Ufes nega 548 pedidos de estudantes aprovados com cotas raciais e de renda
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A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) barrou a matrícula de 548 candidatos que foram aprovados pelo sistema de cotas, mas não estavam dentro dos critérios exigidos pela instituição.
São pessoas que concorreram a vagas destinadas a pretos, pardos, indígenas (PPI), estudantes com renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo (R$ 1.650) e que tenham cursado o ensino médio em escola pública. Nenhum deles, no entanto, se encaixava nesses critérios.
Ao todo, foram 385 barrados por não atender o limite de renda e outros 163 impedidos de se matricular por conta da análise étnico-racial.
Essa análise é feita por uma comissão da Ufes que tem como objetivo evitar injustiças e fraudes, ou seja, barrar pessoas que tentam ingressar na instituição se passando por preto, pardo ou indígena.

A Comissão de Avaliação Étnico-Racial, formada por sete pesquisadores da área, analisa as características fenotípicas do candidato: cor de pele, cabelo e nariz, por exemplo. Com isso, não é levado em conta a ascendência da pessoa, e sim as características físicas.
“São essas características que determinam se a pessoa sofre racismo. Por isso, a análise é feita exclusivamente pelas características, e não pela origem da pessoa”, ressaltou a presidente da comissão, Jacyara Silva de Paiva.
O número de candidatos impedidos de fazer a matrícula representa 15% do total de aprovados pelo sistema de cotas. Na avaliação de Jacyara, a maioria desses tenta ingressar por falta de informação, e não por tentativa de fraude e agindo de má-fé.
Ela explica que muitos brancos e descendentes de italianos, por exemplo, afirmam que são pardos por serem os mais “escuros” da família, mas sem nenhuma característica física de negro ou pardo, o que, de fato, gera o racismo.
“É uma população deseducada em relação ao racismo. A maioria é por desconhecimento. O sistema de cotas é uma reparação histórica ao povo negro, é destinado a pessoas que sofrem racismo, que são fenotipicamente lidas como negras”, ressaltou.
Desde 2017, os candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas passam por uma entrevista presencial com membros da comissão. Este ano, ela aconteceu de forma online, por conta da pandemia.
Saiba mais
Cotas
- Os sistemas de cotas são distintos, sendo por renda e étnico-racial.
- No sistema por renda, o candidato precisa ter renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo e ter cursado o ensino médio em escola pública.
- No étnico-racial, o candidato precisa, além dos critérios de renda, ser preto, pardo ou indígena (PPI).
- O sistema foi criado como reparação aos negros – que historicamente sofrem com o racismo –, aumentando as oportunidades e a presença de negros no ensino superior, visando reduzir a desigualdade social e o racismo na sociedade.
Análise
- A análise étnico-racial é feita pela Comissão de Avaliação Étnico-Racial, formada por sete pesquisadores da área.
- A entrevista acontece dias após a divulgação dos aprovados no processo seletivo, antes da matrícula.
- Os pesquisadores analisam as características fenotípicas do candidato, como cor de pele, cabelo e nariz.
- Não é levado em conta a ascendência da pessoa, já que o que determina o racismo são as características físicas.
- O candidato que tem o pedido indeferido pode apresentar recurso em um prazo de até 48 horas.
Indeferidos
- 548 candidatos que foram aprovados pelo sistema de cotas tiveram o pedido de matrícula indeferido (cerca de 15% do total).
- Foram 385 por não atender o limite de renda e 163 por não serem negros ou pardos.
- O curso de medicina lidera o número de indeferido.
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