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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

A perversão pela mentira e a verdade como laço civilizatório

| 31/01/2021, 10:52 h | Atualizado em 31/01/2021, 11:00

A via que corrói insidiosamente a existência civilizada se pavimenta pela ruína diuturna da verdade factual como laço social. Sob a farra das fake news e a permissividade das redes, testemunhamos a subversão/negação da realidade objetiva e a consolidação de uma sociabilidade perversa, aquela em que vale a versão/vontade do mais forte, do mais ardiloso...

A verdade factual como laço social é inestimável conquista civilizatória. A partir da sagração iluminista do saber científico como base para relações socioeconômicas e político-culturais, ela foi se tornando um norte potente à caminhada humana.

Suplantando crendices, dogmas, discursos redentores etc., passou a empoderar cidadãos e comunidades, uma vez que oferta indistintamente referências objetivas e racionais para formulação de reflexões e decisões autônomas.

Por isso, a era da pós-verdade (“quando fatos objetivos são menos influentes em formar a opinião pública do que os apelos à emoção e à crença pessoal” – Dicionário Oxford) é também a era do recrudescimento de regimes de violência e de ódio, numa guerra de narrativas personalistas e negacionistas, cujo alvo central é a visão racional do mundo e sua maior porta-voz, a verdade factual.

Freud alertou que “os juízos de valor dos homens são inevitavelmente governados por seus desejos de satisfação, e, portanto, são uma tentativa de escorar suas ilusões com argumentos”.

Uma sociedade que abre mão da verdade como laço intersubjetivo marcha para a condição de agrupamento submetido a “donos da verdade”, distanciado da verdade racional, social e cientificamente constituída.

Nessa direção, estamos caminhando a passos largos. Dufour argumenta que já ultrapassamos a perversidade de primeira ordem, aquela que reconhecia a verdade, ainda que a subvertesse. Temos hoje o crescimento assustador da perversidade de segunda ordem, aquela que rompe com a verdade.

A verdade factual nunca foi unânime, mas o que se assiste nesta era do mal midiatizado é algo inédito. Tem-se um difuso esgarçamento de relações minimamente equilibradas e respeitosas, com graves danos à dignidade humana e à cidadania.

É urgente priorizar a restauração da verdade como laço fundamental de convivência. É imperioso repelir o culto à mentira e aos mentirosos, condenando-os como inimigos do bem comum.

Apesar de também ser cinicamente usado para ludibriar, o versículo bíblico porta uma realidade inegável: a verdade liberta. É preciso, pois, combater a mentira como meio de redução do outro a mero objeto de manipulações.

É crucial frear grotescos interesses e nefastos impulsos hostis em tentativas velhacas, se não criminosas, de estabelecer “discursos de verdade” como se fossem verdades objetivas. Sem verdade, não há fraternidade, muito menos lealdade. E sem estas, como ter esperança?

José Antonio Martinuzzo é doutor em Comunicação, pós-doutor em Mídia e Cotidiano, professor na Ufes e membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória.

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