Volta da Samarco preocupa ambientalistas
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Ao mesmo tempo em que gera otimismo com o aquecimento da economia, a retomada completa da mineradora Samarco também preocupa especialistas da área ambiental e da saúde.
O temor é de que o retorno total das operações volte a causar impacto negativo com a emissão de poluentes na atmosfera e no mar.

A mineradora, que atua em Ubu, no município de Anchieta, Sul do Estado, não realiza 100% das suas atividades desde 2015, quando as operações foram paralisadas após o rompimento da barragem em Mariana (MG).
A Samarco chegou a ficar cinco anos com as operações paralisadas, e hoje atua com 26% de sua capacidade. A empresa planeja ter sua capacidade máxima até 2029.
“Durante o período em que a mineradora não operou, a redução do material particulado na região foi de 75%. Comprovou que a empresa é a maior fonte de emissão de poluentes na região”, afirmou o ambientalista e presidente da ONG Juntos SOS ES Ambiental, Eraylton Moreschi Junior.
O ambientalista afirma que esse material é emitido em grande escala na atmosfera e mar, afetando a saúde da população e de animais marinhos. “É um problema de saúde gravíssimo”, ressaltou.
Um estudo realizado na Austrália com amostras coletadas na baía de Vitória concluiu que o material baixa a imunidade e aumenta o potencial de câncer.
Doutora em Ciências e pós-doutoranda em Doenças Respiratórias, Iara da Costa Souza foi uma das responsáveis pela pesquisa. “São partículas pequenas, que entram no pulmão, ficam em contato com as estruturas celulares sem proteção e provocam danos e morte celular. Com isso, baixa a imunidade. O material deu resposta com quebra de DNA, o que aumenta o potencial de câncer”, explicou.
Doutor em Ciência Florestal e professor do Departamento de Oceanografia da Ufes, Luiz Fernando Schettino afirma que é possível que a atividade retorne com um controle ambiental maior.
“A preocupação é normal, mas é perfeitamente viável ter controle. É uma empresa com condições financeiras para funcionar de forma adequada. E cabe ao Estado fiscalizar”.
O outro lado
Mais melhorias
Diante da preocupação de especialistas em relação ao impacto ao meio ambiente e à saúde pública, a Samarco informou que está realizando melhorias visando garantir o controle e o monitoramento contínuo das emissões em Anchieta.
“A empresa ampliou o cinturão verde no Porto de Ubu e modernizou a rede de monitoramento da qualidade do ar nas regiões vizinhas à unidade”, afirmou a mineradora, em nota.
A empresa ressaltou, ainda, “que prioriza a pauta da sustentabilidade e a preservação do meio ambiente, e busca soluções que introduzam inovações e melhorias em suas operações, alinhadas às boas práticas sustentáveis aplicadas, e segue atenta às discussões com relação à questão ambiental e à agenda de mudanças climáticas”.
Retorno vai abrir 7.200 empregos
A empresa
A Samarco é uma mineradora que atua desde 1977 no Espírito Santo e em Minas Gerais. Seu produto final são pelotas de minério de ferro.
A empresa atende aos mercados interno e externo, e seus produtos são direcionados aos principais produtores de aço na América, Europa, Oriente Médio e norte da África.
Cinco anos parada
A mineradora ficou cinco anos com as operações paralisadas, após o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015.
A barragem era usada para guardar rejeitos de minério de ferro explorados pela empresa.
O rompimento poluiu o Rio Doce e chegou ao litoral capixaba, sendo reconhecido como a maior tragédia ambiental do Brasil.
As licenças só foram liberadas para a empresa voltar a operar com a eliminação do uso de barragens para rejeitos. O novo sistema para rejeitos é somente com cavas ou pilhas de distribuição.
Acordo
A Samarco assinou um acordo de cooperação com a Vale, cuja expectativa é otimizar as suas atividades de produção, que tem por base a celebração de uma série de contratos entre as partes.
Os contratos envolvem trocas de áreas, compra e venda de minérios e otimização do uso de estruturas próprias pela Samarco.
Volta parcial e total
A Samarco voltou a operar há cerca de um ano, com 26% de sua capacidade total.
No primeiro ano após a retomada, a empresa totalizou a produção de 7,87 milhões de toneladas de pelotas e finos de minério de ferro.
a meta inicial da mineradora era voltar a operar com 100% de sua operação em 2030.
Mas os planos da empresa foram antecipados e, agora, a mineradora anunciou que pretende voltar com a operação máxima em 2029.
Empregos
Até o ano de 2029, quando a retomada da mineradora deve atingir 100% de sua capacidade, segundo especialistas, cerca de 7.200 empregos devem ser criados.
Destes, 700 serão diretamente com a empresa, 500 com empresas terceirizadas e mais 6.000 com empresas ligadas à cadeia de abastecimento do setor.
Fonte: Samarco e pesquisa AT.
Água de lagoa é analisada
Amostras da lagoa Mãe-Bá, em Anchieta, estão sendo coletadas para um estudo que pode comprovar e medir com precisão o impacto de poluição da mineradora.
Segunda maior lagoa do Estado, atrás apenas da Juparanã, em Linhares, a Mãe-bá fica localizada ao lado da Samarco. A empresa opera na região desde a década de 1970.
Pescadores e moradores de Anchieta relatam que a poluição no local é grande. Em algumas áreas da lagoa, a água é totalmente turva. Eles também afirmam que espécies de animais foram diminuindo ao longo dos anos.
Amostras da lagoa foram coletadas no ano passado, logo na primeira semana de retomada das operações da Samarco, após cinco anos sem atividades. Uma nova coleta será realizada em março para fazer o comparativo entre os dois períodos.
“Vamos analisar se há diferença. Será um estudo de caso perfeito para analisar com precisão esse impacto”, afirmou a doutora em Ciências e pós-doutoranda em Doenças Respiratórias Iara da Costa Souza, uma das responsáveis pelo estudo.
Iara também foi responsável pela pesquisa feita na baía de Vitória. No local, amostras de peixes foram recolhidas e o estudo identificou a presença de um alto índice de metais que vieram da poluição atmosférica.
Licença está liberada, diz governo
Responsável pelo licenciamento e fiscalização da mineradora Samarco, o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), do governo do Estado, informou que a empresa já tem licença ambiental válida para operar com sua capacidade total.
Segundo o Iema, “diversos controles ambientais” estão estabelecidos.
“Atualmente, a empresa está em período de renovação de licença, quando também serão atualizados os controles existentes. As fiscalizações ambientais ocorrem por planejamento de controle ou quando há denúncias. Até o momento, desde a retomada da operação, não houve nenhuma denúncia no Iema”, ressaltou o instituto, por meio de nota.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Anchieta frisou que a responsabilidade pelo licenciamento é do governo do Estado, mas disse que também faz o acompanhamento ambiental.
“Devido ao porto da empresa, a Samarco é licenciada e controlada pelo Iema. Apesar disso, o município recebe constantemente os dados de controle e da qualidade do ar das seis estações implantadas no município e, com isso, realiza acompanhamento”, informou o município, em nota.
A Samarco voltou com parte da sua operação no final de 2020, após cinco anos de paralisação total. A suspensão veio após o rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais, considerado o maior desastre ambiental da história brasileira.
Desde o retorno, foi reativado o concentrador 3, no Complexo de Germano; a usina de pelotização 4, na Unidade de Ubu; e o mineroduto 2. Isso representa 26% da capacidade de operação.
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