Empresas já demitiram 2 mil por se negarem a tomar vacina contra covid
Empresas dispensam sem justa causa e não informam o verdadeiro motivo ao profissional. Candidatos a emprego também são eliminados
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Na contramão da ciência, trabalhadores têm se recusado a tomar a vacina contra a covid-19. Essa prática já levou, pelo menos, dois mil profissionais à demissão no Estado. O mesmo motivo eliminou cerca de mil candidatos nos processos seletivos.
É o que assegura a psicóloga e especialista em pessoas e carreiras, Gisélia Freitas, com base na sua percepção de mercado, já que ela presta consultoria para empresas que têm esse levantamento.
Ela salienta que as demissões são sem justa causa. “Esse movimento ainda está sendo de forma velada até por conta da instabilidade, do posicionamento contraditório da Justiça. Mesmo agora com o Supremo Tribunal Federal dizendo que é permitida a demissão, as empresas não estão seguras”.
Ela destaca que há alguns meses as empresas têm feito levantamentos com o setor de recursos humanos para identificar quais profissionais contratados estão ou não imunizados contra o vírus que, no Estado, já causou a morte de 13.135 pessoas.
Outras têm especificado esse critério em seus processos seletivos. “A posição das empresas é, primeiro, o risco à saúde, pois um profissional que não quer tomar a vacina não tem bom senso, não é colaborativo, não pensa na equipe, sem contar no prejuízo financeiro da empresa, com a diminuição da produtividade em caso de testar positivo para a covid”.
Na hora de demitir, a maioria das justificativas veladas é de que a empresa está sendo redesenhada ou tendo corte de custo.
Essas demissões têm ocorrido em maior volume na área da saúde, já que as empresas entendem que é inerente ao profissional o fato de não ser vacinado.
Em segundo lugar, vêm as empresas que contam com cargos operacionais, que não podem trabalhar home office, a exemplo de Engenharia, de produção e no setor industrial. Isso também tem ocorrido em empresas de grande porte de vários segmentos.
O consultor de carreiras Elias Gomes confirma essa realidade e diz que o fator de maior peso para demissões atualmente é a questão da imunização. “Antes tinha o critério de mais tempo de casa, salário maior. Hoje a questão da vacina é o maior critério de desempate para decidir quem fica e quem sai”.
Sarah Rosado, da Suprema Consultoria RH, citou o caso de um candidato que foi eliminado de um processo seletivo por dizer que não tomaria a vacina. Ele disputava o cargo de operador de máquinas em uma mineradora.

Dispensado por rejeitar imunizante e falar em “chip”
Com mais de quatro anos trabalhando em uma empresa de cosméticos na Grande Vitória, um supervisor de produção foi demitido depois de se recusar a tomar a “vacina com chip” contra covid-19.
O fato ocorreu há cerca de três meses. O consultor de carreiras Elias Gomes conta que a empresa chegou a fazer campanha interna para estimular todos a se imunizarem, mas o profissional, irredutível, alegava que não confiava em vacina feita em tão pouco tempo.
“A empresa estava fazendo uma espécie de pente-fino bem discretamente para descobrir quem realmente tinha tomado vacina e quem não tinha. Isso estava criando um clima organizacional muito desfavorável, já que a empresa estava voltando aos poucos ao trabalho presencial”, detalhou.
Só que na hora da demissão, a empresa usou outro argumento: mudança de perfil para a posição e requisitos que o supervisor não tinha no currículo, a exemplo de formação superior completa.
Demissões por recusa têm ocorrido até em outros países. Nos Estados Unidos, o treinador de futebol americano Nick Rolovich, 42, e quatro assistentes foram dispensados da Universidade do Estado de Washington por recusar vacina.
Saiba mais
Demissões
- No Estado, cerca de 2 mil empregados foram demitidos por se recusarem a tomar a vacina contra a covid-19.
Eliminados na seleção
- Se somar com cerca de mil candidatos que foram eliminados pelo mesmo motivo já nos processos seletivos, esse número salta para 3 mil no Estado.
Setores com mais demissões
- Saúde: técnicos e auxiliares, sendo que o maior volume é do setor administrativo.
- Empresas que contam com cargos operacionais, ou seja, profissionais que não podem trabalhar home office, como empresas de Engenharia, de produção, além do setor industrial.
- Empresas de grande porte de todos os segmentos.
Decisões veladas
- As demissões, sem justa causa, têm ocorrido de forma velada pelas empresas, já que os empresários têm receio de serem questionados na Justiça.
- Isso porque, o governo federal chegou a aprovar uma medida que impede o rompimento de contrato daqueles que não optaram pela vacina. No entanto o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu vários trechos dessa portaria que determinava que empresas não poderiam exigir comprovantes de vacinação .
- A matéria levou partidos políticos e sindicatos a entrar com ações no STF contra a medida do governo, alegando que a norma contraria a Constituição.
- Com a decisão do STF, os empregadores retomam o direito de exigir o comprovante dos empregados e até demitir quem se recusar a apresentar o comprovante.
- De acordo com o ministro, contudo, a exigência não deve ser aplicada a pessoas que tenham contraindicação médica baseada no Plano Nacional de Vacinação ou em consenso científico.
Questionamentos no Estado
- O juiz titular da 7ª Vara do Trabalho de Vitória, Marcelo Tolomei Teixeira, disse que ainda não registrou nenhum caso sobre o tema, mas disse que existe essa tendência e explicou o motivo.
- “O STF considerou inconstitucional a portaria do governo sobre a impossibilidade de aplicação de justa causa a quem se recusasse a se vacinar. Mas a postura do governo só tensionou ainda mais a problemática. Conhecemos casos que, principalmente por inclinação ideológica ou religiosas, mostram que há trabalhadores que se recusam a se vacinar”.
Fonte: Especialistas citados, juristas e pesquisa A Tribuna.
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