Criança internada com síndrome rara ligada à covid-19
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Uma menina de três anos foi internada no Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, segundo sua família, com diagnóstico de síndrome de Kawasaki – uma doença inflamatória rara de causa desconhecida, mais comum na Ásia, ligada à Covid-19.
Beatriz Dutra Amado, de 3 anos, está internada desde o dia 24 de julho. Os sintomas, no entanto, começaram no dia 20, de acordo com a tia da criança, Gleyciane Dutra, de 26 anos.
“Ela começou a sentir febre, que foi aumentando com o passar do tempo, batendo os 39 graus. No terceiro dia de sintomas, levei-a ao hospital, relatando que, mesmo com medicamento, o estado febril não sumia”, conta Gleyciane, que mora com a pequena.
No hospital, ela relata, Beatriz passou por exames de sangue, urina e um raio-X no tórax. Foi diagnosticada com sinusite e o receituário previa dipirona e amoxicilina. “Mas começaram a aparecer manchas avermelhadas na coxa”.
No último dia 24, quando a menina foi internada, a febre seguiu aumentando, remédios não faziam efeito e as manchas se espalharam pelo corpo. “Foram para os braços, barriga, rosto e os pés e mãos ficaram avermelhados”, recorda.
A tia diz que só ouviu um diagnóstico do corpo médico no dia 27. “Falaram que era síndrome de Kawasaki. Um eletrocardiograma mostrou alterações no coração. As artérias e veias da Beatriz dilataram e ela está tomando imunoglobulina, sem previsão de alta”.
Gleyciane disse que ela e o marido tiveram sintomas da Covid-19, mas não testaram para ter certeza do diagnóstico.
O teste de Beatriz ainda não saiu – há relatos desde a Europa de que a síndrome ocorre em crianças contaminadas pelo Sars-CoV-2.
Mãe da menina, Gleycielle Dutra, 25, disse que a filha está em isolamento. “Ela chora de dor quando toma medicação”.
A pediatra Lívia Borgo não atua nesse caso, mas explicou à reportagem que a ligação entre a síndrome de Kawasaki e a Covid-19 pode ser explicada pelas manifestações clínicas semelhantes, causadas por uma resposta imunológica exacerbada – a partir da infecção – que afeta o sistema cardiovascular do paciente.
Procurada, a Secretaria de Estado da Saúde, responsável pelo Himaba, não comentou o caso da menina Beatriz até o fechamento desta edição.
SAIBA MAIS Entenda a doença
Sintomas
- A Síndrome de Kawasaki tem como um dos sintomas o aparecimento do chamado “rash cutâneo”, que são erupções da pele, além de lesões e placas avermelhadas. Pode ocorrer em crianças contaminadas pelo novo coronavírus Sars-CoV-2.
- Outra característica, segundo a doutoranda em Neurociências Luiza Mugnol Ugarte, é a vasculite, uma inflamação aguda dos vasos sanguíneos. Em casos graves, pode levar ao infarto agudo do miocárdio e morte súbita.
- Os sintomas conhecidos da Covid-19 não se apresentam nessas crianças. Elas apresentam febre por muitos dias, dor abdominal, que pode ser acompanhada de vômito e diarreia, e as manchas avermelhadas na pele.
- Outros sintomas não tão comuns incluem olhos vermelhos, lábios secos, língua dolorida, mãos e pés inchados, além de músculos doloridos e falta de forças para caminhar.
Tratamento
- Pesquisadores do Children National Hospital (EUA) publicaram artigo lembrando que se deve prestar atenção aos sintomas, mesmo que leves, para que a síndrome não se alastre para casos mais graves. O diagnóstico precoce da doença de Kawasaki e o tratamento imunoglobulina previnem o inchaço arterial – o que acontece com a pequena Beatriz.
Ligação com a Covid-19
- A covid-19 é conhecida por provocar uma inflamação grave no organismo de alguns pacientes, incluindo nos vasos sanguíneos – o que poderia ter relação com o aparecimento da síndrome.
- A pediatra Lívia Borgo acrescenta que a ligação entre a síndrome de Kawasaki e a Covid-19 pode ser explicada pelas manifestações clínicas semelhantes (dor abdominal, vômitos e diarreia), causadas por uma resposta imunológica exacerbada – a partir da infecção – que afeta o sistema cardiovascular do paciente.
Fontes: Pediatra Lívia Borgo, doutoranda em Nuerociências Luiza Mugnol Ugarte, e artigo de pesquisadores do Children National Hospital (EUA).
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