A ignorância não é invencível
Confira a coluna desta sexta-feira (28)
Vivemos tempos em que as palavras, mais do que nunca, se tornaram armas de destruição em massa. A desinformação, impulsionada por um ciclo contínuo de mentiras e estratégias falaciosas, corrompe a essência do debate público, criando divisões e polarizações que são mais devastadoras que produtivas.
E isso não é um fenômeno isolado. Estamos imersos em um ambiente onde a educação é deficiente, a capacidade de reflexão está em declínio, e a capacidade de distinguir entre o que é verdadeiro e o que é manipulado parece cada vez mais desafiadora.
O meu livro, “Burro, eu? Burro é você”, nasceu da indignação ao perceber que, em muitas discussões nas redes sociais, a racionalidade cedeu lugar ao instinto, à raiva, à manipulação. E o que mais me assusta é a perpetuação de um ciclo vicioso de mentiras, que não só afasta as pessoas umas das outras, como também impede o crescimento da sociedade como um todo.
É possível observar um padrão em diversas interações on-line: a troca de argumentos sólidos por ofensas pessoais, a disseminação de informações falsas que, por mais evidentes que sejam suas falácias, continuam a se propagar como se fossem verdades absolutas. A ironia? Muitas dessas inverdades são aceitas de forma tão natural que as pessoas, ao invés de questionarem, se deixam levar pela onda de “confirmação” que, muitas vezes, está enraizada em uma visão de mundo particular e fechada.
O que está em jogo, portanto, não são apenas discussões ideológicas, mas também a capacidade de entender o outro, de construir pontes, de realmente pensar. Em um cenário onde a educação está aquém do ideal, onde a pesquisa científica foi relegada a um segundo plano e o pensamento crítico parece ser um artigo raro, surgem questões: até que ponto somos responsáveis por isso? Até que ponto estamos permitindo que a desinformação prevaleça e que, ao invés de resolvermos questões fundamentais, simplesmente nos distanciamos uns dos outros?
É urgente uma reflexão sobre o papel que cada um de nós desempenha nessa dinâmica. O que estamos fazendo para mudar essa realidade? O que estamos fazendo para buscar fontes confiáveis de informação, questionar nossas próprias certezas e engajar em discussões respeitosas e construtivas?
Ser um bom cidadão no mundo digital não é apenas “consumir” informações passivamente. Trata-se de questionar, de buscar a verdade, de ser imparcial nas discussões e de reconhecer a complexidade das questões que enfrentamos. Estamos em um ponto crítico da história, onde o futuro das gerações vindouras dependerá não só das decisões políticas ou econômicas, mas também da nossa capacidade de discernir entre o que é verdadeiro e o que é manipulação.
“Burro, eu? Burro é você” é mais do que uma provocação. É um chamado para que as pessoas acordem para o que importa: a construção de uma sociedade mais informada, mais crítica e aberta ao diálogo. Se queremos mudar o cenário atual, precisamos começar a agir, usar a tecnologia de forma construtiva e educativa, e não como instrumento de desinformação e destruição.
A ignorância é, de fato, um dos maiores desafios da nossa sociedade. Mas ela não é invencível. E só conseguiremos superá-la se, coletivamente, decidirmos não aceitar mais a mentira como verdade.
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