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Louca delegacia

Como afirma Bertrand Russell, “a humanidade tem dupla moral: uma que prega, mas não pratica, e outra que pratica mas não prega”

Pedro Valls Feu Rosa | 19/06/2023, 14:39 h | Atualizado em 19/06/2023, 14:40

Imagem ilustrativa da imagem Louca delegacia
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo |  Foto: Arquivo AT

Era uma vez uma delegacia muito estranha. Os responsáveis por ela tinham o costume de torturar os presos, sempre sob as vistas e a concordância do Ministério Público e do Poder Judiciário. Este horror apenas ficou conhecido em detalhes pelo grande público graças a uma pequena parte da imprensa. 

Foi assim que em um único mês dado preso foi submetido a nada menos que 83 sessões de tortura! Ela consistia em simular o afogamento mergulhando sua cabeça dentro de um tanque de água. 

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Um outro preso não teve tanta sorte: passou por 183 sessões de tortura no mesmo período. Isto dá uma média de uma sessão de tortura a cada quatro horas – tudo, de forma absolutamente incrível, minuciosamente registrado pelos policiais – inclusive em vídeo.

A simulação de afogamento não era a única forma de tortura utilizada naquela estranha delegacia. Os policiais descobriram, por exemplo, que um dos presos ficava em pânico ao ver insetos. Cuidadosos, antes de o torturarem jogando lagartas dentro de sua cela, solicitaram por escrito autorização ao Ministério da Justiça. A resposta do governo foi inacreditável: “A utilização de insetos inofensivos é recomendada no caso de fobia de um detento”. 

Outros policiais eram menos sutis. Gostavam de arremessar os presos contra paredes. De forma a evitar que a coluna vertebral deles se quebrasse foram orientados pelo governo, por escrito, a colocar-lhes pedaços de pano ao redor do pescoço. 

Havia ainda os que gostavam de amarrar os presos a uma cadeira cujo encosto era inclinado. Aí enfiavam um pedaço de pano na boca deles e ficavam derramando água, dificultando ou mesmo inviabilizando a respiração. Sobre este tipo de tortura as autoridades governamentais estabeleceram que não se poderia jogar água por mais de 40 segundos a cada vez. 

As torturas foram tantas e tão cruéis que alguns parentes de presos e defensores dos direitos humanos se revoltaram e buscaram apoio junto ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. Nada conseguiram, claro, já que todas as sessões de tortura eram minuciosamente registradas e do conhecimento das autoridades, que as aprovavam. 

Esta estranha delegacia ainda existe e só recentemente seus métodos começaram a ser revistos. Ela não está localizada em nenhum país atrasado da África, Ásia ou América Latina. O horror que representa não faz parte do cotidiano de nenhum desses povos supostamente bárbaros e atrasados. 

Esta delegacia, conforme denunciou detalhadamente o jornal francês Le Monde, opera lá nos avançados e civilizados Estados Unidos. Funciona administrada pela CIA, ou “Central Intelligence Agency”, sob as vistas e a aprovação dos avançados e civilizados governo, Ministério Público e Poder Judiciário daquele avançado e civilizado país – que quase todos os anos critica o Brasil por violações aos direitos humanos através de pomposos relatórios. 

Fico a pensar em Bertrand Russell, segundo quem “a humanidade tem dupla moral: uma que prega, mas não pratica, e outra que pratica mas não prega”.

Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo

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