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A vontade da verdade

Confira a coluna de sábado (01)

José Antonio Martinuzzo | 03/02/2025, 13:35 h | Atualizado em 03/02/2025, 13:41

Imagem ilustrativa da imagem A vontade da verdade
José Antonio Martinuzzo é pós-doutor em Psicanálise (UERJ), doutor em Comunicação (UFF) e professor titular da Ufes

Fake news são um fenômeno desta era tecnológica, infoguiada por algoritmos mercenários. Mas os principais vetores do êxito da mentira como marca de um tempo são “humanos, demasiadamente humanos”.

A dar combustível à digitalidade maquínica da mentira lucrativa, com objetivos mercadológicos e políticos, está o espírito humano e suas vicissitudes. Primeiramente, pelo fato de que não há tecnologia autônoma – ainda. Se uma técnica dá vazão à maldade, é porque humanos a programam para isso.

Há quem entre na onda das fake news como vítimas da má-fé que assombra a atualidade. Aqui, é preciso, de um lado, instrução e aprendizagem para lidar com a existência em duas dimensões, a presencial e a digital, e de outro lado, regulação urgente e punição à criminalidade que viceja nos territórios informacionais.

Mas a contingência das fake news tem outros elementos que vão além dessa superfície do óbvio, aquela de perversos e incautos. Para entender a pandemia da mentira, também é preciso olhar para a estruturação subjetiva.

A lógica empresarial do mercado da atenção só funciona porque cada usuário “trabalha” para capturar a atenção alheia, que será negociada pelos donos do negócio. Cada tela é um alçapão tecnológico para isso.

Ao “trabalhador”, cuja função é empenhar sua atenção e fazer de tudo para atrair a do outro on-line, cabe o gozo de confirmar sua existência pelo suposto olhar alheio, em meio à imensidão de perfis. Ademais, há a satisfação de uma excitação midiática que se tornou um vício no rolê das telas mesmerizantes.

E, como confirmam as pesquisas – e o próprio negócio que faz de tudo para evitar quaisquer amarras ético-legais –, engajamento e frenesi estão diretamente ligados a conteúdos explosivos, não raramente mentirosos e tornados virais.

Além dessa busca por atenção e excitação midiática, é preciso salientar algo do humano que se torna bastante complexo num tempo de pós-verdade dinamizado por inteligência artificial empresarial: o desejo de iludir-se.

Freud avisou: “Os juízos de valor dos homens são inevitavelmente governados por seus desejos de satisfação, e, portanto, são uma tentativa de escorar suas ilusões com argumentos”. E o que mais circula por aí é mentira com cara de verdade para sustentar todo tipo de ilusão. Bolhas de delírios são como praga nos territórios digitais.

Precisamos constituir regulações, conter abusos e punir crimes. Precisamos de educação midiática. Mas precisamos, de igual modo, restaurar a cultura do valor e da vontade da verdade como farol da vida, uma herança iluminista. Sem o desejo pela verdade, estaremos fadados à alienação da realidade e sujeitos à ruindade sem limites da falsidade multimídia.

A mentira, seja como panaceia alucinatória às subjetividades, seja como laço social perverso entre pessoas e grupos os mais diversos, é uma tragédia na linha do tempo da Humanidade, capaz de ressuscitar monstros – capaz, principalmente, de minar a fraternidade e a lealdade, sem as quais não há esperança para os viventes.

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