Guerra comercial: risco de demissões no ES com a taxação sobre o aço
Especialistas apontam cenário pessimista para o Estado, após decreto de Trump impor tarifa de 25% para importação de aço e alumínio
Escute essa reportagem
![Imagem ilustrativa da imagem Guerra comercial: risco de demissões no ES com a taxação sobre o aço](https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/220000/1200x720/Guerra-comercial-risco-de-demissoes-no-ES-com-a-ta0022972100202502121344-2.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn2.tribunaonline.com.br%2Fimg%2Finline%2F220000%2FGuerra-comercial-risco-de-demissoes-no-ES-com-a-ta0022972100202502121344.jpg%3Fxid%3D1027338%26resize%3D1000%252C500%26t%3D1739378652&xid=1027338)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou ontem um decreto que impõe tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio para o país.
Especialistas consultados por A Tribuna avaliam que há risco de retração de investimentos e demissões no Brasil e no Espírito Santo, onde está uma das unidades da ArcelorMittal – uma das maiores siderúrgicas do mundo.
A taxação proposta por Trump busca pressionar parceiros comerciais e ainda negociar condições mais vantajosas para os EUA.
Cerca de 25% do aço usado nos EUA é importado, e o Brasil foi, no ano passado, o segundo maior fornecedor do produto ao país norte-americano, atrás apenas do Canadá, comercializando 3,98 milhões de toneladas (16,3% do consumido no país), segundo dados de novembro de 2023 a novembro de 2024.
Segundo o economista Eduardo Araújo, os EUA absorvem, historicamente, cerca de 54% das exportações brasileiras de aço. “Trump repete uma medida que já havia feito em seu primeiro mandato (2017-2021). Na época, houve queda acentuada nas vendas para o mercado norte-americano e desaceleração na atividade de siderúrgicas”.
Araújo acrescenta que a taxa não afeta apenas a produção, mas cria um “efeito dominó”: fornecedores de insumos, serviços logísticos e demais setores correlatos sofrem redução no volume de negócios, pressionando a capacidade de contratação e, por fim, contribuindo para a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) regional.
Para o economista Heldo Siqueira Júnior, o setor terá de fazer ajustes e redirecionar parte da produção atual para outros países. “Isso pode afetar a escala de trabalho das empresas, o que pode também resultar em demissões”, afirma.
O sócio e chefe do Private Offshore da Nomos, Rodolpho Damasco, avalia que é essencial que a indústria nacional continue investindo em competitividade e diversificação de mercados, para reduzir sua dependência dos EUA e evitar ser refém de medidas protecionistas que podem mudar a qualquer momento.
Damasco diz que o governo brasileiro precisa agir logo, como fez no passado, buscando novo acordo que minimize os impactos dessas tarifas. “A experiência de 2018 mostrou que negociações podem resultar em condições menos desfavoráveis”.
Produto pode ficar mais barato, dizem especialistas
Mestre em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas e professor do Centro Universitário do Espírito Santo (Unesc), Jorge Luiz D'Ambrósio considera que há a possibilidade de o aço ficar mais barato para o mercado interno brasileiro, um dos mais afetados pela sobretaxa.
“A taxação poderá ter esse efeito colateral, porque, com a redução das exportações, o produto estará mais acessível ao mercado interno”.
O consultor empresarial da DVF Consultoria, Durval de Freitas, explica que parte das empresas que atuam no Estado no setor tem realizado investimentos voltados para o consumo interno, o que pode reduzir o impacto de uma eventual medida do governo norte-americano.
“O impacto talvez não seja tão sentido, mas é preciso esperar para entender que tipo de produto será taxado: será o semiacabado? O acabado? Não está claro até o momento”, afirma.
Analista de risco político e coordenador dos cursos de Relações Internacionais e Comércio Exterior da UVV, Daniel Carvalho vê o mercado nacional como atraente diante da taxação norte-americana. “A construção civil poderia ser beneficiada, por exemplo”.
Procurada, a Federação das Indústrias do Estado (Findes) informou que não iria se manifestar sobre o tema, porque a medida norte-americana, até então, não havia sido anunciada oficialmente.
Três empresas entre as mais afetadas
As tarifas impostas pelo governo Trump podem afetar grande parte das vendas das siderúrgicas brasileiras. De acordo com analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, as empresas mais afetadas devem ser a Ternium e a Usiminas, que exportam grande fatia de suas produções de aço para os EUA.
