Prejuízo do ES com tarifaço de Trump pode chegar a R$ 605 milhões
Indústria e o agro serão os mais afetados se a taxação entrar em vigor, com redução de 0,25% no valor total da economia capixaba
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A tarifa estabelecida contra o Brasil pelo governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, deve provocar prejuízo de R$ 605 milhões em um ano no Produto Interno Bruto (PIB) capixaba, segundo pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O montante equivale a uma queda de 0,25% no PIB, valor que representa a soma das riquezas produzidas no Estado. Os dados foram apresentados pelo Instituto Jones Santos Neves (IJSN), autarquia de pesquisa do governo estadual.
Os setores industriais e agropecuários serão os mais afetados pelas medidas tarifárias caso ela prevaleça até o ano que vem. No Espírito Santo, as produções de café, gengibre e pimenta-do-reino, por exemplo, são as principais exportadas ao país norte-americano.
No ramo da produção industrial, o aço, o mármore, o granito, a celulose e o petróleo são as atividades que já estão sentindo os efeitos da tarifa de 50%, que passará a ser aplicada a partir de 1º de agosto, detalha o diretor-presidente do IJSN, Pablo Lira.
“Setores que a gente tem uma conexão muito forte com o mercado norte-americano”, disse.
Lira aponta, porém, que os dados demonstram que a própria economia norte-americana não vai ser poupada pela tarifa imposta por Trump às empresas nacionais.
“(Ela) vai ser impactada também e é importante a gente ter muita cautela, muita prudência. Foi uma decisão arbitrária do presidente Trump. A gente tem que se colocar agora numa mesa de negociação com muita sensatez, buscar o caminho mais adequado, porque gera impacto negativo (também) para os Estados Unidos”, explica, afirmando que a queda do PIB no país vai ser até maior do que no Brasil.
Embora haja prejuízo, o Espírito Santo não será o estado mais afetado no País. No ranking de queda em termos absolutos estão São Paulo (-4,4 bilhões), Rio Grande do Sul (R$ -1,9 bilhão), Paraná (R$ -1,9 bilhão), Santa Catarina (R$-1,74 bilhão) e Minas Gerais (R$-1,66 bilhão).
“Seríamos o décimo primeiro estado mais impactado em valores absolutos do PIB e o sétimo em valores percentuais. Lembrando que o Espírito Santo é um dos estados com maior grau de abertura econômica, muito conectado com o mercado exterior”, finalizou.
Micro e pequenas empresas podem ser as mais afetadas
Micro e pequenas empresas, que já enfrentam um ambiente econômico desafiador, correm o risco de serem as mais impactadas por essa nova barreira comercial.
Para Daniel Carvalho, coordenador dos cursos de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Universidade Vila Velha (UVV), essas empresas serão as mais prejudicadas. “Elas não têm margem de lucro suficiente para absorver aumentos de custo e, ao mesmo tempo, não conseguem repassar esse valor ao consumidor final sem perder competitividade”.
Segundo ele, o cenário, que já é desafiador por conta da inflação, da desvalorização do real e da escassez de dólares, pode se agravar significativamente com as novas tarifas. Ele ressalta que embora exista a percepção de que a exportação brasileira é dominada por grandes empresas, a maioria das exportadoras — tanto no Brasil quanto no mundo — é composta por pequenos e médios negócios.
Presidente da Federação das Associações de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do Espírito Santo (Femicro-ES), José Vargas, não esconde a preocupação com o impacto negativo que a taxação pode gerar, incluindo possíveis fechamentos de empresas, desemprego e queda na renda.
“Há uma expectativa muito grande de que essa taxação atinja 'com força' os pequenos empreendedores, a exemplo de suprimentos e agricultura familiar”.
Governo federal avalia criar crédito emergencial
O “plano de contingência” contra o tarifaço de Donald Trump, mencionado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pode incluir a criação de linhas emergenciais de crédito por parte do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com auxiliares do petista.
Para integrantes do governo, é preciso garantir um financiamento emergencial de alguns setores, especialmente aqueles mais atingidos pelas tarifas de 50% contra produtos brasileiros. O entendimento é de ser difícil direcionar toda a exportação, diante do volume, ou introduzi-la no mercado interno.
Na segunda-feira (21), o ministro declarou que o governo trabalha com a possibilidade de a sobretaxa sobre todos os produtos brasileiro entrar mesmo em vigor no dia 1º de agosto. Por essa razão, já existem planos de contingência para esse cenário.
Já no Chile, Lula afirmou que os “inimigos da democracia” utilizam o comércio como instrumento de “coerção e chantagem” ao invés da diplomacia de “tanques e canhoeiras”.
“Os inimigos da democracia não recorrem mais à diplomacia dos tanques e das canhoeiras, eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo, promovem uma verdadeira guerra cultural e utilizam o comércio como instrumento de coerção e chantagem, ataque às instituições, à ciência e à universidade”, afirmou o Presidente da República.
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