Esforço conjunto pela volta do carro popular
Depende de união entre indústria e governo a volta de automóveis que tenha preços acessíveis à população, afirma executivo da Stellantis
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O sonho do carro próprio está cada vez mais distante da realidade dos brasileiros.
Em 2016, o Fiat Mobi, na versão mais simples, custava R$ 31.900. O mesmo modelo, agora chamado Mobi Like, sai por R$ 77.990 — alta de 145%. A inflação acumulada no período, de 61,2%, e o reajuste do salário mínimo, de 72% (de R$ 880 para R$ 1.509), não acompanharam a escalada dos preços.
Além disso, a renda disponível do brasileiro também encolheu: a parte do salário que sobra após os gastos básicos caiu de 45% para 42%, segundo dados do setor.
Para Emanuele Cappellano, presidente da Stellantis na América do Sul, o aumento de preços não é apenas resultado da inflação, mas também do acréscimo de tecnologias e da elevação dos custos de produção. Itens como airbags, freios ABS, controles de tração e estabilidade, além de motores mais eficientes e menos poluentes, se tornaram obrigatórios — o que encarece o produto final.
Na visão de Cappellano, só uma ação conjunta entre o setor automotivo e o governo poderá viabilizar o retorno dos carros populares. “A indústria pode trabalhar no básico, mas é preciso sinergia com o governo. A tecnologia custa, e a produção também. É um esforço que precisa ser dividido”, diz.
A Stellantis anunciou investimento de R$ 30 bilhões no Brasil entre 2025 e 2030 — 93,75% do total para a América do Sul.
O foco será o lançamento de 40 novos modelos e o desenvolvimento de plataformas que aceitam diferentes tecnologias: motores a combustão, híbridos e elétricos.
Segundo o executivo, o Brasil oferece previsibilidade ao setor por meio do programa Mover, que estabelece metas claras de descarbonização e oferece incentivos para pesquisa e inovação. Mesmo com juros altos, o plano está mantido.
Marcas como Citroën e Peugeot enfrentam resistência no mercado brasileiro, mesmo sob a gestão da Stellantis, grupo formado a partir da união da Fiat Chrysler com a montadora francesa PSA Group. Com poucos lançamentos, ambas ficaram fora da lista das 10 montadoras mais vendidas em 2024.
Para Cappellano, a retomada virá com novos modelos, como os Peugeot 208 e 2008 e o Citroën Basalt. A estratégia é aproveitar sinergias com Fiat e Jeep, com quem compartilham conjuntos mecânicos.
Baratos, por ora, estão fora do radar
Apesar do discurso em defesa do carro acessível, a Stellantis está priorizando veículos com tecnologia avançada e estrutura versátil, o que indica que os modelos mais baratos não devem voltar tão cedo ao mercado.
A aposta está nas plataformas modulares, que podem receber motores híbridos leves (mild hybrid), híbridos completos (HEV) ou elétricos — além de combustão convencional.
“A mesma plataforma pode adotar todas essas configurações, o que nos dá flexibilidade para atender ao consumidor brasileiro com diferentes opções”, Emanuele Cappellano, presidente da Stellantis na América do Sul.
Essa versatilidade, no entanto, encarece o desenvolvimento e afasta a ideia de um “carro popular” nos moldes antigos.
Outro fator que pesa no mercado é a preferência do público por SUVs, que em 2024 já representam 53% das vendas, superando os hatches, antes líderes. Mas o executivo alerta: a lucratividade não está no formato do carro, e sim na escala e na demanda.
“Não há uma diferença de rentabilidade por tipo de carroceria. A questão está na escala de produção e nas tecnologias embarcadas.”
Queda de preços com tarifaço
As montadoras japonesas estão adotando estratégias para mitigar os impactos das tarifas de 25% impostas pelos Estados Unidos sobre veículos importados. Entre as medidas, destacam-se a redução de preços e a absorção parcial dos custos adicionais, visando manter a competitividade no mercado norte-americano.
A Toyota, por exemplo, está oferecendo descontos em modelos populares, como o Corolla e o RAV4, para compensar o aumento de preços decorrente das tarifas.
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