Intervenções em monumentos históricos sob um novo olhar
Os questionamentos sobre intervenções em monumentos históricos, presentes sempre que há o anúncio de restauro de um equipamento importante capixaba, voltaram à tona com a divulgação do projeto de reforma do pátio externo do Forte de São Francisco Xavier da Barra, na Prainha, Vila Velha.
Tudo começou no mês passado, com um concurso entre arquitetos para a criação de um projeto para o espaço Vista do Forte, um dos ambientes da mostra, que neste ano acontecerá no 38º Batalhão de infantaria. A competição propôs aos competidores uma intervenção no local que, finalizada a mostra, passará a funcionar em caráter permanente, como “Centro Cultural São Francisco Xavier”.
Em linhas gerais, o projeto vencedor idealizou uma cobertura de aço e vidro em forma de vela, que remete ao mar, e substituirá a atual cobertura em lona, protegendo o histórico monumento. O local possui uma exuberante vista para a Baía de Vitória, hoje bloqueada por cobertura inadequada que interfere na vista da Ponte, do Moreno e do Convento.
Quero propor aos capixabas, neste texto, outra forma de debate sobre os projetos de restauro de monumentos arquitetônicos. Debates que saiam do antagonismo, do radicalismo, para o entendimento do como, de fato, a restauração é entendida atualmente.
Ao contrário do que tradicionalmente pensamos, os monumentos não são obras estáticas. Eles sofrem as consequências com as condições atmosféricas e os diversos tipos de usos socais, no decorrer do tempo.
Portanto, tão relevante quanto sua recuperação física, é entender que, com o passar do tempo, ocorrem evoluções sociais e arquitetônicas que demandam novos estilos, novas técnicas de construção e novos materiais. O restauro precisa passar por mudanças para se adequar aos novos tempos, desde que sejam acompanhadas e chanceladas por profissionais da área e órgãos afins.
A Pirâmide do Grande Louvre (em vidro e metal), instalada no museu em Paris, hoje com mais de 30 anos e que virou um ícone do Museu do Louvre, inaugurado no final do século XVIII, o mais visitado do mundo, é um bom exemplo disto.
Essas interferências são realizadas para promover a sustentabilidade cultural dos monumentos. Além de garantir a qualidade dos projetos com o uso de matérias e técnicas mais modernas, eles também precisam ser integrados à sociedade, ter uso público, garantindo inclusive a acessibilidade de todas as pessoas.
Por tudo isso, entendo que projetos comprovadamente responsáveis e que proponham um novo uso a patrimônios que estão deteriorados e em condições precárias, vão além de proteger a história. Eles contribuem para a construção de uma sociedade mais aberta e consciente com seus atrativos históricos e culturais.
Sou daquelas que aplaude e reconhece quem faz algo sustentável e inovador pela preservação do patrimônio histórico capixaba.
ERIKA KUNKEL é presidente do Instituto Modus Vivendi.