"As pessoas radicalizaram, acharam que tinha acabado", desabafa médico de UTI
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Não existe um dia fácil na rotina de quem está na linha de frente do combate ao coronavírus. As preocupações e lutas de quem trabalha em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para atendimento de pacientes com Covid-19 parecem não ter fim e nos últimos dias têm voltado a preocupar ainda mais.
O médico intensivista e professor universitário Adenilton Rampinelli, que atua em Vitória, tem oito anos de profissão e confessa que nunca imaginou vivenciar um período como esse.
Ele trabalha em um hospital público e em outro particular na Capital. Na terça-feira (10), Adenilton fez um vídeo de alerta sobre novos casos que estão surgindo e postou nas redes sociais. No vídeo, ele faz um apelo para que as pessoas obedeçam as recomendações das equipes médicas. Veja o vídeo ao final da matéria.
“Vim aqui pedir a vocês para que permaneçam em casa, continuem com o afastamento social e usem máscaras. Na última semana aumentou muito o número de casos, a taxa de ocupação da UTI Covid bateu 81%, então estamos chegando perto dos números que a gente vivenciou no meio do ano”, afirmou o médico.

Em entrevista ao Tribuna Online, Adenilton contou que ele e a mulher tiveram a doença. Ele foi contaminado no final de março e teve sintomas leves, mas a mulher apresentou sintomas mais fortes.
Sobre a rotina no hospital, o intensivista explica que a demanda reprimida de cirurgias eletivas, que foram paralisadas durante meses, ocupa os leitos da UTI assim como pacientes com coronavírus. “O desafio é disponibilizar mais leitos e proteger os pacientes que não estão com Covid-19”, afirmou.
“Não está sendo fácil. Agora, quando achamos que íamos respirar, veio tudo de novo. Pode ser que aconteça uma catástrofe nos próximos dias”, desabafou Adenilton.
O intensivista acredita que “as pessoas radicalizaram, acharam que tudo tinha acabado, não entenderam o sentido de flexibilização. A pandemia não acabou, ainda vamos viver oscilações como essa (no número de casos)”.
“Nos últimos 10 dias eu pensei: será que vou aguentar? Dá um desespero começar a viver tudo novamente. Todo mundo sabe quais são as medidas de prevenção que devemos tomar, mas a população não consegue enraizar isso e faz tudo ao contrário”, destacou.
Segundo dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) nesta quarta-feira (11), o Espírito Santo tem 165.688 casos confirmados de coronavírus. Quase quatro mil pessoas morreram e 152.870 estão curadas.
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