Filhos e netos têm ajuda de 224 mil aposentados no Estado
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“Qual é o pai ou a mãe que vai negar ajuda a um filho?” A pergunta foi feita por aposentados que estão sustentando os filhos, que perderam o emprego durante a pandemia, e os netos. Eles afirmam que o dinheiro é pouco, mas que não podem abandonar a família.
O presidente do Sindicato dos Aposentados no Estado, Jânio Araújo, explica que, no Espírito Santo, há cerca de 560 mil aposentados. “Desses, 40% voltaram a ser os principais provedores das famílias. São 224 mil famílias nas quais os filhos e netos voltaram a ser sustentados pelos idosos”.
Ele destacou que, no primeiro momento, os pais abrem os braços para abrigar, mas era para ser algo temporário. “Alguns filhos colocam a culpa na pandemia, se acomodam e vão ficando, ficando. Em alguns casos, está faltando bom senso por parte dos filhos. Em outros, é o reflexo do desemprego”, diferenciou.
Ele explicou que, do total, 70% dos aposentados recebem um salário mínimo (R$ 1.100). “A aposentadoria, na maioria das vezes , não dá nem para o sustento próprio do beneficiário, que envolve remédio, alimentação e moradia”.
A educadora financeira Herica Gomes destacou que é muito complicado para quem ganha um salário mínimo ajudar, principalmente quando o filho já constituiu família e também tem dependentes.
Ela lembrou que o filho não está desempregado porque quer e que o acolhimento deve ser feito de forma a fugir das dívidas, levando em consideração alguns pontos.
“Quais são as minhas atuais despesas sem esse filho? Qual vai ser a despesa quando eu acolher o meu filho e neto?”
Herica explicou que não dá para sustentar o filho e deixá-lo em casa de braços cruzados. “Ele precisa buscar uma alternativa até se recolocar no mercado”. E detalhou que ele deve avaliar o que pode fazer para contribuir, seja vendendo algo que sabe fazer ou oferecendo um serviço, por exemplo.
Adriano Sant'Anna Pedra, professor de Direito da FDV, explicou que a Constituição determina o contrário do que vem acontecendo. “Os filhos maiores têm o dever de cuidar dos pais na velhice”.
Mas destacou que, “às vezes, esse acolhimento dos filhos é uma questão humanitária”.
Apoio da família

Um aposentado de 78 anos, que trabalha desde os 10, contou que está pagando condomínio, luz, compras e despesas médicas de duas filhas, que ficaram desempregadas na pandemia. Uma de 50 e outra de 48 anos, cada uma delas tem um filho.
“Elas perderam o emprego na pandemia. Ficaram em casa, tiveram o salário reduzido e depois foram demitidas. Por enquanto vou mantendo, com muito sacrifício. Coloco tudo na planilha. Elas também vão fazendo bicos”.
“Bico” para aumentar renda
Como a maioria dos aposentados recebe um salário mínimo (R$ 1.100), muitos estão buscando fazer “bicos” para complementar a renda. Com o retorno de filhos e netos para casa, essa necessidade se torna ainda maior.

