Mobilidade e humanidade: “obras óbvias”
Confira a coluna desta quarta-feira (08)
Acordo 40 minutos antes de chegar ao meu trabalho, cujo trajeto costuma levar 15 minutos, da Enseada do Suá à Praia da Costa. No retorno para casa, por volta das 18 horas, costumo pegar um trânsito “insuportável” na chegada a Vitória, de quase 30 minutos (em grande parte provocado pelo gargalo da Praça do Cauê), o que é atenuado pelo ar-condicionado e música do Spotify, em meu automóvel.
A doméstica que trabalha em minha casa mora em Balneário Ponta da Fruta, Vila Velha. Ela acorda às 5 horas, pega um ônibus às 5h30, que a leva até o Terminal de Itaparica, onde pega outra condução até chegar na Enseada, cujo trajeto ultrapassa 2 horas (novamente agravado pela Praça do Cauê, em Vitória). Na volta para casa, ela sai do trabalho por volta das 16h30, chegando em casa perto das 19 horas.
Em suma, ela perde quase 5 horas diárias de sua vida com tais trajetos, e consigo imaginar – distantemente – o impacto disso na saúde física e mental dela e de sua família.
Ao contrário de alguns críticos que comentam que a ampliação da Terceira Ponte não melhorou o trânsito, afirmo, sem sombras de dúvidas, que melhorou e muito, principalmente para a população que utiliza o transporte coletivo, de modo geral a população mais carente.
Além da melhoria criada aos veículos de serviço (como os de segurança pública e ambulâncias que transportam emergências de nossos familiares enfermos), trouxe maior segurança aos motociclistas (aqueles que trazem nossa food quentinha). Essa faixa exclusiva, mais do que um olhar egoísta sobre a mobilidade (do meu confortável automóvel!), é um avanço na humanidade de nossa sociedade.
Outras importantes obras estão sendo conquistadas na Região 5 – Praia do Canto, que abrange a Enseada do Suá e os acessos à Terceira Ponte. Tais obras são fruto da união das comunidades dessa região, cientes do seu problema cotidiano e de que algumas soluções eram “óbvias”.
Uma delas, já executada, foi o acesso à Terceira Ponte pela Rua Dukla de Aguiar, que permitiu “devolver” ao bairro de Santa Helena, a Rua Almirante Soído como uma via local, trazendo qualidade de vida e acessibilidade aos moradores do entorno. Outras importantes melhorias estão por vir ainda nesse pacote, como o acesso à Terceira Ponte pela Avenida João Batista Parra.
Mas é necessário ir além! Vias arteriais metropolitanas precisam recepcionar a faixa exclusiva da Terceira Ponte, sendo necessária algumas obras específicas para três faixas com continuidade: a ampliação da Avenida Carioca, em Vila Velha, e a reconfiguração (com ampliação) da Praça do Cauê, interligando a Terceira Ponte à Reta da Penha em via retilínea com três faixas.
Um pouco mais distante, torna-se necessário avançar para o binário da Rodovia do Sol, na região de Praia de Itaparica, e a ampliação de faixas da Segunda Ponte. Essas são mais algumas obras que podemos considerar óbvias. A mobilidade – e a saúde –, em especial da população mais carente, agradece.