Sábios mutantes
Coluna foi publicada na quarta-feira (15)
A escolha da SAF - Cruzeiro, convencendo Paulo Autuori a acumular a função de diretor com a de treinador para os últimos seis jogos no Brasileiro, me parece a mais sensata pela ótica do clube: o experiente técnico, vencedor no próprio Cruzeiro, escudará o pouco conhecido Fernando Seabra, do sub-20, e a comissão técnica formada por profissionais fixos do clube que dará sequência ao trabalho que vinha sendo desenvolvido por Zé Ricardo e seus auxiliares.
Até aí, tudo bem. Na coletiva de reapresentação, na terça-feira (14), Autuori deu aula sobre “trabalhos sistêmicos” e, hermeticamente, tentou mostrar que a permanência do clube na Série A virá como fruto de um conjunto de ações que já vinham sendo trabalhadas nos pilares que sustentam um projeto esportivo: as partes técnica, tática, física e mental.
Ou seja: o máximo que os baderneiros conseguiram na Vila Capanema foi afastar o técnico Zé Ricardo, o trabalho será o mesmo.
Aliás, fizeram mais: puseram o clube sob o martelo do STJD, que o afastará da torcida num momento crucial.
Prática
Na prática, os jogadores seguirão sob diretrizes traçadas no plano estratégico para um elenco montado ao longo dos últimos dois anos. Isto é: o Cruzeiro não irá se reinventar, revendo plano de jogo, fabricando “salvadores da pátria” no sub-20 ou coisa que o valha.
Vai, sim, aprimorar os fundamentos para ser mais eficaz nos arremates.
Coisa simples, balizadas quando se tem convicção nas escolhas - desde a montagem do elenco com o dinheiro disponível à elaboração das metas a serem alcançadas.
Os treinadores, portanto, não podem ter o trabalho julgado por uma bola que explode no travessão, um pênalti perdido ou por uma derrota que nasce da expulsão infantil ou de um equívoco da arbitragem. E se formos levar ao pé-da-letra é o que ocorre com muitos dos técnicos demitidos por maus resultados.
Enfim, só não consigo entender o porque da precipitação de técnicos tão cheios de sabedoria ao garantir o final da carreira à beira de técnico quando sabem que, por um motivo ou por outro não cumprirão.
Decisão
Autuori me disse em julho, e voltou a dizer nesta quarta-feira (15), que não trabalharia mais como técnico no Brasil. Entendo a excepcionalidade e as razões que o levam a rever a decisão.
Mas, como Tite e Felipão fizeram em recentes escolhas, Autuori é outro a mostrar que treinadores são mutantes como eu e você, que me lê.
E não há certo ou errado nisso. O futebol é labirinto sem saída - até o dia em que as derrotas sufocam o indivíduo.