Construir pontes
Confira a coluna desta segunda-feira (12)
Pela primeira vez, na história, um cardeal americano-peruano, Robert Francis Prevost, foi eleito papa – antes, nas Américas, o único, havia sido o argentino, Francisco. Adotou o nome de Leão 14, que evoca São Leão Magno – governou a Igreja de 440 a 461, e foi o 45º sucessor na cátedra de São Pedro. Enfrentou Átila e Gengiscan, os terríveis conquistadores do século V, poupando Roma de segura destruição.
É um dos quatro grandes Doutores da Igreja do Ocidente, ao lado de Santo Agostinho, Santo Ambrósio e São Girôlamo. Defendeu o primado papal. Presidiu o Concílio de Calcedônia (451), o 4º Concílio da Igreja, que definiu, em Cristo, duas naturezas numa só pessoa.
Recorda, também, papa Leão 13, que governou a Igreja de 1878 a 1903, que reconciliou a Igreja com o mundo moderno, que tem como centro o homem. Na sua encíclica “Rerum Novarum” (a nova sociedade), abordou, pela primeira vez, temas de ordem social: nas questões trabalhistas, pediu o diálogo entre Estado, patrões e trabalhadores; condenou o socialismo (por sua sede de poder), o capitalismo (por sua fome de acumular riquezas), o anarquismo, por ser individualista e antissocial, e a laicização da sociedade, por gerar hipocrisia e materialismo.
Afirmou profeticamente “a concentração do poder e das riquezas, nas mãos de poucos, causa opressão e indigência dos povos”.
Leão 14 é um agostiniano – ordem religiosa, fundada no espírito de Santo Agostinho (354-430), dedicada à promoção humana das classes pobres, à educação da juventude e à vivência da fé em comunidade.
Graduado em Matemática e Direito Canônico, foi missionário e bispo no Peru, por 20 anos. Por dois mandados foi Superior Geral da Ordem Agostiniana. Papa Francisco o nomeou “prefeito do Dicastério para os bispos” – encargo relevante, no Vaticano, por supervisionar a seleção de novos bispos. Bateu de frente com Trump e o seu vice, Vance, por sua política anti-imigratória e por erguer muros e expulsar imigrantes.
Optou, por estar ao lado dos pobres e oprimidos e por uma Igreja missionária, “em saída”: “Ordem peremptória de Jesus – dada aos discípulos, como seu testamento espiritual, antes de seu regresso ao Pai, no dia de Sua Ascensão ao céu – foi anunciar o Evangelho a toda criatura. Um bispo – finalizou – não pode ser um pequeno príncipe, acomodado num sofá”.
Almeja levar adiante o sonho de Francisco: uma Igreja sinodal, em que todos participem, de modo consciente e responsável. Tem uma personalidade luminosa e solar; amigo da ciência, dos esportes, das artes, da cultura e dos meios de comunicação social.
No seu primeiro discurso, na sacada da Basílica de São Pedro, por duas vezes, exaltou o legado de Francisco e exortou todos a construir pontes, dialogar, multiplicar encontros, acolher de braços abertos o diferente, ser humildes e dar atenção ao grito dos pobres e oprimidos, que nos interpelam.
Recordou uma expressão típica de Santo Agostinho: “Convosco, cristão; para vós, bispo”. Conduzirá 1,4 bilhão de católicos em nossos tempos tão turbulentos. Seu lema agostiniano: “Uma só alma e um só coração para Deus”. A ele, nossa obediência filial.
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