Espalhando amor
Leia a coluna de terça-feira (24)
É Natal! Para além da tradição religiosa, o 25 de dezembro é um convite à fraternidade universal. Para além do lucro do comércio, a troca de presentes mostra como é bom doar algo que talvez faça alguém feliz. Para além das preferências gastronômicas, a ceia natalina fortalece o espírito de fraternidade e o dom do compartilhamento. Haja luz, alegria, congraçamento e muita música, pois, assim, requer a tradição.
Como tudo na vida é complexidade, a tradição natalina acaba por causar contradições que não podem ser ignoradas. Se ela (a tradição) exige mesa farta, como ficam as famílias que têm muito pouco ou quase nada? Como comprar presentes quando falta até comida? Porquanto o problema exista desde sempre, a tradição exige que quem tem mais alivie o sofrimento de quem quase nada tem.
As tradições desempenham papel fundamental na configuração das sociedades. Práticas carregadas de simbolismo, ritos coletivos e cerimônias públicas fornecem valiosas indicações sobre os valores que as sociedades querem realçar, bem como sobre as condutas a serem evitadas. Não faço aqui a defesa da tradição como um bem em si mesma. É apenas uma dimensão da experiência humana, tanto quanto a inovação.
Uma vez consolidadas, as tradições exercem forte influência sobre como nos relacionamos, sobre o que fazemos e sobre a compreensão que temos dos eventos.
O presépio de Natal, por exemplo, no qual aparecem o Menino Jesus, Maria e José, alguns pastores e os Reis Magos, circundados por ovelhas, asnos e vacas, só foi surgir no século XIII, por obra de São Francisco de Assis, que desejava mostrar de forma concreta o ambiente de penúria relatado nos Evangelhos. Desde então, incorporado à tradição natalina, fixou no imaginário mundial o cenário no qual Jesus nasceu.
Que dizer das luzes de Natal? Representam, segundo a tradição, a alegria que deve marcar esta época do ano, o espírito festivo que se apossa de quase todos, a expectativa por boas dádivas, uma sugestão para deixarmos de lado os problemas da vida e dedicarmos pelo menos alguns minutos às coisas simples. Natal é tempo de amor e de alegria e faz todo sentido compartilhar estes sentimentos, iluminando tudo ao redor.
A tradição natalina também exige espírito desprendido e disposto a compartilhar coisas boas, e eu acredito que o canto coral ilustra muito bem esses atributos. Cantar em coral é, sobretudo, um ato de amor e de compartilhamento. O canto coral pressupõe entrega pessoal, dedicação, aprendizado árduo, diluição do individual em favor do coletivo, visando proporcionar ao público momentos encantadores de fruição estética, de emoção e de inspiração.
Esse é o sentido que procuramos dar aos concertos realizados pelo Instituto Todos os Cantos. Neste Natal, especialmente, convidamos todos a se unirem conosco nesta nobre tradição para espalharmos cada vez mais amor.