Falta de dinheiro deixa 1.500 sem ter onde morar
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A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus está mexendo com a vida e com os bolsos dos capixabas. Somente na Grande Vitória, cerca de 1.500 pessoas já foram despejadas das casas em que moravam ou tiveram que abandonar os imóveis, sem condições de pagar aluguel.
Existem pessoas, inclusive, vivendo dentro de carros ou dormindo em redes penduradas em praças públicas.
As informações foram repassadas pelo advogado imobiliário Diovano Rosetti. “Muitas pessoas perderam empregos, tiveram seus contratos suspensos ou salários reduzidos por causa da crise em que estamos vivendo. Algumas conseguem suportar o valor de um aluguel, mas outras não”, explicou o advogado.
Ele explicou que uma estimativa feita por advogados, corretores de imóveis e imobiliárias apontou que 1.500 pessoas já estão fora de suas casas. Esse número pode dobrar até o final de maio.
“São locatários que, ou foram despejados por locadores, ou que entregaram os imóveis por não conseguir arcar com a despesa. Muitos locadores querem tirar esses inquilinos que não pagam e colocar quem vai pagar”, disse.
Ele afirmou que, na maioria dos casos, o locatário que sai do imóvel vai morar com outro familiar. “Voltam a morar com os pais, muitas vezes já com filhos. E isso também compromete a saúde, pois passam a viver muitas pessoas em uma casa pequena”.
Há casos, no entanto, que a pessoa não tem para onde ir. “Em Cariacica, um comerciário perdeu o emprego, ficou sem condições de pagar o aluguel. Durante o dia ele e a mulher ficam nas ruas, recebem ajuda de vizinhos para alimentação e banho. Mas à noite, dormem dentro do carro”, revelou.
Diovano citou ainda um casal que está dormindo em uma rede, pendurada em uma praça de Vila Velha. “O casal ficou sem condição de pagar o aluguel e o locatário tomou o imóvel deles. Estão vivendo em uma praça, dormindo na rede”.
O advogado afirmou que a situação pode piorar conforme o agravamento da pandemia do coronavírus.
“Essas situações vão se repetir caso o nosso cenário não mude. Porque a pessoa não tem somente o aluguel para pagar, ela tem outras despesas, tem que se alimentar. É uma situação difícil e pode perdurar por um tempo”.
Saída foi voltar a morar na casa da mãe

Depois de ser despejado pelo dono do imóvel em que morava com a mulher e os dois filhos, o autônomo Tiago Silva Barreto, de 25 anos, precisou voltar a morar com a mãe, no bairro Boa Vista I, em Vila Velha.
Ele morava de aluguel em Vila Nova de Colares, na Serra e o despejo ocorreu no dia 19 de abril. Tiago afirmou que estava devendo parte de um aluguel vencido, no valor de R$ 80. Além disso, também havia uma conta de energia em aberta.
“Eu disse para o dono da casa que só estava esperando sair o meu auxílio emergencial, que eu já fui aprovado, para pagar o que devia e sair da casa. Mas ele não esperou. Foi na minha casa, cortou os fios de energia e praticamente me expulsou, porque eu fiquei no escuro”, relatou.
Valor de aluguel pode cair até 20%
Valor de aluguéis de imóveis tende a cair em média de 20% até o final do ano no Estado. É o que afirmou o consultor imobiliário José Luiz Kfuri. Ele destacou também que o momento é de negociação para fazer os contratos.
“Os imóveis que estão em oferta hoje no mercado vão sofrer uma queda no preço, de média de 20%. Dependendo da negociação a pessoa pode conseguir até 50% de desconto, pelo menos para esse ano”, explicou o consultor.
Ele afirmou que a retomada do mercado vai acontecer de forma gradual. “O período exige muita cautela. Não adianta para o locador ficar com o imóvel vazio e ainda ter que arcar com a despesa do condomínio. É melhor ter um consenso entre as partes”, disse.
Já o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Sandro Carlesso, destacou que houve um aumento na procura por imóveis com o preço melhor desde o início da pandemia do novo coronavírus.
“As pessoas estão na incerteza e estão preferindo imóveis com um valor menor. Elas estão buscando encaixar o valor dentro da capacidade que têm de pagar. A insegurança faz a pessoa buscar alguma coisa para se sentir mais segura. Muitas pessoas tiveram redução de renda e optaram por se prevenir”.
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