A primeira é a controladora da segunda, mas tem uma fábrica própria de placas de aço no Brasil, onde tem capacidade de produzir até 5 milhões de toneladas anualmente no Rio de Janeiro.
Já a ArcelorMittal, outra empresa que poderá ser afetada, não divulga quanto de sua produção brasileira vai para os EUA, mas, segundo relatório anual, em 2023 a empresa produziu 14 milhões de toneladas de aço no país.
Saiba mais
Promessa de tarifação
A guerra comercial prometida pelo presidente Donald Trump desde seu retorno à Casa Branca entrou em uma nova fase, com a introdução de tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio importados pelos EUA.
A tarifação complica mais esse mercado estratégico para muitos setores, já desestabilizado pelo excesso de produção chinesa e pelas dificuldades dos produtores europeus.
Superprodução chinesa
A economia do aço, cíclica por 50 anos, agora enfrenta um problema “estrutural” de superprodução, afirmam os especialistas. A China reduziu drasticamente seu consumo, em parte devido à paralisação de seus enormes projetos de construção.
Além disso, suspeita-se que o gigante asiático subsidie sua produção de forma mais ou menos direta, o que reduz os preços, colocando sob pressão as tradicionais empresas europeias e americanas.
A US Steel, que está passando por um período difícil, foi objeto de uma tentativa de aquisição pela Nippon Steel, bloqueada por Joe Biden e depois por Donald Trump. A empresa alemã ThyssenKrupp anunciou cortes de milhares de empregos.
Carvão metalúrgico
A imposição de uma sobretaxa sobre as importações de aço pelos Estados Unidos deve ter como efeito colateral a redução do carvão metalúrgico comprado pelo Brasil dos próprios americanos.
O Brasil é um dos principais compradores desse insumo dos EUA. Ele é utilizado para produzir boa parte do aço que, posteriormente, é vendido para os americanos.
O argumento de que o aumento das tarifas sobre aço prejudica os produtores americanos de carvão siderúrgico foi usado quando Trump, então em seu primeiro mandato, estabeleceu uma sobretaxa de 25% sobre a importação de aço em seu país.
O carvão metalúrgico, conhecido como carvão coqueificável, é um combustível essencial para o processo de produção de aço realizado pelos altos-fornos das siderúrgicas. O Brasil tem uma produção ínfima desse material e importa a maior parte do que é consumido no país.
Fonte: pesquisa A Tribuna e Folhapress.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
![Brasil é o 2º maior exportador de aço para os EUA: taxação afeta produção e atinge fornecedores de insumos, serviços logísticos e outros setores da cadeia](https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/Artigo-Destaque/220000/382x285/Receita-Federal-fara-leilao-de-veiculos-a-partir-d0022969500202502121051/ProportionalFillBackground-2.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn2.tribunaonline.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F220000%2FReceita-Federal-fara-leilao-de-veiculos-a-partir-d0022969500202502121051.jpg%3Fxid%3D1027227&xid=1027227)
![Brasil é o 2º maior exportador de aço para os EUA: taxação afeta produção e atinge fornecedores de insumos, serviços logísticos e outros setores da cadeia](https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/Artigo-Destaque/220000/382x285/Venda-de-10-mil-pes-de-alface-por-mes0022948900202502101632/ProportionalFillBackground-2.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn2.tribunaonline.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F220000%2FVenda-de-10-mil-pes-de-alface-por-mes0022948900202502101632.jpg%3Fxid%3D1025938&xid=1025938)
![Brasil é o 2º maior exportador de aço para os EUA: taxação afeta produção e atinge fornecedores de insumos, serviços logísticos e outros setores da cadeia](https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/220000/382x285/Baia-de-Vitoria-tem-20-ilhas-liberadas-para-visita0022949400202502101703/ProportionalFillBackground-2.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn2.tribunaonline.com.br%2Fimg%2Finline%2F220000%2FBaia-de-Vitoria-tem-20-ilhas-liberadas-para-visita0022949400202502101703.jpg%3Fxid%3D1025971&xid=1025971)
![Brasil é o 2º maior exportador de aço para os EUA: taxação afeta produção e atinge fornecedores de insumos, serviços logísticos e outros setores da cadeia](https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/Artigo-Destaque/200000/382x285/Governo-espera-grande-anuncio-da-ArcelorMittal-no-0020766400202411091113/ProportionalFillBackground-2.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn2.tribunaonline.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F200000%2FGoverno-espera-grande-anuncio-da-ArcelorMittal-no-0020766400202411091113.jpg%3Fxid%3D1026886&xid=1026886)
Comentários