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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Casamento, amor às cegas e a validação das ilusões

MARA TELMA DE OLIVEIRA GOMES MARTINS | 02/11/2021, 10:35 h | Atualizado em 02/11/2021, 10:35

Foi em “Os Contos de Cantuária” que Geoffrey Chaucer, considerado por muitos o pai da literatura inglesa, popularizou a frase “o amor é cego”. Sete séculos depois, o reality show da plataforma de streaming mais assinado do País – “Casamento às cegas Brasil” – pretende testar a premissa de Chaucer em um pseudoexperimento no qual solteiros devem se escolher, sem se ver a princípio, para irem evoluindo até possivelmente chegarem ao altar se o amor triunfar.

Primeiramente, os participantes conversam durante dez dias às cegas por meio de cabines. Após estabelecerem laços emocionais e ficarem noivos sem nunca terem se visto, os casais formados podem se ver pela primeira vez e passar alguns dias em “lua de mel” para testar a “química”. 

Logo depois cada par vai morar junto por um mês para pôr em prova a convivência antes de efetivamente se casar.

Há algo de irresistivelmente atraente no conceito de o amor ser cego, porque, em um mundo no qual tudo é aparência, é sobre amar o lado interno da pessoa, a sua personalidade, sem colocar os holofotes unicamente nos atributos físicos. 

Apesar de a ideia não ser inédita, essa série alega tentar comprovar tal pressuposto dentro de nosso zeitgeist (espírito da época). Neste ponto, no entanto, é preciso colocar a criticidade em prática e ir um pouco além do ribombo eufórico da repercussão da série. 

“Casamento às cegas Brasil” não é sobre experimento, amor, nem sequer sobre matrimônios. É um show coordenado de entretenimento sobre o que realmente são os programas que possuem tal DNA – validação de ilusões.

É sabido que, por meio de livros, filmes, peças teatrais, obras de arte em geral, revista, por exemplo, os seres humanos têm as suas ilusões refletidas e reafirmadas. No entanto, nos reality shows, as projeções são mais cirúrgicas e intensas, pois tais programas foram criados exclusivamente para esse feito. Como bem nos lembra Oscar Wilde no prefácio de “Dorian Gray” – “É o espectador e não a vida que a arte realmente reflete”. 

Os seres humanos precisam ter as suas fantasias revalidadas, e esse programa faz isso de forma eficiente, as quais sejam: visão extremamente romântica e idealizada da vida a dois; acreditar na existência da intimidade em sua concepção mais profunda; almejar rapidez na evolução dos relacionamentos, pulando etapas; entender o enlace conjugal como conto de fadas com príncipes e princesas vivendo o “felizes para sempre”. 

Consoante ao psicanalista francês Jacques Lacan, isso ocorre porque as pessoas necessitam de permanecer na ficção, sob o poder da ilusão, para melhor lidarem com as ideologias, nossas relações espontâneas com o mundo, sendo essa uma forma de vínculo social que determina valor e significação em nossa realidade efetiva.

Ante o exposto, é normal usar a ilusão simbólica como ferramenta para se relacionar no mundo. Todavia, há de existir um estado de consciência mais alerta para separar a ficção da realidade ou o casamento às cegas fracassado poderá ser do telespectador consigo mesmo.  

MARA TELMA DE OLIVEIRA GOMES MARTINS é psicóloga.

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