Abandono na velhice: a solidão presente na terceira idade
Silenciosos e esquecidos: como o abandono afetivo impacta a saúde mental de idosos dentro da própria casa
O envelhecimento deveria ser uma fase de respeito, cuidado e dignidade. No entanto, muitos idosos enfrentam o abandono afetivo e financeiro por parte de suas próprias famílias. Muitos idosos sofrem um “abandono em vida”, quando deixam de receber da família, filhos e netos o amor e carinho importantes para a saúde mental de qualquer pessoa.
Alguns, após anos dedicados à criação dos filhos, encontram-se solitários e negligenciados. São abandonados pelos filhos num momento da vida em que necessitariam de amor e carinho, mas o cuidado se transforma em descaso.
As justificativas desse abandono surgem como a falta de tempo dos filhos e netos, priorizando seu trabalho e vida pessoal. Outros atribuem a situação a dificuldades financeiras; alguns terceirizam o cuidado para asilos ou cuidadores, esquecendo, de vez, da presença daquele idoso em sua vida.
Nesse abandono em vida, a dor de estar presente e de ser invisível é terrível. Alguns idosos não são deixados em asilos e casas de repouso, mas sofrem um abandono afetivo dentro de sua própria casa. São tratados como um peso na família, pelo trabalho que possam dar.
Comumente, sua opinião é desconsiderada em decisões familiares. Passam dias sem conversar com alguém, mesmo vivendo sob o mesmo teto. Muitos idosos disfarçam a solidão que carregam no peito como consequência do abandono afetivo que sofre por parte dos familiares.
Em nossa sociedade, o preconceito contra a velhice é manifestado de várias formas. No mercado de trabalho, podem ser demitidos com a justificativa de não adaptação às novas tecnologias. Na mídia, são representados como frágeis, dependentes ou sem utilidade.
O próprio símbolo de preferencial para idoso era de um velhinho com muletas. Atualmente mudou. No dia a dia, as pessoas usam falas como: “Isso é coisa de velho” ou “Você já não entende mais essas coisas”.
Essa discriminação reforça a exclusão social dos idosos, contribuindo para sua solidão. Muitos idosos não expressam sua solidão por vergonha ou medo de incomodar. Alguns preferem se isolar socialmente, evitando sair de casa ou participar de outras atividades.
Há um aumento da depressão e ansiedade entre idosos, muitas vezes não diagnosticados por serem confundidas e normalizadas como uma tristeza e limitação “típica” da velhice. A discriminação pode acontecer também pela repetição de histórias ou ligar excessivamente para familiares como busca de atenção.
Iniciativas como grupos de convivência, voluntariado e acompanhamento psicológico podem ajudar a amenizar esse sofrimento dos nossos idosos e ensinar as famílias como lidar com eles.
O abandono dos idosos é uma realidade cruel, que reflete a desvalorização da velhice em nossa sociedade. É preciso combater o etarismo e fortalecer redes de apoio. Cuidar dos idosos não é apenas uma obrigação legal: é cuidar de nós mesmos, uma vez que todos envelheceremos um dia.
Finalmente, é preciso desconstruir a ideia de que o idoso é alguém inapto e improdutivo. A terceira é apenas mais um etapa na vida de uma pessoa que tem tudo pra ser um momento incrível de se viver.
MATÉRIAS RELACIONADAS:



