Em meio a crise com os EUA, café brasileiro tem "portas abertas" na China
Governo do país asiático habilitou 183 empresas brasileiras envolvidas em exportação, o que tem valor de certificado para produção capixaba
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O governo da China habilitou 183 empresas brasileiras envolvidas no processo de exportação do café para o país asiático e abre mercado para café capixaba. A medida é uma espécie de “certificado”, que garante o respeito aos padrões exigidos por eles.
Nessa lista estão não apenas produtores, mas também galpões logísticos, ensacadores e outros negócios que participam do processo de preparo para a exportação do produto, explica o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira.
A habilitação dessas empresas é fruto de um pleito antigo do setor do café e representa uma desburocratização do segmento junto ao governo chinês, comenta Ferreira.
“Já existia um pleito do setor para desburocratizar as exportações para a China. Eles consideram que é preciso credenciar o exportador, o armazém, o que estufa o contêiner, o que embala o café. Não aumenta o número de café negociado, mas é um passo adiante”, elucida.
A entidade afirma também entender “como positiva a ampliação das empresas habilitadas”, mas considera cedo e necessário aguardar como serão o trato comercial e a demanda das trades chinesas com os exportadores brasileiros para qualificar essa medida. “Temos realmente que aguardar e monitorar”, diz.
O produtor capixaba Henrique Sloper, gerente da Fazenda Camocim, em Domingos Martins, vê oportunidade de ampliar os negócios no mercado asiático.
A fazenda é pioneira na produção do exclusivo Jacu Bird Coffee, feito a partir de grãos ingeridos e expelidos pelo pássaro jacu, nativo da Mata Atlântica.
“Exportamos para a China e outros países da Ásia há mais de 20 anos, mas agora há um movimento diferente. O mercado chinês começa a valorizar cafés especiais. Eles buscam mais do que volume; querem histórias, sustentabilidade e exclusividade”, afirma Sloper.
Atuando em pequena escala, com pouco mais de 10 sacas por ano, a Fazenda Camocim já conquistou consumidores exigentes em mercados como Japão, Emirados Árabes, França e Estados Unidos.
O que eles dizem

Entenda
Mais empresas “credenciadas”
Foram 183 empresas brasileiras habilitadas, ou seja, “credenciadas” pelo governo da China para estarem na cadeia de exportação do café para o país asiático.
Essa é uma exigência do país para que o produto alcance o mercado chinês, explica o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira, que comanda a entidade nacional que representa o setor.
Entre as empresas estão galpões logísticos, ensacadores, transportadores, entre outras, que participam do processo de exportação.
E o Espírito Santo?
A localização das empresas por Estado, no entanto, não havia sido divulgada pelo Ministério da Agricultura, Pesca e Aquicultura (Mapa) até o fechamento desta reportagem. A medida, porém, tende a alcançar os estados que possuem grande produção. O Estado é o segundo que mais cultiva e exporta o café, perdendo apenas para Minas Gerais.
Financiamento e crédito
Enquanto produtores buscam alternativas para abertura de mercados, o governo do Estado estuda as possibilidades de socorro orçamentário às diversas indústrias impactadas pela tarifa de 50% aplicada pelos EUA aos produtos do Brasil.
Um comitê para discutira a mitigação dos impactos do “tarifaço”, composto pelo governo e entidades empresariais, já realizou três reuniões.
Tanto o governo como o setor privado ficaram de ajustar os impactos após as exceções divulgadas e avaliar o impacto das possíveis medidas que estão em discussão. Há a expectativa, agora, na divulgação de linhas para financiamento à exportação e crédito de ICMS, entre outras medidas.
Fontes: Sedes e fontes citadas.
Agricultores não descartam segurar produção do grão
Apesar da boa notícia referente a decisão da China de habilitar 183 empresas no Brasil, produtores capixabas avaliam o cenário com cautela e não descartam outras estatégias.
Alguns, podem optar por segurar a produção à espera de uma recuperação de preços ou de maior clareza no comportamento dos mercados.
“A colheita ainda não terminou, vai até setembro, e muitos produtores não estão com pressa para vender. Alguns podem segurar parte do estoque e acompanhar os desdobramentos dessa disputa entre China e Estados Unidos”, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado, Julio Rocha.
Já Daniel Carvalho, coordenador dos cursos de Relações Internacionais e Comércio Exterior da UVV, lembra que a China se apresenta como uma potência que valoriza a soberania de seus parceiros e reforça sua imagem de ator comprometido com o crescimento compartilhado — contraste que, segundo ele, pode agradar economias em desenvolvimento que enfrentam volatilidades em relações com potências tradicionais.
“A ação chinesa pode ajudar a reduzir a dependência do mercado americano — que tem se mostrado imprevisível — e diversificar canais de exportação. Ainda assim, os impactos da tarifa americana sobre a economia capixaba, fortemente atrelada às exportações para os EUA, não devem ser amenizados no curto prazo.
Ajuda pelo mercado europeu
O setor da pesca no Espírito Santo apresenta hoje demandas para o governo do Estado que podem auxiliar a mitigar — ou seja, diminuir — os impactos da tarifa extra estabelecida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra empresas e produtos brasileiros.
Um dos principais pedidos, já reforçado pelo setor na semana passada, é a abertura de novos mercados em outros países — com principal foco na União Europeia, região que pode até mesmo superar o consumo do país norte-americano.
“O que queremos tentar colocar é um plano para o governo (do Estado) nos ajudar a abrir a comunidade europeia, a Inglaterra, e também manter o emprego nas indústrias para que, na hora que o governo brasileiro conseguir abrir esse mercado, a gente consiga fazer”, diz o presidente do Sindicato das Indústrias da Pesca no Estado (Sindipesca-ES), Luiz Gonzaga.
O auxílio no Estado, segundo o representante, viria no apoio para o alcance das exigências sanitárias exigidas pela Europa para que a produção entre nesse mercado.
Gonzaga comenta que, neste momento, medidas como crédito e financiamento não seriam suficientes para os produtores, uma vez que não teriam como bancá-las. “Se a gente não pode vender, não tem como a gente pagar financiamento”, diz.
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