Pandemia reduz número de bebês nascidos no Estado
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A pandemia de Covid-19 trouxe incertezas para toda a população. Com um vírus desconhecido em circulação e mortes aumentando a cada dia no País, a taxa de nascimentos também foi afetada. O cenário fez com que não se cumprissem as previsões populacionais feitas previamente para 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A projeção do órgão indicava 57.810 nascimentos no Estado para o ano passado. No entanto, dados da Transparência do Registro Civil mostram que foram 54.171 capixabas chegando ao mundo, ou seja, 3.639 a menos que o esperado.
No Brasil, enquanto em 2019 foram 2,8 milhões de bebês nascidos, no ano passado esse número caiu para pouco mais de 2,6 milhões, também contrariando as expectativas feitas antes da pandemia. Pelos cálculos do IBGE, 300 mil bebês deixaram de nascer em todo o País. Para especialistas, a pandemia de Covid-19 foi o principal fator na decisão de casais para adiar os planos de ter filhos.
“A própria Sociedade Brasileira de Ginecologia recomendou evitar a gravidez, e muitos casais optaram por não ter filhos. A situação era incerta, ninguém sabia bem o que aconteceria, muitos pais agiram pensando nos riscos. Então, aqueles que puderam esperar, escolheram por esse caminho”, comentou o ginecologista e obstetra Paulo Batistuta Novaes.
A psicóloga Cláudia Salles explica que a tendência do ser humano é se proteger e ter filhos em um período sem muitos riscos, sejam eles para a saúde física, mental, social ou econômica. “A pandemia impactou em muitas mudanças na vida das pessoas. Quando um casal idealiza ter filhos, planeja um momento perfeito, que é um cenário diferente do que vemos nesse momento”, disse a psicóloga.
Recomendação
A ginecologista e obstetra Lorena Baldotto recomenda que, durante o período de pandemia, os casais adiem planos de gravidez.
“Desde o início, falamos que não sabemos nada dessa doença e realmente notamos uma queda no número de partos e mulheres engravidando. Imaginamos que aconteceria essa queda. A orientação segue a mesma: se puder esperar, espere”, disse a médica.
Desejo de ter uma criança foi maior

O casal de empresários Danielli Marroque Demuner Gomes, de 31 anos, e Bruno Gomes Pereira Demuner, de 34, já vinham tentando ter filho antes mesmo da pandemia. Quando a doença se espalhou pelo País, eles ficaram receosos, mas os planos não foram interrompidos.
“Ficamos com medo, é claro, mas o nosso desejo de ter um filho foi maior”, contou Danielli. Com a chegada da vacina contra a Covid-19, eles ficaram mais confiantes em seguir em frente com o sonho. Hoje, Danielli e Bruno aguardam pela chegada da Valentina.
“Estou com 32 semanas e minha gestação é super saudável. A esperança é de que ela nasça imunizada, pois já tomei a primeira dose da vacina e tomarei a segunda em breve”.
Chegada de Miguel renova esperança

A pandemia mudou completamente a programação da advogada Dayana Barroso, de 34 anos. Casada há seis anos e com uma vida profissional e social agitada, ela adiou por muito tempo os planos de ter um filho.
“A pandemia veio também para frear a correria da humanidade, e passamos a olhar mais para dentro da relação e do casamento. Com mais vínculo com o núcleo familiar, veio a vontade de iniciar esse projeto de maternidade”, contou.
A gravidez da advogada foi durante a pandemia, e Miguel veio ao mundo há 16 dias. “Estamos radiantes de felicidade, vivendo profundamente a maternidade. Temos esperança de dias melhores para todos”.
Saiba Mais
Projeções
- 57.810 nascimentos estavam previstos para 2020 no Espírito Santo, pelos cálculos de especialistas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
- Essa previsão foi feita antes da pandemia de Covid-19.
- No Brasil, a previsão era de 2,9 milhões de bebês nascidos em 2020.
Queda
- 54.171 nascimentos foram registrados em 2020, ou seja, 3.639 a menos que o esperado.
- No Brasil, foram 2,6 milhões, ou seja, 300 mil a menos do que o esperado para o ano passado.
- O número real, raramente, fica abaixo do esperado.
Pandemia
- De acordo com especialistas, a incerteza e o medo por conta da pandemia de Covid-19 foram os principais motivos que levaram os casais a adiar os planos de ter filhos.
- A própria Sociedade Brasileira de Ginecologia recomendou que os casais que pudessem adiantar tomassem essa decisão.
Situação nos outros estados
- Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que são os estados com maior proporção de população mais velha, registraram mais mortes do que nascimentos entre janeiro e maio de 2021.
- Em São Paulo, os nascimentos foram 12% menores do que a média: 277 mil. É o menor crescimento populacional em décadas no estado.
Queda histórica
- A queda do número de nascimentos em todo o País é uma novidade inédita para a demografia brasileira, que tem uma história de 521 anos de crescimento demográfico contínuo e ininterrupto.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Portal da Transparência do Registro Civil, Sociedade Brasileira de Ginecologia e especialistas consultados.
Análise
“Crise econômica também adiou planos da maternidade”
Anna Carolina Bimbato, médica obstetra
“No início da pandemia, as pessoas não acreditavam que ela duraria tanto tempo. Os casais adiaram o plano de ter filho pensando que fosse acabar em alguns meses.
Nós, médicos, também não tínhamos conhecimento sobre os impactos do vírus e houve uma insegurança sobre os riscos que ele traria para a gestação. Com o passar dos meses, a pandemia não só se manteve, como foi se agravando. Quem tinha programado adiar a gestação por pouco tempo, acabou tendo que adiar ainda mais.
O vírus ainda apresentou uma gravidade em gestantes, o que influenciou ainda mais na decisão dos casais em esperar. Muitos médicos recomendaram que, aqueles que pudessem esperar para ter filhos, que esperassem. Outros casais ficaram esperando a vacina para começar a tentar ter filhos, e a vacina só chegou este ano no Brasil.
Outro fator que causou esse adiamento do plano de ter filho foi a crise econômica causada pela própria pandemia. Alguns casais perderam o emprego, então a instabilidade econômica também foi decisiva na hora de tomar essa decisão”.
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