Briga por vacina contra a Covid preocupa e pode atrasar imunização
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A briga em torno da vacina contra a Covid-19 entre o presidente Jair Bolsonaro e o governo de São Paulo, que desenvolve a Coronavac, pelo Instituto Butantan, em parceria com um laboratório chinês, está longe do fim.
Com a suspensão do estudo após a morte de um voluntário, mesmo não havendo ligação com a pesquisa, especialistas acreditam que pode ocorrer atraso no início da imunização da população.
O diretor-presidente da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, afirmou que a decisão de suspender os testes da Coronavac foi técnica e ocorreu após a agência receber informações incompletas do Butantan.
Segundo a Anvisa, a decisão ocorreu devido ao registro de um evento adverso grave. Barra Torres também negou que a agência tenha sido informada sobre a causa da morte até a última segunda-feira, quando a decisão por suspender os testes foi adotada.
A dúvida sobre a pesquisa ganhou contornos mais polêmicos quando Bolsonaro “comemorou” a paralisação dos estudos, mencionando o governador de São Paulo, João Doria, em comentário em rede social: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, postou o Presidente.
Com a paralisação dos estudos para o desenvolvimento da vacina contra a Covid-19, especialistas mostram preocupação e afirmam que esse tipo de situação pode atrasar a chegada da imunização.
É o que acredita, entre outros, o médico infectologista Lauro Pinto. “Os profissionais desse mundo das vacinas sabem como funciona o procedimento. O que não é usual é o Presidente comemorar esses eventos adversos. É a primeira vez que vejo. E quem perde é a população, pois a paralisação do estudo afeta a pesquisa e pode atrasar a chegada da vacina”.
Para a infectologista Rubia Miossi, a situação é preocupante. “Lógico que a morte de um participante é preocupante e, obviamente, pode causar atraso na chegada da vacina para a população”, comentou Rubia.
De acordo com o a Folha de São Paulo, que teve acesso ao boletim de ocorrência sobre a morte do voluntário, a causa ocorreu por suicídio ou overdose, tendo em vista que a vítima (um químico de 32 anos) foi encontrada caída no chão de um banheiro do condomínio onde morava, com seringas e ampolas de medicamentos ao lado.
Saiba mais
A vacina
- A vacina Coronavac, contra o novo coronavírus, é desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e está sendo estudada no Brasil em parceria com o Instituto Butantan.
Negociações
- O estado de São Paulo negocia com a farmacêutica e vai receber no dia 20 deste mês as primeiras 120 mil doses da Coronavac. A informação já foi confirmada pelo governador de São Paulo, João Doria.
- O Ministério da Saúde chegou a dizer que o governo federal comprará a primeira vacina segura que chegar ao mercado.
- O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, já determinou ao Ministério da Saúde manifestar que estava vetada a compra da Coronavac.
- A alegação do Presidente para justificar a decisão é de que a vacina é produzida pela China.
Suspensão
- A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), vinculada do Ministério da Saúde, suspendeu os testes da Coronavac no País na última segunda-feira, após ser comunicada sobre o registro de um evento adverso grave durante os testes.
Morte
- Esse “evento adverso grave” foi a morte de um voluntário que participou dos testes.
- No Boletim de Ocorrência sobre a morte do voluntário, a causa indicada pela polícia é morte por suicídio ou overdose, tendo em vista que a vítima (um químico de 32 anos) foi encontrada caída no chão de um banheiro do condomínio onde mora, com seringas e ampolas de medicamentos ao lado.
- Por conta disso, a Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), vinculada ao Conselho Nacional de Saúde, deu parecer a favor da continuidade dos estudos, já que a morte não teria relação com a vacina.
- O Instituto Butantan também disse que a morte não teve relação com a vacina.
- Mesmo assim, a Anvisa suspendeu a continuidade do estudo.
Outra vacina
- O governo fechou contrato para compra de 100 milhões de doses do imunizante feito pela AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido, que também passa por testes no Brasil.
Fonte: Governo federal, Anvisa, governo de São Paulo, Instituto Butantan e Conep.
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