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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

A origem bíblica da escravidão e do racismo moderno

Flávio Santos Oliveira | 18/11/2021, 10:59 10:59 h | Atualizado em 18/11/2021, 10:59

Embora muitos considerem os textos bíblicos como a própria palavra revelada, ela constitui, outrossim, uma importante fonte histórica para entender o passado. De fato, as histórias ai narradas não apenas inspiraram a produção de magníficas obras de arte e literária, mas também fundaram as bases últimas de uma leitura enviesada para justificar a escravidão e o racismo modernos.

Em Gênesis 9:18-26, lê-se que Noé, após o dilúvio, embriagou-se e despiu-se. Seu filho Cam, viu-o nu, saiu e foi contar aos irmãos, Sem e Jafé, que o cobriu com um manto. Quando Noé acordou do efeito do vinho e descobriu o que Cam havia feito, disse-lhe: “Maldito seja sua descendência. Escravo de escravos serás tu para os seus irmãos”. 

Cam migrou para  Canaã. Sua progênie, no entanto, foi expulsa, dirigindo-se, entre outras, para o Chipre, Egito e Cush , como a Etiópia era chamada pelos judeus para significar, já sob fortes conotações racistas, os ditos “negros” ou “cor de carvão”.

Decerto, embora a escravidão seja uma instituição tão antiga quanto a História, no século VIII, quando os muçulmanos conquistaram o norte da África e a península ibérica, verifica-se uma mudança gradual nas atitudes dos europeus em relação à escravidão, a qual passou a ser vista como instrumento para a educação espiritual, ou seja, entendia-se que a condição dos escravos era na verdade um meio para alcançar a redenção por meio da penitência.

A esse respeito, é emblemática uma interpretação torta da filosofia de St. Agostinho, o qual predicava que Jesus, após ascender aos Céus, legou à humanidade a “Luz de Cristo”, como meio para a compreensão do Evangelho. 

Por conseguinte, aqueles que não alcançassem esta verdade eram  considerados  desprovidos da faculdade de pensar, logo desalmados, razão pela qual se poderia dispensar-lhes o tratamento imputado a um animal. 

Sobre isso, cumpre frisar que o termo “escravo”, em praticamente todas as línguas européias, refere-se simplesmente aos eslavos, isto é, os “não-cristãos” que habitavam o leste europeu, de onde se obtinha boa parte da mão de obra cativa, cujo comércio,  foi declinando ao longo da Baixa Idade Média.

Com a modernidade, europeus buscaram na Bíblia uma forma de legitimar a escravidão de outros povos, com alguns acreditando que  africanos, como "filhos de Cam”, haviam sido escolhidos para esse destino, mesmo que se tornassem cristãos. 

Nesse sentido, tanto católicos quanto protestantes buscaram encontrar nas tradições de interpretação bíblica as ideias que justificassem de um ponto de vista moral a escravidão, a fim de tranquilizar o dono ou comerciante de escravos se eles fossem piedosos - e talvez mesmo se não fossem.

O resultado  deixou consequências indeléveis para os africanos e  seus descendentes, expressas, sobretudo, no racismo, que historicamente assumiu diferentes formas, desde atrocidade e segregação, até os modos mais sutis de discriminação que  perduram até hoje.

Flávio Santos Oliveira é professor e doutor em História.

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