Fake news na área da saúde é uma epidemia paralela
Como se não bastasse a trágica situação que o sistema de saúde enfrenta em razão da pandemia causada pela Covid-19, há uma luta diária contra outro inimigo: a desinformação. O constante surgimento de notícias falsas torna o trabalho dos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde ainda mais complexo neste momento tão delicado.
O paciente mal-informado, aquele que consome notícias falsas compartilhadas principalmente nas redes sociais, pode tornar-se resistente aos tratamentos propostos pelos médicos e comprometer a própria melhora. Ao contestar o conhecimento científico, ele acaba provocando ainda um desgaste na relação com o profissional que está ali exatamente para salvar sua vida.
No último ano, fomos atingidos por uma enxurrada de notícias falsas relacionadas à Covid. Assistimos a uma onda de informações que apontavam contra a eficácia do uso das máscaras, que questionavam o poder de imunização das vacinas e indicavam remédios milagrosos para o enfrentamento precoce do vírus. Esses fatores certamente contribuíram para que a pandemia se propagasse exponencialmente.
Um estudo publicado na revista American Journal of Tropical Medicine and Hygiene mostrou que o consumo de notícias falsas durante a pandemia pode ter sido a causa direta de inúmeras mortes no mundo. A análise apontou que o excesso de notícias pela internet e redes sociais, definido como “infodemia”, tornou difícil para o público identificar as fontes confiáveis.
O problema está em toda parte. Dias atrás, pessoas estavam se recusando a tomar a vacina AstraZeneca contra a Covid no Distrito Federal devido às fake news espalhadas pelas redes sociais. A energia dispendida para desmentir as informações enganosas poderia estar sendo utilizada para outras finalidades, tais como a conscientização da população com conhecimento baseado em ciência.
Com o aumento do número de mortes no País pela Covid, e a persistência dos estudos científicos em comprovar a eficácia dos diversos imunizantes disponíveis pelo mundo, as pessoas começam a responder de forma mais positiva à vacina. Em dezembro, 73% da população afirmava que iria se vacinar. Mais recentemente a intenção de ser imunizado subiu para 89%. O intuito de receber o imunizante cresce proporcionalmente à escolaridade e à renda, de acordo com pesquisa do Datafolha. Contudo, há ainda cerca de 9% que dizem que não pretendem se vacinar. Outros 2% não sabem.
Infelizmente, grupos de fake news não param de trabalhar para divulgar factoides para confundir a população. É necessário estar atento. Busque notícias de fontes confiáveis, verifique a data da matéria, pesquise se as informações recebidas por meio das redes sociais estão também nos telejornais tradicionais e nos portais dos grandes veículos de comunicação.
Com esses cuidados, você pode evitar que uma notícia falsa seja passada adiante. Cuidar da informação também é uma questão de saúde pública. Não se deixe contagiar, fake news mata.
Gustavo Peixoto é médico e diretor de Mercado da Unimed Vitória.