Figurinha em rede social é assinatura?
Os emojis usados em conversas nas redes sociais já têm peso oficial no entendimento de juízes estrangeiros. No País, há divergências sobre validade
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Parece que a interpretação de emojis em mensagens de internet logo se tornará mais uma tarefa para advogados, promotores e juízes. No País, as figuras já foram prova em casos de assédio sexual, injúria racial e ameaça de morte.
Alexandre Andretta, juiz de Direito Civil, afirma que as figuras passam um recado. “Um emoji nada mais é que um pictograma ou ideograma que transmite a ideia de uma palavra”.
O magistrado explica que a imagem suplementa e enfatiza o que está escrito, mas, geralmente, demanda contexto para estabelecer seu sentido.
Uma decisão no Canadá levanta a questão se aqui o uso do emoji pode alcançar outro nível. Por exemplo, em caso de contrato, o símbolo de “joinha” pode valer como uma resposta afirmativa?
Tudo começou quando um agricultor fez um acordo com um comprador de linho e respondeu a uma mensagem sobre o contrato usando o conhecido emoji do polegar para cima, um símbolo de concordância.
Os envolvidos no negócio tiveram interpretações diferentes do caso e levaram o assunto à Justiça. O juiz considerou que a Justiça precisa se adaptar aos novos métodos de comunicação da sociedade e condenou o agricultor a pagar uma indenização de milhares de euros.
Se esse entendimento chegar ao Brasil, o que pode mudar nas relações digitais? Todo emoji de joinha vai valer para firmar contratos? Haverá uma regra ou será avaliado caso a caso? O advogado Eduardo Sarlo, especialista em Direito Civil, explica o que pode acontecer.
“Penso que não pode ser uma regra geral, pois o emoji de joinha significa aprovação ou elogio, assim sempre vai depender do contexto que o aceite estiver proposto, de modo que, no caso em análise”, diz, concluindo que essa premissa não pode ser a regra.
“Em um Estado de Direito não pode ser a geral e nem tampouco a regra, já que para tanto temos a assinatura contratual como chancela legal de qualquer contrato”, afirma.
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Por isso, ele explica que a celebração com assinatura ainda é a forma oficial e segura de fechar acordos.
Para ele, os riscos exigem mais cautela com as transações virtuais. “Deve-se fazer por meio de contrato justo, com cláusulas e norteado pelas esferas do Direito”.
Portanto, a orientação é lembrar que qualquer acordo ou contrato deve se fazer por meio da ritualística formal, seguindo os preceitos da lei e sempre acompanhado de um advogado.
ENTENDA
Emoji versus Justiça
> As centenas de símbolos de teclados de telefones celulares e de aplicativos passaram a fazer parte do dia a dia das pessoas.
> Para além da interpretação de consentir, tribunais do País já analisavam o uso dos emojis nos casos de acusações formais de assédio sexual, injúria racial e até ameaça de morte.
> Um magistrado brasileiro define um emoji como “um pictograma ou ideograma que nada mais é do que uma imagem que transmite a ideia de uma palavra”.
> O que faz com que a imagem suplemente ou enfatize o que está escrito, mas, geralmente demanda contexto para estabelecer seu sentido.
Legislação do País
> Ainda não existe no Brasil uma jurisprudência sobre o valor do emoji, uma tecnologia de linguagem, como prova irrefutável num processo judicial.
> Por isso, todas as decisões levam em consideração as interpretações individuais de magistrados sobre a adequação moral de seu uso.
> Se houvesse regulação, caberia ao Código Civil brasileiro.
> Porém, ainda não tem nenhuma lei ou diretriz legal que considere o uso de um emoji por si só como um ato ilícito que atente contra a dignidade de uma pessoa, por exemplo.
Fonte: pesquisa AT e Bruno Pascal, advogado especialista em responsabilidade civil.
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