O que ficou para trás e o que ainda está por vir
Entre papéis lançados ao passado e sonhos à frente, um convite a viver o presente com mais intenção
No Colégio Renovação, em Jardim Camburi, onde leciono Projeto de Vida para o Ensino Médio, encerramos cada semestre com um lanche comunitário. É uma tradição que já tem alguns anos. Mas o que poucos sabem é que, antes do lanche, existe sempre um momento de pausa e reflexão.
Na última semana, propus uma dinâmica simples: pedi que cada estudante escrevesse em uma folha de papel uma coisa boa e uma coisa ruim que tivessem vivido até ali, até aquele ponto do ano.
Depois, nos colocamos em roda. Em pé. E veio a pergunta: “O que você fez até agora? Quais foram as suas conquistas? O que te marcou?”
Alguns disseram: “Passou rápido.” Outros se espantaram: “Já estamos no meio de 2025?” E houve quem ficasse em silêncio, mergulhado no próprio percurso.
Pedi então que fizessem o que quisessem com a folha: dobrassem, amassassem, rasgassem — só não podiam jogá-la fora. Cada gesto dizia algo sobre como se lida com o próprio passado.
Depois, organizamos um corredor com duas fileiras de estudantes, frente a frente. Pedi que todos ficassem de costas, com o papel na mão. E então: “Joguem esse papel para trás, por cima da cabeça.”
Expliquei: “O que está à frente é o futuro. O que ficou atrás é o passado. Ele existe, nos ensina, nos marca. Mas já não pode ser tocado.”
Convidei-os a olharem para trás. E ali estavam os papéis — amassados, dobrados, voando, parados. Cada passado era único. E o futuro, também.
Enquanto assistia a esse gesto coletivo e silencioso, me lembrei da enfermeira australiana Bronnie Ware, que trabalhou durante anos com pacientes em cuidados paliativos e ouviu, repetidamente, os mesmos arrependimentos daqueles que estavam prestes a partir. Muitos diziam:
“Gostaria de ter me permitido ser mais feliz.”
Outros:
“Gostaria de ter expressado mais os meus sentimentos.”
E muitos lamentavam:
“Gostaria de ter mantido meus amigos por perto.”
Todos falam de tempo. De escolhas. Do que se priorizou — ou não. Daquilo que se adiou esperando um amanhã que, às vezes, não chega. E não é isso que, muitas vezes, fazemos no meio do ano? Achamos que ainda temos tempo de sobra. Mas, sem perceber, o tempo escorre entre os dedos — feito água, feito areia.
Chegamos ao meio de 2025. Ao meio de ciclos, projetos, desejos. E o tempo, esse, não para.
Foi essa a reflexão que fizemos juntos em sala. E agora me volto a você, leitor adulto desta coluna: O que você tem feito com o seu tempo? O que pode, enfim, deixar para trás? E o que ainda vale a pena construir — enquanto há tempo?
O passado está lá. O futuro ainda não chegou. Mas o presente… o presente está batendo à sua porta.
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