Trabalhar em casa não significa estar de férias, e as empresas estão cada vez mais de olho no que os funcionários fazem no horário de serviço. Consequência disso é que pelo menos dez mil pessoas no Estado já foram demitidas por ficar sem trabalhar no home office durante o expediente.
O levantamento foi feito com especialistas de RH no Estado. O número representa em torno de 3,4% dos 293.226 demitidos no Estado em 2020, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
De acordo com o consultor de RH Elias Gomes, as demissões se devem porque a produtividade dos funcionários caiu após um período de adaptação nesta nova realidade.
“No início da pandemia, a produção subiu bastante porque houve investimento e houve vontade de mostrar serviço, até pelo medo de ser demitido nesse cenário de insegurança. Só que, passada a adaptação, as empresas percebem que alguns funcionários estão produzindo cada vez menos”.
As atitudes erradas identificadas pelos especialistas são várias: assistir televisão ou jogar videogame e esquecer do trabalho, cuidar de seu jardim ou do cachorro e até sair de casa para ir fazer alguma coisa, como comprar algo no supermercado ou mesmo ir à praia.
“Tem muita gente que está postergando o trabalho, chegando ao ponto de ir para a praia, ficar a tarde inteira tomando um sol, e no fim do dia inventa uma desculpa. Só que aí o chefe entra na rede social do funcionário e vê fotos da pessoa aproveitando a praia”, cita a especialista em pessoas e carreiras Gisélia Freitas.
Ela explica ainda que a falta de comunicação com a empresa gera transtornos e deve ser evitada. “A empresa fica sem saber o que realmente aconteceu e pode achar que o funcionário está só fingindo que não está recebendo as mensagens para não trabalhar”.
A empresa que resolver demitir pode até mesmo realizar a demissão por justa causa, na qual o empregado só tem direito ao saldo de salários, ao 13º salário integral e férias vencidas, se houver, conforme explica o advogado do trabalho Juliano Trindade.
“Se você burlar o horário de trabalho e a empresa tiver como provar que você não estava trabalhando, como é o caso das fotos em redes sociais, a demissão pode ser por justa causa”.
Para coibir as “fugidinhas” do trabalho de seus funcionários, as empresas devem estabelecer metas e prazos e também dobrar a vigia dos funcionários nas redes sociais, de acordo com especialistas.
“Dobrar o tempo de vigia dos funcionários nas redes sociais também é essencial para ter um controle da situação. Dá para verificar se o funcionário está ou não online, se está navegando, se está publicando coisas por lá”, afirma a especialista em pessoas e carreiras Gisélia Freitas.
“É ruim porque a pessoa pode até ser produtiva, mas fica o estigma de estar fazendo outra coisa durante o trabalho, e aí qualquer atraso ou erro é motivo de insatisfação das empresas e até demissão”, conclui Gisele.
Em alguns casos, o funcionário acaba não rendendo o esperado no home office. Não por não querer trabalhar, mas por fatores externos, como necessidade de fazer tarefas de casa e até dividir o computador com outros membros da família.
É o que explica a especialista em pessoas e carreiras Gisélia Freitas. Segundo ela, o problema atinge principalmente as mães de família, que acabam tendo de dividir as atenções do trabalho com os filhos.
Ela cita ainda que, com a volta das aulas, a necessidade de ter mais de um computador em casa acaba crescendo.
“E há famílias que não têm essa condição financeira. Aí acaba que o computador ou notebook da família fica sendo dividido. Os filhos precisam estudar e os pais precisam trabalhar. Isso prejudica o rendimento do profissional”.
Há ainda os trabalhos de casa, que ficaram mais acumulados com a pandemia.
“Antes, havia babás, faxineiras ou mesmo os mais idosos da família responsáveis por esses serviços. Mas, com o isolamento, a responsabilidade acaba acumulando”.
A casa é um lugar repleto de distrações e interferências, que serão os seus principais desafios.
Para começar, você precisa contar com a colaboração dos seus familiares, deixando claro que não pode ser interrompido durante o expediente.
E, claro, nada de se perder entre notificações e redes sociais, que são as interrupções mais perigosas.
Televisões e videogames também devem ser evitados e ficar longe do local de trabalho.
Escolha um local silencioso
Seu escritório deve ser montado no cômodo mais silencioso da casa, de preferência isolado dos demais.
É preciso que seja um local limpo, organizado e tranquilo, que geralmente é mais confortável do que o escritório da empresa.
Vale lembrar aos familiares que música alta, televisão no último volume e furadeira no horário comercial não são boas ideias.
Tenha internet e backup
Use o dinheiro que você economiza com transporte e alimentação para pagar o melhor serviço de internet.
Velocidade e estabilidade serão fundamentais para agilizar seu trabalho e garantir a comunicação e troca de arquivos com a empresa.
Essa dica é especialmente válida se você trabalha em plataformas colaborativas com outras pessoas da equipe.
O backup continua sendo obrigatório, mas melhor ainda é trabalhar diretamente na nuvem.
Cumpra seu horário
O expediente em casa tem que ter um horário de início e fim, seja qual for o período escolhido.
Se precisar resolver algo durante o expediente, programe os horários como se estivesse no escritório, fazendo hora extra se for necessário.
Fonte: Pesquisa AT
Há ainda o problema da disciplina. Muitos funcionários não sabem separar seus horários e se organizar de forma que a vida pessoal não interfira na profissional e vice-versa.
Mas não é preciso transformar o home office em um bicho de sete cabeças. O que representa risco de demissão para muitos pode ser oportunidade de promoção para outros. Quem conseguir se adaptar poderá colher os frutos futuramente.”