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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

O mestre da diplomacia

Confira a coluna de domingo (01)

José Vicente de Sá Pimentel, colunista do Jornal A Tribuna | 01/06/2025, 16:27 h | Atualizado em 01/06/2025, 16:27

Imagem ilustrativa da imagem O mestre da diplomacia
José Vicente de Sá Pimentel é embaixador aposentado |  Foto: - Divulgação

Um dos mais fascinantes diplomatas que conheci em minha trajetória no Itamaraty foi Marcos Azambuja. A perspicácia e a sabedoria, juntas com o gosto pela palavra certa, o humor surpreendente e a entrega à profissão que amava mais do que tudo na vida eram qualidades que o distinguiam em todos os momentos, e que faziam dele um companheiro de trabalho confiável e agradabilíssimo.

Não quero fazer deste artigo um obituário. Há pessoas que vivem para sempre nas lembranças da gente, e Marcos viverá sempre nas minhas. Pessoalmente, há tempos não o via, mas sempre tive notícias dele por amigos comuns. Quero continuar pensando que poderei vê-lo na próxima vez que for ao Rio, certo de que vou rir muito durante a conversa, e refletirei ainda mais, depois de sair de sua casa, sobre os comentários que fez. Porque ele era assim, falava com leveza e tanta graça que na hora nem se percebia a profundidade dos seus recados.

Tivemos um contato profissional mais frequente quando ele era Secretário-Geral e eu porta-voz do Itamaraty, no tempo em que o chanceler era Francisco Rezek e Collor de Melo o primeiro presidente eleito pelo voto direto desde 1960. A guerra do Golfo tinha para o Brasil uma importância especial, em vista das centenas de brasileiros que trabalhavam no Iraque para a Mendes Junior e a Volkswagen. Em clima de abertura política, a imprensa, depois de anos amordaçada, exigia notícias sobre os brasileiros que Saddam Hussein ameaçava transformar em bucha de canhão. A comunicação com Bagdá era, porém, complicada, e a interlocução com o Planalto não menos. Para obter sinal verde e dar certas notícias, com frequência eu subia à SG.

A sala da SG é uma das mais bonitas do palácio. No tempo do Marcos, estava sempre cheia de gente. Ele circulava com desenvoltura pelas mesas e sofás, atendia a todos com cortesia e volta e meia ligava para a mãe, com quem falava de tudo, e alto, sem se preocupar com bisbilhotagens.

Os assuntos que eu levava requeriam, quase sempre, um telefonema para o embaixador Coimbra, assessor internacional do presidente. Marcos nunca se negou a me atender, mas sempre cuidadoso, se levantava e me acompanhava até o gabinete do Ministro de Estado, que fica do outro lado do palácio. No caminho, ele reparava em detalhes como, por exemplo, a posição dos sofás e a limpeza do assoalho, porque “o bom chefe precisa se preocupar com tudo”.

Rezek o recebia prontamente em sua sala e as ligações eram feitas de lá, tudo dito com clareza até para evitar os mal-entendidos que já faziam estragos no quotidiano do governo. Quem o conheceu, imaginará a graça com que ele tomava essas “precauções”. E se, por algum motivo, pediam-lhe providências, não deixava de reclamar: “não posso, sou secretário-parcial, e não geral”, aludindo à separação feita naquele período entre as secretarias política, administrativa e orçamentária.

Era um frasista inigualável. Suas convicções, em geral, conservadoras, no bom sentido (chamar de conservador certos políticos atuais, que querem derrubar as instituições democráticas, é um contrassenso, porque esses são revolucionários, não querem conservar nada além de seu próprio poder), não impediam que avaliasse objetivamente as inovações trazidas pelos ventos políticos. Com uma percepção afiada da realidade, sabia ler as pessoas. Sua convicção sobre as relações internacionais de nosso tempo era de que “vivemos o fim de um ciclo histórico: o futuro é cheio de promessas e ameaças, precisamos refletir e tomar decisões não tão abruptas que ponham a perder o sentido do passado, nem tão tímidas que pareçam que não se vai para a frente”. Não duvidava do Brasil, nem de seus dirigentes. Perguntado uma vez o que pensava do BRICS, respondeu que “não sou a favor nem contra, mas já que existe, é melhor estar dentro do que fora dele”.

Nem pessimismo, nem otimismo inconsequentes. A diplomacia é a arte da persuasão, da busca de consensos e do equilíbrio, sem abrir mão do bom senso e sem medo de recorrer à imaginação criativa. Enquanto houver alguém repetindo essas verdades tão simples, e ao mesmo tempo tão poderosas, a memória de Marcos Azambuja estará viva. Que Deus o tenha.

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