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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

A política é um moinho

Confira a coluna de domingo (06)

José Vicente de Sá Pimentel | 07/04/2025, 12:03 h | Atualizado em 07/04/2025, 12:03

Imagem ilustrativa da imagem A política é um moinho
José Vicente de Sá Pimentel, nascido em Vitória, é embaixador aposentado |  Foto: A Tribuna

Como dizia Cartola, a vida é um moinho, tem subidas e descidas. Na França, a líder da direita radical, Marine Le Pen, está em baixa. Condenada por peculato, não poderá se candidatar nas eleições presidenciais de 2027. Como de hábito, próceres da direita mundial deitaram falação contra a interferência da Justiça nos assuntos políticos.

Elon Musk, Matteo Salvini, Geert Wilders e até Jair Bolsonaro fizeram declarações enfáticas contra o “ativismo judicial da esquerda”.

Nada como um dia depois do outro. Nas eleições de 2002, o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, conseguiu superar o socialista Lionel Jospin e disputou o segundo turno com Jacques Chirac. Era a primeira vez, desde a 2ª Grande Guerra, que a extrema-direita francesa chegava tão perto do poder.

Jean-Marie era um grosseirão. Causou polêmica seu comentário, num debate televisivo, de que as câmaras de gás em que os nazistas dizimaram judeus seriam “uma questão menor”.

Na campanha, acusou impiedosamente Jospin, que era o primeiro-ministro, de malversação de recursos públicos e outras fraudes, jamais confirmadas.

Jospin perdeu no primeiro turno, no segundo Le Pen perdeu para Chirac, mas o estilo tosco sobreviveu e até hoje faz escola, na França e em outros hemisférios.

Marine, sua filha mais nova, também ganhou notoriedade pelas contundentes denúncias de corrupção no establishment político. A internet guarda vídeos em que ela propunha que Chirac e outros adversários fossem condenados por peculato e expulsos para sempre da política partidária.

O discurso anticorrupção da direita levou o Congresso francês a aprovar leis cada vez mais duras contra os chamados crimes do colarinho branco. Em 2016, foi finalmente aprovada legislação que torna inelegível qualquer político condenado por peculato. Não deixa de ser irônico que seja esse o crime imputado agora a Marine Le Pen.

O Parlamento Europeu, órgão da União Europeia, transfere fundos para cada partido nele representado, para aquisição de materiais e contratação de técnicos capazes de prestar assessoria no âmbito de políticas específicas.

O “Front National” durante anos recolheu as verbas e utilizou-as para outros fins. O montante da fraude, orçada em mais de 4 milhões de euros, e o longo tempo em que foi continuadamente cometida determinaram a inelegibilidade de Marine por cinco anos.

As críticas que a direita faz ao Judiciário de lá são semelhantes às que entre nós são feitas ao Suopremo Tribunal Federal (STF). Os juízes são acusados de terem um viés esquerdista, atuariam para bloquear os candidatos da direita.

Ocorre que são os parlamentares que fazem as leis, os juízes aplicam-nas. Tampouco é verdade que apenas os direitistas sejam investigados. O socialista Jean-Luc Mélenchon tem sido alvo de inquéritos, o partido “Mouvement Démocrate” do atual primeiro-ministro François Bayrou também foi investigado por presunção de peculato, e Nicolas Sarkozy ainda está inelegível em decorrência de várias investigações.

É certo que a Le Pen estava em primeiro lugar nas pesquisas de opinião sobre as eleições de 2027 e que, assim, a decisão judicial impacta diretamente na vida política. Isso estimula o argumento de que a França se estaria convertendo numa “República dos Juízes”.

No entanto, os populistas não falavam em ativismo político quando a Justiça, em 2017, acolheu denúncias de que François Fillon, primeiro-ministro nos cinco anos da presidência de Sarkozy, foi acusado de nomear a sua mulher para um cargo governamental inexistente e perdeu, ainda no primeiro turno, as eleições presidenciais vencidas por Emmanuel Macron. Como Jospin em 2002, Fillon abandonou a política depois desse episódio.

Embora ainda possa recorrer da sentença, a retirada de Marine da corrida eleitoral é provável. Nesse caso, o candidato natural da direita será Jordan Bardella, atual presidente do “Front National”.

Com 29 anos de idade, polido e elegante nos discursos, Bardella cultiva uma imagem de bom moço. Com ele, e sem o ranço malcriado da família Le Pen, a direita validará a sua entrada para o “mainstream” da política francesa, colocando a ênfase da narrativa em aumento dos negócios, taxação mínima e emagrecimento do Estado. Sua sorte dependerá, em larga medida, do desempenho de Donald Trump nos EUA. Macron há de ter isso em vista, quando tenta assumir a liderança da reação europeia ao tarifaço.

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