Embaixador de Portugal: “Migração de brasileiros é positiva para nosso país”
Mais profissionais e empresas têm buscado a nação lusitana, cuja cooperação econômica com o Brasil está “melhor do que nunca”
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Mais profissionais brasileiros estão buscando Portugal como forma de ampliar os negócios, melhorar a condição de vida ou acessar outros mercados no território europeu.
A crescente migração entre Brasil e Portugal, embora seja histórica, tem sido encarada como positiva pelo governo local, afirma o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, que visitou a Rede Tribuna na última quinta-feira.
Isso se deve, disse ele, ao fenômeno do envelhecimento populacional, que reduziu a mão de obra apta ao trabalho em funções que, predominantemente, movimentam a economia nacional.
A cooperação entre os dois países na ciência, no turismo e nos negócios forma pontos destacados pelo diplomata, que desde 2021 é o responsável pela diplomacia portuguesa no Brasil.
O cenário internacional, com o fechamento econômico de nações ocidentais e o enrijecimento das regras para concessão de vistos e cidadania, acabam por interferir nas trocas entre os países hoje — mas não deve prejudicar a relação entre Portugal e Brasil, destaca.
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A Tribuna — O número de brasileiros vivendo em Portugal nunca foi tão alto. Como o governo enxerga essa migração?
Luís Faro Ramos — A população portuguesa é de cerca de 10 milhões. De brasileiros, hoje certamente 500 mil, até eventualmente mais. Diria que dentro de não muito tempo essa comunidade pode mesmo chegar a ser um milhão.
Aquilo que Portugal fez há tempos, está o Brasil fazendo agora. O Brasil recebeu de braços abertos muitos portugueses, muitas gerações, muitas vagas de imigração lá para trás. Agora é Portugal que está recebendo essas vagas de imigração brasileira, com muito prazer.
E essa migração, para o trabalho, continua sendo grande?
Sim! E nós estamos detectando, mais recentemente, uma diversificação de profissões. Já não é uma profissão X ou Y. Todo o ramo de trabalho está procurando instalar-se lá. E isso é bom para a nossa economia, é bom para a nossa estrutura. Com qualidade e com habilitação profissional adequada.
E a concessão de vistos vai continuar sendo facilitada ao Brasil pelo governo português?
Nós neste momento estamos passando por algumas alterações legislativas, mas como não há nada ainda de definitivo, isto está sendo tramitado entre o Legislativo e o Executivo lá em Portugal. Então, vai haver algumas alterações, mas quero dizer aqui muito claramente que, para o Brasil, não há nada que impeça que esse fluxo continue a existir e, inclusive, a aumentar.
Não esquecendo, nunca, que é preciso que seja tudo regulado, disciplinado, para não haver caos.

Além do trabalho, o turismo em Portugal é muito forte entre brasileiros. Como andam os números dessa atividade?
O turismo em Portugal é muito forte, é uma fonte de receita econômica importantíssima. Nós recebemos muitos milhões de turistas por ano, e os brasileiros não são obviamente exceção. Já não são os primeiros, eu acho que foram ultrapassados pelos EUA, mas continua a ser um mercado muito forte para Portugal.
Vale lembrar aqui a importância da companhia aérea TAP, que tem mais de 100 voos semanais para vários destinos do Brasil e que transporta muito turista.
E de portugueses ao Brasil?
Talvez o Brasil pudesse ter uma campanha mais assertiva para trazer o turista português aqui, porque há um turismo consolidado que tem muitos anos lá para cima.
O turismo de praia, para o Nordeste, sobretudo. Mas sei que, o ano passado, o turismo de Portugal fez um “road show” aqui do Espírito Santo e trouxe agentes de viagens, empresas interessadas em fomentar e dinamizar esse fluxo turístico. Para Portugal está muito bom. Aqui para o Brasil, talvez pudesse ser um pouco mais dinamizado.
E nas relações econômicas, o que temos hoje e o que podemos esperar para o futuro?
A cooperação econômica entre os dois países está, eu diria, até melhor do que nunca, porque as nossas trocas comerciais estão crescendo. Cada ano que passa, praticamente batemos recordes de trocas comerciais. O investimento também está crescendo. Soube que as franquias brasileiras, quando se internacionalizam, 48% buscam Portugal. Isso é quase metade, o que quer dizer que é um país atrativo.
Os empresários brasileiros têm incentivos ou benefícios para se instalar em Portugal?
Depende da cidade e do município. Eles têm de procurar saber onde é que há uma taxa mais favorável. Há taxas, digamos assim, nacionais, mas depois há condições tributárias e fiscais mais favoráveis em determinadas cidades. É muito importante que o empresário ou empresária se informe com outros que já fizeram esse caminho.
Existe alguma forma institucional para buscar ajuda para se instalar em Portugal?
A ApexBrasil, agência de exportação brasileira, abriu há duas, três semanas, lá em Lisboa um escritório. Isso vai ajudar muito, porque eles estão vocacionados para ajudar o empresário ou empresária brasileira que quer estabelecer lá e explicar como é o caminho.
Aqui, temos uma coisa parecida, que é a Aicep, nossa agência de promoção da exportação, que está em São Paulo e faz o mesmo. E temos uma Câmara de Negócios portuguesa, uma jovem câmara, que merece ser apoiada. É muito importante utilizarmos essa rede de câmaras de comércio para justamente dar a conhecer nosso país ao Espírito Santo e para dar a conhecer o Espírito Santo lá em Portugal.
Essa relação comercial acaba sendo muito facilitada por termos a mesma língua, certo?
A barreira geográfica não existe. Há um oceano pelo meio, mas isso é um oceano que nos junta, não nos separa. E a barreira da língua praticamente não existe. Somos a porta de entrada para a Europa, para o norte da África, para internacionalizar o produto brasileiro. Então é muito procurado.
O momento atual, de fechamento econômico de diferentes nações, inclusive europeias, põe desafios à globalização. Como Portugal enxerga a situação?
Há certas atitudes — não vou nomear nomes nem países, não vale a pena, mas todos nós sabemos — que põem em causa o multilateralismo, o diálogo e a paz como meio para resolver conflitos e diferenças. Nós temos que ser mais afirmativos ainda na defesa desse multilateralismo. E aí, devo dizer, com satisfação, que tanto Portugal como o Brasil são países que acreditam no multilateralismo, defendem o diálogo e a promoção da paz.
São 200 anos de relações diplomáticas entre Portugal e Brasil. O que o senhor espera para os próximos anos?
Eu quero ver esse futuro com o português como língua oficial das Nações Unidas; ver Portugal e o Brasil mais juntos, a promover valores de paz e de diálogo e de pontos no mundo, com essa geopolítica complicada.
E quero ver também o mundo de Língua Portuguesa com mais iniciativa, mais dinâmica. E também muitas universidades portuguesas aqui, muitas universidades brasileiras lá em Portugal, em cooperação. Como eu gosto de dizer, 360 graus. Quando isso se realizar, não há áreas por preencher.
Quem é

É diplomata de carreira desde 1987. Além do Brasil, já prestou serviços de Estado em países como a Grécia, a Bélgica, a Suíça, o Moçambique, a Tunísia, o Macau, a China e Cuba.
Já presidiu o Instituto Camões, voltado à cooperação linguística entre os países que falam português.
Assumiu em 2021 o cargo de embaixador de Portugal no Brasil.
Como hobbie, gosta de jogar tênis e de ler autores de língua portuguesa. É torcedor do Benfica, em Portugal, e do Vasco, no Brasil.
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