A normalização da obesidade e os riscos para a saúde
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (09)
Têm sido cada vez mais comuns movimentos em favor da autoaceitação como forma de combater estigmas estéticos, comportamentais e sociais que segregam e impactam negativamente na autoimagem. Olhar para si mesmo, sem comparações e cobranças, é fundamental para preservar a autoestima, que, por sua vez, contribui para o amor próprio e o respeito por nós mesmos.
Por outro lado, percebe-se uma realidade preocupante: a normalização de algumas condições nada saudáveis, a exemplo da obesidade.
É fato que uma pessoa com excesso de peso não deve sofrer nenhum tipo de preconceito ou discriminação. Contudo, a obesidade é uma doença que mata e agrava muitos outros problemas de saúde. Na extensa lista, estão a dislipidemia (aumento do colesterol e triglicérides), esteatose hepática (gordura no fígado), que, em casos graves, pode levar a uma hepatite, dores articulares, doenças cardiovasculares, problemas osteoarticulares, como hérnias de discos, além de ser fator de risco para, pelo menos, 12 tipos de câncer.
Algumas personalidades influentes vêm disseminando fortemente a ideia de que o excesso de peso não deve ser considerado um problema de saúde, e apontam essa classificação como preconceituosa e quase criminosa.
Relativizar uma doença, seja ela qual for, é colocar em risco a vida de pessoas que precisam ser respeitadas, mas também tratadas.
Aceitar o próprio corpo não é normalizar uma condição patológica. É olhar para si mesmo com respeito e cuidado, e buscar mudanças que irão prevenir doenças, promover ajustes e trazer qualidade de vida, benefícios que todos merecem desfrutar, independente de suas crenças ou ideologias.
Tratar a obesidade como algo normal e minimizar seus riscos é se privar de viver mudanças positivas, e isso leva a comportamentos prejudiciais que, a médio e longo prazos, podem trazer consequências graves, inclusive para pessoas jovens.
A luta contra a discriminação e a gordofobia, portanto, não pode se confundir com a glamourização da obesidade, e quando isso torna se uma realidade que pode ser vista com recorrência, principalmente nas redes sociais e demais plataformas populares, é necessário fazer um alerta sobre os perigos de estigmatizar uma condição, ignorando as evidências científicas.
Há uma grande diferença entre aceitar e respeitar cada pessoa com suas características físicas (e quaisquer outras) e incentivar uma doença. A discriminação precisa ser combatida e o preconceito jamais deve ser estimulado, mas é preciso levar em conta as evidências que atestam a obesidade como patologia grave e em escala crescente, incluindo os mais pobres. E ninguém tem menos valor por enfrentar um problema de saúde, independente do seu peso, da sua idade ou sua condição financeira ou social.
Mais do que gostar de si mesmo, o amor próprio consiste em compreender as próprias imperfeições, reconhecer suas necessidades e não medir esforços para alcançar o bem-estar que sua vida precisa e merece.