Formação superior à distância: "Desafio é equilibrar qualidade e inclusão"
Novo marco do EAD busca mais qualidade, mas pode limitar acesso ao ensino superior e encarecer mensalidades, alertam especialistas
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“O grande desafio das políticas públicas ligadas a educação a distância (EAD) é equilibrar qualidade e inclusão. Teremos que acompanhar de perto os efeitos do novo marco, para avaliar se ele de fato contribui para uma educação superior mais qualificada sem comprometer o acesso de milhões de brasileiros”.
Essa é a análise feita pelo presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), João Mattar.

Para ele, a intenção declarada do novo marco regulatório foi melhorar a qualidade dos cursos, o que é sempre bem-vindo.
“No entanto, a maior exigência de presencialidade deve reduzir o número de alunos que conseguirão ingressar no ensino superior, especialmente nas regiões mais afastadas ou entre aqueles que dependem da flexibilidade da EAD”, complementa.
Além disso, segundo ele, as novas exigências para infraestrutura de polos, tecnologias e avaliação podem gerar aumento nas mensalidades.
Já a diretora de Regulação da Estácio, Ivana Rodrigues, avalia que o novo marco regulatório para o EAD é bem positivo.
Ela destaca que ele incorpora evoluções que aconteceram da pandemia para cá, além de criar definições e critérios mais claros para o setor.
Ivana Rodrigues enfatiza ainda que a modalidade EAD cresceu muito nos últimos 20 anos, por ser uma resposta muito efetiva, muito inclusiva à realidade do País. No entanto, com esse crescimento, a oferta se tornou muito heterogênea.
“O novo marco estabelece critérios que minimizam um pouco essa variação de formatos e modelos, buscando o que adiciona qualidade acadêmica para os alunos.”
Entre os principais avanços citados por ela estão definições mais precisas para as atividades acadêmicas, a introdução do formato de oferta semipresencial, incorporando os avanços do hibridismo, e normas atualizadas para a atuação dos educadores, avaliações e polos.
“As instituições que já vinham trabalhando em busca de qualidade, pensando na experiência acadêmica dos alunos, vão ter muito espaço para trabalhar sob essa nova normatização.”
Engenharia Civil
Foco na qualificação
A técnica de Segurança do Trabalho Hedalyn Borges Machado, 38 anos, sabe que o mercado está mais exigente e valoriza profissionais qualificados. Ela decidiu investir nos estudos e, desde 2023, cursa Engenharia Civil na modalidade educação a distância (EAD) — escolha que teve como principal motivação a flexibilidade.
“Trabalho muito, sou mãe e também preciso de momentos de lazer. Vi no ensino a distância uma forma de realizar o meu sonho de conquistar uma graduação. Claro que é preciso foco e disciplina. Com as novas regras, talvez algumas pessoas desistam. Eu não vou desistir, mas confesso: se fosse para começar agora, não faria um curso que não pudesse ser feito a distância — embora reconheça a importância do ensino presencial.”
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