Dor pode ser sintoma de si mesma
Coluna foi publicada nesta terça-feira (05)
A lembrança de uma alegria não é mais alegria, mas a lembrança de uma dor ainda é dor. Ao contrário do prazer, o sofrimento exige sinceridade de quem sofre. Dor é uma espécie de embriaguez entorpecida pela lucidez.
Fisiológicas ou patológicas, as dores podem ser agudas ou crônicas. A dor aguda é importante para a integridade do corpo, uma vez que funciona como mecanismo de defesa, cujo propósito é alertar que algo se encontra fora da normalidade.
A dor crônica é um quadro patológico contínuo, em que o processo não possui um objetivo, gerando uma situação progressiva. A dor fisiológica se inicia com estímulos de terminações nervosas específicas para dor.
Esses receptores conduzem estímulos nocivos, como temperaturas extremas, impactos mecânicos nas células, entre outras alterações.
O que determina o estímulo é a intensidade que uma determinada variável é capaz de ultrapassar o limiar de excitabilidade favorável à sensação, como ocorre, por exemplo, em um estímulo mecânico.
A dor rápida se caracteriza por ser em pontada e localizada. A dor lenta ocorre com menor velocidade, evidenciada em queimação, mal localizada e difusa.
Episódios repetitivos de dor aguda podem precipitar dor contínua. A partir de um momento em que a sensibilização se torna descontrolada, a dor passa a se tornar crônica.
Com o passar do tempo, ocorre uma reorganização do sistema nervoso, por meio da neuroplasticidade, contribuindo para que a dor tenha um cunho patológico, sem funcionalidade específica.
Deve-se ressaltar que a dor é uma experiência sensorial desagradável, em que existe um componente sensorial e outro afetivo-motivacional.
Dor faz parte das experiências cotidianas do ser humano. Malgrado sua causa, o que distingue a dor como experiência humana é o sofrimento que provoca, levando a mudanças no comportamento, com ansiedade, inquietude, agressividade, depressão e incapacidade física.
Quando presente, como manifestação de doença, a dor é o sintoma dominante, causando sofrimento que angustia o paciente e o mobiliza para procurar auxílio.
Por esse motivo, a dor não pode e não deve ser vista como uma manifestação secundária de menor importância. Ao contrário, deve merecer grande atenção, não só pelo lado humano do alívio do sofrimento, mas porque frequentemente é causa de efeitos secundários.
Dores agudas têm função de alerta. Dores crônicas apresentam caráter insidioso, sem função de defesa, sendo gradativamente incapacitantes, sendo consideradas inúteis.
Existem meios terapêuticos eficientes para o controle da dor aguda. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo quanto à dor crônica.
Quadros agudos que não são devidamente tratados evoluem para dores crônicas. Por essa razão, é possível dizer que o melhor tratamento para dor crônica é a prevenção da dor aguda.
Para evitar que o sintoma “dor aguda” se torne a doença “dor crônica”, convém combater o “efeito” para que ele não se torne a “causa”.