Setembro Amarelo é todo dia
Atualmente, o suicídio é uma das principais causas de morte no mundo. Para se ter uma ideia, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), nos países que não estão em guerra, ele é a segunda causa de morte entre pessoas de 18 a 40 anos.
Aqui no Brasil, fica atrás apenas dos traumas e violência urbana. A cada quarenta segundos, uma pessoa tira a própria vida no mundo. Com informações tão preocupantes, é urgente dizer que o suicídio deve ser debatido não somente no mês de setembro, mas durante todo o ano.
Poucos podem ter essa percepção, mas prevenir o suicídio é possível. Não é uma causa perdida, e, por muitas vezes, pode ser evitado. Por isso, o mote da campanha Setembro Amarelo deste ano é: “Agir salva vidas”.
Geralmente, existem sinais que indicam que uma pessoa está cogitando tirar a própria vida. Estima-se que 90% das pessoas que puseram fim às suas vidas tinham algum transtorno mental e 60% estavam deprimidas. Além disso, aqueles que já tentaram o suicídio estão mais predispostos a tentar mais uma vez.
Por isso é preciso estar atento para poder agir. A quantidade de tentativas de suicídio supera em quase vinte vezes as mortes. E engana-se quem acredita que as pessoas que falam em cometer suicídio estão apenas querendo chamar atenção.
Boa parte dos suicidas expressou, em dias ou semanas anteriores, aos profissionais de saúde, familiares ou amigos, o seu desejo de se matar. Existem os casos que são impulsivos, mas a maioria dos suicidas premeditam o ato, deixam cartas, dividem bens e fazem doações não usuais.
A possibilidade de suicídio está presente em todas as classes sociais e as idades, apesar de ser mais prevalente entre jovens e idosos. De acordo com a OMS, é a segunda causa de morte entre jovens, porém a incidência de suicídio entre pessoas com mais de 70 anos é a mais elevada. Por isso, é necessário também um olhar mais atento para os jovens. Informações compiladas a partir de uma pesquisa feita em 12 países mostram que, um quarto dos jovens entre 18 e 24 anos em todo o mundo considerou seriamente o suicídio nos últimos 30 dias.
O suicídio não tem uma cara, mas a intenção de tirar a própria vida tem sinais bastante contundentes. Doenças mentais não tratadas ou não diagnosticadas adequadamente podem levar ao suicídio. Entre os transtornos psiquiátricos mais recorrentes estão depressão, transtorno bipolar, alcoolismo, dependência ou abuso de substâncias ilícitas, esquizofrenia e transtornos de personalidade.
Outros fatores importantes que merecem atenção são desesperança, desamparo e impulsividade, doenças crônicas graves, abandono, abuso, discriminação por orientação sexual, histórico familiar, genética e fatores sociais, como desemprego, solidão.
A conscientização deve ser feita durante todo o ano. Temos que conversar sobre isso de setembro a setembro. É necessário repetir, quantas vezes forem necessárias, que o suicídio não deve ser um tabu. Precisamos nos informar.
A pessoa que tenta o suicídio, muitas vezes, ela não quer tirar a própria vida, mas sim matar o sofrimento que está dentro dela.
Maria Benedita Reis é médica psiquiatra e membro da APES e da ABP.