, o que me fez perder o foco artístico. Para mim, a Karen é uma exposição do meu trabalho e uma diversão”, conta.
“Discurso dela é que você merece mais”
AT2 Como a Karen nasceu?
Renato Shippee Decidi gravar um vídeo de maquiagem, me transformando no Michael Jackson, e tive que fazer a barba para filmar. E tinha um ano que não fazia. Pensei: “Bom, sem barba, como farei story?”. Porque fica muito diferente. Então, resolvi pegar um filtro da internet e vi um parecido com o da Karen, que achei lindo.
Fiz stories, brincando, dizendo: “Estou me sentindo essas mulheres ricas que, durante a pandemia, mandou todos os funcionários embora”. E pessoas que não conversava há tempos mandaram mensagem dizendo que acharam engraçado. Decidi, então, começar a responder perguntas e ela não tinha nem nome ainda. Mas percebi também que estava perdendo seguidores, por termos públicos diferentes. Aí, criei um perfil para ela.
Por que esse nome?
Karen é uma forma pejorativa que os americanos utilizam para chamar mulheres que são brancas e preconceituosas. E, como a personagem é meio soberba e, no começo, era muito mais irônica, decidi usar esse termo. Como só Karen já existia no Instagram, tive que criar um sobrenome e foi quando pensei no Kardasha. Pensei: “Ela é rica, bonita e mora em Los Angeles, assim como as Kardashians. Então, vou zoar o nome”.
Você e Karen são parecidos?
Acho que ela é mais alter ego do que personagem. Porque eu não fico pensando numa história pra ela, respondo o que vem à cabeça. Acredito que, em algum lugar em mim, a Karen existe. Acho que, por isso, ela se torna real para as pessoas. Com muitas coisas que a Karen fala, eu concordo ou já vivi.
Sempre foi conselheiro?
Sempre! Nunca falei tão abertamente como a Karen fala, mas as ideias eram as mesmas, de que você tem que procurar alguém que te valorize. Com o sucesso da Karen, acho que muitos reviram seus conceitos sobre mim. As pessoas não confiam muito no conselho quando estão perto de você. E, quando veem os conselhos sendo seguidos, acho que faz elas pensarem: “Poxa, ela estava do meu lado dando conselho e eu não ouvi”.
Você se inspirou em alguém para criar a Karen?
O Walter Mercado é uma pessoa que admiro muito. Ele começou do nada e até o fim da vida foi conhecido pelo que fazia. Queria, desde o início, que ela fosse pioneira em algo. E tem acontecido. É você falar de casar com homem milionário que as pessoas automaticamente falam da Karen. (Risos)
A ideia sempre foi dar dicas para arrumar um milionário?
As pessoas foram levando a isso. No início, a Karen não falava tanto disso. Ela nunca teve nenhuma intenção. Tudo é muito orgânico.
Tem gente que ainda está em busca de um amor?
Tem gente que acredita e busca, mas o que a Karen diz é que essa não é a escolha certa. Como você vai saber se é amor, se é algo muito abstrato? A Karen fala que, em vez de procurar amor, uma sensação, você tem que procurar qualidades que provem que aquilo é amor.
Quais são as dicas para achar o homem certo?
Primeiramente, definir seus objetivos. O que a pessoa tem que ter, a idade... Isso é importante porque você diminui a chance de errar. Hoje, o único critério é ser homem e respirar. Acontece muito. E a Karen luta contra isso. O discurso dela é que você merece mais. Então, é não esquecer dos sete dígitos na conta e falar abertamente o que está querendo. (Risos)
Muitos homens se sentem ameaçados com seus conselhos.
Sim, porque, de certa forma, a Karen está falando mal deles. Se eles estão se doendo, é porque se reconhecem no que ela fala.
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