Por que regular as redes sociais é obsoleto na era da IA
Confira a coluna desta quinta-feira (15)
As tentativas de regular ou censurar redes sociais estão se tornando cada vez mais ineficazes diante da rápida evolução da inteligência artificial (IA). É como tentar policiar carruagens puxadas por cavalos enquanto carros autônomos passam ao lado.
A IA está transformando a criação, a distribuição e o consumo de conteúdo – com deepfakes, algoritmos generativos, agentes autônomos e plataformas descentralizadas. Essa nova dinâmica frequentemente escapa dos mecanismos tradicionais de moderação. A regulação não acompanha a velocidade exponencial da inovação.
No Brasil, redes sociais são essenciais para pequenos negócios. Cerca de 70% dos microempreendedores usam plataformas digitais para vendas, e 48% já investiram em anúncios pagos. WhatsApp, Instagram e Facebook lideram o uso. Em episódios como o “apagão” das redes do grupo Meta em 2021, aproximadamente 70% desses empreendedores relataram prejuízos diretos.
O peso econômico também é evidente. Em 2023, os investimentos em publicidade no Brasil somaram R$ 23,4 bilhões, com 38,2% desse total vindo de canais digitais. O comércio liderou os aportes em redes sociais, que receberam R$ 35 bilhões. As plataformas, longe de serem apenas espaços de interação, tornaram-se alicerces da economia digital.
A inteligência artificial segue o mesmo caminho. No Brasil, os investimentos ultrapassaram US$ 1 bilhão em 2023, com previsão de impacto direto no PIB. Estudo da PwC estima que a IA poderá adicionar até US$ 15,7 trilhões à economia global até 2030. No País, os ganhos potenciais podem chegar a 7,1% ao ano, especialmente em setores como indústria, finanças, agro e saúde.
Economistas como Paul Romer, Prêmio Nobel, defendem que o crescimento sustentável vem da aplicação de “ideias produtivas” – e a IA é uma das mais poderosas. Erik Brynjolfsson, de Stanford, argumenta que vivemos uma nova Revolução Industrial, na qual o capital intelectual supera o físico. Países que investirem em infraestrutura de dados e educação digital vão liderar o futuro.
A história traz um alerta: no século XV, Johannes Gutenberg revolucionou a comunicação ao inventar a imprensa. Autoridades da época tentaram barrar a circulação de livros e ideias, temendo sua força transformadora. A censura falhou. A difusão do conhecimento impulsionou a Reforma Protestante e as mudanças profundas nas estruturas de poder. Hoje, vivemos processo semelhante – em escala digital e velocidade exponencial.
Mais que ineficaz, a regulação excessiva pode se tornar politizada, aplicada de forma seletiva e usada para silenciar dissidentes. O resultado é a erosão da confiança pública.
O desafio, portanto, não é endurecer regras para plataformas que já estão sendo superadas, mas preparar a sociedade para o que está por vir. O futuro pertencerá às nações que souberem navegar — e não barrar — a maré das transformações tecnológicas.
MARCILIO R MACHADO é ex-presidente do Sindiex e diretor da Famex Importadora