O luto e a luta de mães que perderam filhos para a violência
Coluna foi publicada nesta sexta-feira (24)
Viúva é o nome que se dá à mulher que perde o cônjuge. Órfã é a que perde os pais. Para se referir àquela que perde um filho, contudo, não existe uma palavra específica, ou seja, não há nomeação. Passar pela inesperada experiência de ver um filho morrer é uma dor que não tem nome, mas pode ter algozes, e um dos mais cruéis é a violência.
Todos os dias, noticiários de todo o Brasil estampam casos de jovens que têm suas vidas ceifadas precocemente, seja em assaltos, imprudências criminosas de trânsito, brigas, bullying criminoso. E no caso de mulheres, a situação ainda é agravada pelos inúmeros casos de feminicídios que acontecem, inclusive, no Espírito Santo, por companheiros, familiares ou meros desconhecidos que praticam monstruosidades.
Com o coração dilacerado e a vida devastada, essas muitas mães ainda buscam forças para lutar contra a injustiça, que se manifesta de tantas formas e potencializam o sofrimento do luto. Desde o início deste ano, as mortes de mulheres (jovens e aquelas de mais idade) são notícias recorrentes, de Norte a Sul do nosso Estado.
E os desdobramentos não param na dor latejante que fica para sempre. Os desfechos das tragédias passam por assassinos que ficam pouquíssimo tempo na cadeia com uma vida inteira pela frente para se regenerarem (ao contrário de suas vítimas), e outros que nem sequer são encontrados e seguem livres para cometerem mais crimes.
Muitas vezes, as mães enlutadas ainda precisam lutar pela honra e pela dignidade de seus filhos e filhas, que mesmo depois de mortos, são responsabilizados pelo que sofreram e parecem receber um julgamento mais rígido que seus próprios algozes.
Os muitos casos recentes de mães que perderam seus filhos para a violência nos levam ainda mais a refletir sobre o quanto a justiça precisa ser feita. Fala-se muito na necessidade de mudança das leis, que em grande parte favorecem a impunidade, e sem dúvidas essa é uma reivindicação legítima e urgente. Contudo, faz-se necessário, no momento presente, a aplicação rigorosa da legislação vigente, sem tantos adendos e brechas que minimizam a culpabilidade de crimes tão bárbaros que chegam ao nosso conhecimento todos os dias. É por esse motivo que o luto se transforma em luta na vida de muitas mulheres que compartilham da mesma tristeza da perda.
Neste mês de maio, considerado o mês das mães, muitas não podem festejar essa ocasião, mas a dor de cada uma delas precisa ser priorizada pela justiça dos homens. A recorrência constante das tragédias não pode normalizar a violência que muda o curso natural da vida e leva tantas mães a enterrarem seus filhos amados.
A luta que nasce do luto precisa ser amparada pela lei, pelos legisladores e por todos aqueles responsáveis por aplicar a justiça em todas as esferas. E que, assim, as mães sem nome tenham o direito de tentar refazer suas vidas sem o peso doloroso da impunidade.
