Saldanha deve recusar oferta de R$ 92 milhões por sede do clube
Assembleia do clube no Forte São João terminou sem decisão sobre venda de terreno a igreja. Proposta teria de ser formalizada

A assembleia extraordinária realizada na terça-feira (10) para decidir pela venda ou não do terreno de 11 mil metros quadrados do Clube de Regatas Saldanha da Gama, no Forte São João, em Vitória, para uma igreja de Belo Horizonte terminou sem definição. E a tendência é que seja recusada, afirmou o presidente do clube, Marcos Hilário Perini.
Os sócios preferiram não votar a proposta de compra, por R$ 92 milhões, com a justificativa de que ela foi realizada de maneira “oficiosa”, ou seja, não foi devidamente documentada.
Agora, a proposta pode nem voltar a ser votada. “Já pedi ao corretor (da igreja) para enviar uma proposta oficial. Mas há 80% de chance de a área (do Saldanha) não ser vendida. O clima na assembleia estava bastante tenso. Já indiquei outras duas áreas para a igreja, que não fazem parte do clube”, disse Perini.
O local é onde funciona o clube, de fato, desde a transferência da sede social para o governo do Estado — o Forte São João, estrutura tombada pela Prefeitura de Vitória, onde funciona a Casa do Turismo e um bistrô.
O ginásio, um terreno ao lado dele, onde funciona uma escolinha de basquete, e os galpões que funcionam como garagem dos barcos e onde há o treinamento de jovens para a modalidade são os espaços que fazem parte da proposta, segundo Perini.
Para o presidente do Sindicato dos Corretores Imobiliários do Estado (Sindimóveis-ES), Erivelton Moreira, o valor do metro quadrado para a área é de R$ 10 mil, o que chegaria a um valor de R$ 110 milhões para o terreno.
“É uma área histórica da cidade. É preciso levar em consideração também a revitalização da Beira-Mar, os novos empreendimentos imobiliários e os prédios públicos entregues. Acredito que não seria o momento para vender, já que pode ter valorização de 30% em quatro anos”, afirma.
A área onde fica o clube possui restrições de ocupação estabelecidas pelo Plano Diretor Urbano (PDU), segundo a Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação. As construções nesse trecho, pela legislação, devem observar limites de altura, que variam entre 4,5m e 13,5m.
Caso a venda do local se concretize, o presidente do clube planeja utilizar o recurso para viabilizar três sedes: a social, a náutica e a campestre.
A náutica ficaria alocada em um espaço próximo ao Ginásio Tancredão, confirma o presidente. “A social, depende da definição dos sócios”, diz.
Clube avalia compra de área na Serra para sede campestre

Um terreno de 40 mil m na Serra, próximo ao Steffen Centro de Eventos, em Jardim Limoeiro, é o local onde o Clube de Regatas Saldanha da Gama planeja instalar sua sede campestre, caso a proposta de venda seja acatada pelos sócios em uma nova votação.
Esse projeto, porém, ficará paralisado até que uma nova assembleia seja convocada, afirma o presidente do clube, Márcos Hilário Perini.
O terreno, de acordo com Perini, é avaliado em R$ 9 milhões e seria uma das três estruturas pensadas para uma espécie de ressurgimento do clube.
Hilário relata uma impossibilidade financeira e o desinteresse de empresários para investir no clube para manter a área como um complexo esportivo.
“Uma reforma no espaço no Forte São João seria de, no mínimo, R$ 10 milhões. Mas ninguém tem interesse nisso hoje em dia. Se não vender, o clube vai morrer assim”, afirmou ao ser questionado sobre o destino da área.
Associação vai pedir “tombamento” à prefeitura
A importância cultural e histórica dos galpões e do ginásio do Clube de Regatas Saldanha da Gama vai levar a Associação de Moradores do Centro de Vitória (Amacentro) a solicitar o tombamento dessas estruturas.
A ideia é que essas áreas sejam preservadas como locais para o desenvolvimento do esporte capixaba, afirma o presidente da Amacentro, Walace Bonicenha, que também é historiador.
“O local está para a cultura assim como o Teatro Carlos Gomes. Assim, também, como a Catedral de Vitória está para a religiosidade. É um santuário capixaba”, afirma.
O Saldanha é o segundo clube de remo fundado no Estado, logo após o Álvares Cabral — ambos no século XX.
“Tem peças (no ginásio) de 1800, além de suor e sangue capixabas. Nossa identidade vem da baía, do remo, da natação. Se a gente acaba com isso, acabamos com a nossa identidade”, diz.
Entenda

História do clube
O Saldanha da Gama foi fundado em 29 de julho de 1902, recebendo o nome do Almirante Luís Filipe de Saldanha da Gama, nascido em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, em abril de 1846.
Nasceu como clube voltado para a prática do remo, tendo vencido o Campeonato Brasileiro de Remo Sênior e o Campeonato Brasileiro de Remo Junior, em 1998; a Copa Norte-Nordeste de Remo, em 1995, 1998, 2000, 2010 e 2011; e o Campeonato Capixaba de Remo por 47 vezes, entre 1903 e 2015.
Também foi campeão da Maratona de Remo de Vitória, em 2008 e 2014, e da Prova Clássica Estados Unidos do Brasil de Remo, ocorrida no Rio de Janeiro em 1933.
Basquete
O clube jogou as duas primeiras edições do Novo Basquete Brasil (NBB), competição organizada pela Liga Nacional de Basquete.
As vitórias foram nas temporadas 2008–2009 e 2009–2010. Mas em 2010–2011, o clube não conseguiu reunir condições financeiras para disputar o torneio e cedeu a vaga para o CECRE-Vitória.
Forte
O Forte São João foi edificado no período colonial para proteger a cidade dos invasores, e teve um papel imprescindível para a defesa da Capitania do Espírito Santo.
Depois de 8 décadas e de muitas batalhas em defesa do território, o forte foi desativado e a edificação e seu entorno vendidas, com a área vindo a se chamar Chácara do Bispo.
Em 1931, o Clube de Regatas Saldanha da Gama comprou a antiga edificação do Forte São João.
A partir da década de 1920, o Clube passou a investir em festas, concursos e eventos que animavam a elite capixaba, ficando conhecido como “o melhor clube do Estado”.
Passou por muitos reparos e reformas até 1984, quando se tornou imóvel tombado pelo município, sendo sua muralha tombada em nível estadual.
Hoje, o local abriga a Casa do Turismo e um bistrô, sob responsabilidade da Secretaria de Turismo do Estado.
Ginásio
Ginásio Wilson Freitas é o nome oficial do ginásio do Saldanha da Gama, dado em homenagem ao esportista considerado o mais brilhante da história do clube.
O atleta levou a tradição do Saldanha para fora do Espírito Santo e seu túmulo foi decorado com a escultura de um barco de remo.
O espaço também serviu para local de treinamentos do atleta de basquete Anderson Varejão, que foi revelado pelo clube.
O ex-jogador brasileiro é um dos maiores nomes do basquete nacional e atualmente é embaixador global e consultor de desenvolvimento de atletas do Cleveland Cavaliers, equipe norte-americana.
Fontes: Wikipédia e IBGE.
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