"Eles finalmente vão me curar", escreveu marido de jornalista antes de morrer
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"Eles finalmente vão me curar." Foi essa uma das mensagens que o engenheiro italiano Michele Sarno, 54, enviou à esposa, a jornalista capixaba Aparecida Rocha, moradora de Viana, antes de morrer vítima do novo coronavírus. Ele estava internado em Livorno, na Toscana, Itália, um dos países mais atingidos pela doença.
"Meu amor. Eu estou no hospital. É pneumonia. Testei para o vírus do corona. Agora estou esperando ser hospitalizado em uma enfermaria de doenças infecciosas. De qualquer forma, não se preocupe", escreveu ele durante a troca de mensagens.
E continuou: "Amor, estou sem um carregador de bateria. Eles finalmente vão me curar. Tudo está bem", escreveu o engenheiro antes que o seu aparelho celular acabasse a bateria.

As mensagens foram trocadas no dia 12 de março, dias depois do engenheiro ser internado. O anúncio da morte do marido foi feito pela jornalista no fim da noite de quarta-feira (18). “Esse vírus matou o meu marido em 10 dias”, declarou Cida, como é mais conhecida, à reportagem do Tribuna Online.
Emocionada, Cida divulgou a morte do marido com uma postagem em suas redes sociais e ainda fez um desabafo sobre a doença que está assustando o mundo todo.
"É com muita dor no coração que venho informar que meu marido, o engenheiro italiano Michele Sarno, 54 anos, faleceu esta noite vítima do coronavírus. Para quem pensa que esse vírus não é letal, que a morte dele possa servir de exemplo”, lamentou.
Cida, que é pré-candidata a prefeita de Viana pelo Avante, relatou que esteve com o marido entre os dias 17 de janeiro a 2 de fevereiro. Ela viajou para a Itália, como tinha o hábito de fazer.
“Já estava com essa confusão de coronavírus, mas ainda muito só na China. Levei um susto quando, na volta para o Brasil, encontrei muitas pessoas de máscaras nos aeroportos internacionais”, declarou.
Ela contou que o marido contraiu o vírus provavelmente no dia 4 de março, quando participou de uma reunião com outros dois engenheiros, também na Itália.

Dois dias depois, dia 6, ele fez aniversário e Cida relembrou que, na ligação que fez para o marido para comemorar a data, brincou com Michele: “É, coroavírus”. “Na mesma hora ele me respondeu: ‘como você sabe?’”, disse.
A saúde do engenheiro já estava alterada, com febre e sintomas de gripe. Ele acionou a guarda médica italiana e no dia 8 os profissionais da equipe foram até a casa dele colher material para exame. “Michele me disse que parecia filme, porque a guarda italiana chegou com as roupas todas especiais”, disse Cida.
No dia 9 chegou o resultado. Surpreendentemente, negativo. Em função disso, uma médica orientou seguir o tratamento para gripe e o engenheiro foi medicado com ibuprofeno. No entanto, no dia 10 a febre continuou e foi aumentando.
“No dia 12, ele saiu para comprar remédio e desmaiou na farmácia. Na mesma hora meu marido foi levado para o hospital e não saiu mais vivo. Diagnosticaram como coronavírus e ele ficou em isolamento total”, disse a jornalista.
No último domingo (15), Michele piorou bastante e apresentou quadro de pneumonia. Precisou ser sedado e entubado. Na terça-feira (17), um dos rins parou e ele precisou começar a fazer diálise. De terça para esta quarta-feira (18), teve falência múltipla dos órgãos e morreu às 22 horas da Itália, 18 horas do Brasil.
“Não vai ter enterro. Os corpos estão sendo cremados”
O corpo do engenheiro Michele Sarno não vai ser enterrado. Como as outras centenas de vítimas do coronavírus na Itália, o corpo será cremado, uma determinação do governo italiano, segundo Aparecida Rocha, mulher dele.
“Não existe liberação de corpo, não existe velório... É muito triste. Meu marido morreu sozinho e vai ser cremado sozinho. Ele tem família lá na Itália, mãe, irmã... Só que ninguém da família vai poder fazer enterro. É muito triste. O corpo vai ser cremado. É uma morte sozinha, estúpida, por causa de um vírus”, disse Cida.
A jornalista ainda completou: “São 10 anos de casados, uma história muito linda para contar. Michele era um homem lindo, inteligente, divertido. Foi vítima de um vírus, um vírus que não é brincadeira, como as pessoas estão pensando”.
Mesmo sem poder fazer uma despedida presencial, Cida declarou que, logo que a pandemia passar, ela vai retornar à Itália para fazer uma celebração pela vida do marido. “Ele vinha direto aqui para o Estado. No Reveillon estava aqui. Vou voltar para a Itália para me despedir dele, mesmo que seja depois”, declarou.
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