O presidente do Sindicato dos Aposentados, Jânio Araújo, contou que eles buscam atividades informais, como fazer marmitas, salgados e pizza. “Atividades que podem fazer em casa, para os clientes buscarem”.
A educadora financeira Herica Gomes destacou que também surgem algumas parcerias.
“É o idoso que borda e abre mão da renda para os filhos venderem o artesanato e poderem contribuir com a casa”, exemplificou.
Ela frisou: “Não é só colocar a responsabilidade sobre o idoso que está oferecendo ajuda. É entender que a responsabilidade é de todo mundo”.
Além disso, ela destacou que é necessário fazer cortes nas despesas, mesmo que sejam radicais.
E o principal, não desistir de procurar emprego. “Cuidado com pensamento e palavras. Tudo que a gente obtém de resultado na nossa vida começou com um simples pensamento. Não dá para a gente ficar só pensando no negativo. É preciso colocar a cabeça em ordem”.
Especialistas apontam que, para se recolocar no mercado, é preciso perder a vergonha e dizer para o máximo de pessoas possível que está em busca de uma vaga.
Saiba mais
Números
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No Espírito Santo há cerca de 560 mil aposentados e um total de 40% deles (224 mil) estão sustentando filhos e netos.
Como funciona
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Em alguns casos, os filhos desempregados voltam para a casa dos pais, trazendo consigo os netos. Em outros, os aposentados custeiam a despesa dos filhos e netos, onde eles moram.
O que diz a lei
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Se o filho é maior de 24 anos de idade, esses pais idosos não tem nenhuma obrigação jurídica de sustentá-lo. A Constituição Federal determina que os pais devem cuidar dos filhos menores de 24 anos. E os filhos maiores têm o dever de cuidar dos pais na velhice.
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Mas, dependendo da situação dos filhos, é uma questão humanitária recebê-los, de acordo com a avaliação de especialistas.
Bom senso
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Na relação entre pais e filhos é preciso bom senso. Em alguns momentos o acolhimento dos filhos pode ser uma necessidade, mas é preciso ficar atento para não se aproveitar da boa vontade dos pais.
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Estar desempregado não significa estar sem trabalho. Os filhos mesmo desempregados, devem buscar uma forma de contribuir com as despesas da casa, seja fazendo bicos, vendendo produtos ou serviços.
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Além disso, é importante ficar atento em relação ao que os pais estão abrindo mão para ajudá-los. É importante sempre pensar em como é possível contribuir de alguma forma, mesmo que não seja com dinheiro.

Para se recolocar no mercado de trabalho:
Buscar sempre
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A busca pelo emprego não deve parar. A sociedade trata o emprego como uma importante parte da identidade do indivíduo. Mas o desempregado não pode deixar a demissão afetar a sua autoestima.
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O país atravessa um período de crise e o valor das pessoas não está em ter ou não emprego.
Acione contatos
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É essencial avisar os amigos, parentes e conhecidos que está em busca de uma oportunidade de emprego.
Corte de gastos
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Ao voltar para a casa dos pais aposentados ou a depender dos mesmos, é importante fazer um planejamento financeiro e cortar gastos. Mesmo sem conseguir se recolocar no mercado, é preciso buscar uma alternativa para ganhar dinheiro, seja vender bolo, doce ou algo que saiba fazer ou prestar algum serviço, por exemplo. Mas é importante sempre se manter ativo na procura por uma vaga de emprego.
Use as redes sociais
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Interagir nas redes sociais é uma forma de ser lembrado. Mas a interação deve ser de qualidade, mostrando, por exemplo, o que está fazendo para se aprimorar, como cursos e leituras. Também é importante manter o LinkedIn atualizado.
Busque vagas
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Se cadastrar em sites de recrutamento, ficar atento às matérias dos jornais com novas oportunidades e observar as redes sociais das empresas vale a pena.
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Personalize o currículo
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O currículo deve ser feito voltado para os pré-requisitos de cada vaga.
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Se não sabe fazer um currículo adequado, procure ajuda, pesquise.
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Ele deve pontuar os diferenciais e como eles ajudaram nas organizações onde trabalhou anteriormente.
Escolha a vaga
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É importante saber em qual área deseja e tem condições de atuar e ter foco.
Novas habilidades
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Durante toda a vida e também quando está desempregado, o profissional precisa desenvolver novas habilidades.
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Uma boa alternativa é procurar anúncios com as vagas que gostaria de ocupar, ver quais são as habilidades requeridas e trabalhar para desenvolvê-las.
Seleção a distância
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Esteja pronto para a seleção presencial e a distância. Saiba utilizar ferramentas como Microsoft Teams, Zoom e outras.
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Além disso, é preciso ficar atento a tudo o que está sendo observado pelo recrutador: expressões faciais, o gestual, a vestimenta, maquiagem, postura, organização do espaço, iluminação até a capacidade de ouvir.
Saúde mental
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O desemprego deixa muita gente com a autoestima baixa. É preciso driblar esse sentimento e buscar atividades que contribuam para a manutenção da saúde mental, como exercícios físicos e uma rotina.
Não desista!
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Se não está dando certo, revise o currículo e envie para mais empresas.
Fonte: Herica Gomes, Adriano Pedra, Jânio Araújo, pesquisa AT.
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