O atleta deve tratar o próprio corpo como um templo
Os esportes de alto rendimento exigem muito dos atletas e aquela frase “no pain, no gain” (em tradução livre, sem dor, não há ganho) é uma constante na rotina desses esportistas.
A vida de um atleta profissional é acompanhada de uma carga excessiva de esforço físico diário e pela vulnerabilidade a lesões musculares, articulares, ósseas e ligamentares.
É raro encontrar um esportista que não sinta uma dor sequer. Mas, para quem acha que basta parar os treinos para a lesão sarar está enganado.
A retirada de treino dos atletas que são de alta performance afeta sim no funcionamento de suas articulações, principalmente no fator propriocepção.
A propriocepção é o feedback e a capacidade inconsciente de sentir o movimento e a posição das articulações no espaço pelo sistema nervoso central, sem usar outros sentidos. Esse ajuste fino na habilidade do atleta depende de treinamentos específicos, e a falta de estímulos faz com que haja uma redução transitória.
Eu diria até mesmo que é normal atletas de alta performance competirem lesionados, tendo em vista que sempre estão se reabilitando de alguma lesão.
Os riscos de sobrecarregar a “máquina” são de agravamento da lesão, ou até mesmo gerar outras lesões pelas repercussões biomecânicas que podem vir.
As lesões mais comuns dos atletas vão depender de qual modalidade desportiva é praticada. A exemplo dos corredores de atletismo, o estiramento da muscular posterior de coxa (flexores) é muito comum.
Já os tendões são estruturas com a função de unir o músculo ao osso, agem como uma corda. São estruturas pouco vascularizadas e com baixa capacidade de cicatrização, formando um tecido fibrótico e desordenado no local da lesão.
Terapias regenerativas, como a terapia por ondas de choque, estimulam a formação de novos vasos sanguíneos com rápida recuperação. Porém, não há ganho estrutural em casos de ruptura.
No Brasil, o plasma rico em plaquetas e as células-tronco seriam uma opção não cirúrgica, que tem potencial para recuperar estruturalmente tecidos, mas são liberadas apenas para realização em estudos, não sendo disponíveis para tratamento em consultório.
E não são somente os atletas que sofrem com lesões. A rotura do tendão do quadríceps é relativamente comum em pacientes acima dos 50 anos na população geral. A falta de ativação excêntrica dessa musculatura nas atividades físicas faz com que haja maior ganho de musculatura do que qualidade de tendão, predispondo a essa lesão.
Outro problema é a fascite plantar que está também relacionada à obesidade e o uso de calçados inadequados que não permitem o acomodamento correto do arco plantar.
Para evitar essas lesões, o atleta deve tratar o próprio corpo como um templo. Deve ter acompanhamento médico e saber a hora de parar ou pausar. Nem sempre é preciso dor para ganhar, ou melhor, dor é sinônimo de problema e não de solução.
NILO NETO é ortopedista