Acabar com a inflação é utopia
Confira a coluna desta quarta-feira (12)
Em vídeo recente que circulou nas redes sociais, o empresário Elon Musk afirma que se o governo gastar menos, a inflação reduzirá, trazendo outros efeitos benéficos para a economia e para o mercado norte-americano de um modo geral.
É importante frisar que a inflação tem causas que precisam ser pontuadas, e cada uma delas com um nível de complexidade nada trivial.
Fazendo um resgate histórico do conceito de inflação, o termo surgiu nos EUA no século XIX atrelado ao custo de emissão de moeda.
Assim, a longo prazo, a taxa de inflação está associada à oferta de moeda em comparação com o crescimento econômico de um determinado país, fato que poderia reforçar a hipótese de Musk.
Ocorre que, no dia a dia, um outro fator importante impacta nas taxas de inflação, qual seja, o preço dos bens e serviços ofertados no mercado. Nesse sentido é importante pensar que a oferta e a demanda desses bens têm impacto na precificação, e consequentemente na taxa de inflação.
Por exemplo, vejamos os produtos agrícolas que são sazonais. Um produto na época da safra tem uma oferta maior, e os preços tendem a reduzir.
No entanto, fora de safra eles se tornam escassos, aumentando o preço ao consumidor. Imagine agora, todos os preços de todos os bens e serviços ofertados num determinado mercado.
Essa flutuação de preços, que tem oferta e demanda como uma das causas, é um aspecto importante a ser pontuado numa economia de mercado. Nesse sentido, sem levar em conta a possibilidade de o governo interferir de cima para baixo para regular os preços, é possível inferir que oferta e demanda dos inúmeros produtos que circulam no país são um fator que está fora da governabilidade de um presidente.
Um outro fator é o custo da produção desses bens e serviços ofertados. Entre os quais está o custo de mão de obra. As empresas capixabas têm enfrentado dificuldade para contratar e reter funcionários. Com isso, o custo de selecionar, contratar, treinar e desligar, aumentou de forma exponencial para grande parte das empresas.
Com taxas de rotatividade elevada, e dado que o custo de mão de obra tem uma parcela expressiva no custo das organizações, é de se esperar que preços de produtos e serviços aumentem por conta dessa situação. Logo, ao refletir sobre esse efeito em todos os bens e serviços, novamente, percebe-se que temos outro aspecto de difícil resolução por parte do governo.
Assim, entendendo que os gastos governamentais são apenas uma parte da equação, vale pontuar que reduzir os gastos públicos pode trazer um efeito colateral para o País. Principalmente porque tais gastos são associados ao bem-estar público, envolvendo educação, saúde, segurança, dentre outros.
Por isso, é preciso entender qual a pauta de redução. O objetivo é observar desperdícios e eliminar? Ou reduzir os gastos unilateralmente e comprometer o equilíbrio geral da economia e da sociedade.
Ademais, a economia é a ciência da escassez. Acabar com a inflação é utopia. Mas combater a hiperinflação deveria ser um objetivo de todos os governos. O Brasil, por exemplo, conviveu 15 anos com níveis absurdos de inflação na década de 1980. Nesses períodos de hiperinflação, normalmente a população mais carente é quem sofre, vendo seu poder de compra reduzir drasticamente.
Por fim, uma boa discussão é, além de reduzir desperdícios, manter a inflação em níveis administráveis, e investir em pautas relevantes, tais como incentivos à produção sustentável, que reduzam as externalidades que têm tornado o planeta suscetível às catástrofes climáticas. Essa é uma ameaça que tem o potencial de se tornar um fantasma bem maior do que a inflação.
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