Trabalho análogo à escravidão: resgatado conta que bebia água do gado para viver

Histórias de pessoas resgatadas de situação precária de trabalho, como a de Marinaldo Soares, serão exibidas hoje em documentário

Rodrigo Péret, do jornal A Tribuna | 01/03/2024, 17:10 17:10 h | Atualizado em 01/03/2024, 15:47

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/160000/372x236/Trabalho-analogo-a-escravidao-resgatado-conta-que-0016982800202403011547/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F160000%2FTrabalho-analogo-a-escravidao-resgatado-conta-que-0016982800202403011547.jpg%3Fxid%3D745535&xid=745535 600w, Marinaldo foi resgatado por três vezes do trabalho análogo à escravidão

Dormir em barracos infestados por morcegos, dividir a cama com ratos, beber água destinada a animais – com restos de fezes – e viver sob ameaça. Essa foi a realidade do agricultor Marinaldo Soares, de 51 anos, que foi resgatado por três vezes do trabalho em condições análogas à escravidão.

Natural de Pindaré Mirim, no interior do Maranhão, Marinaldo conta que mesmo tendo sido resgatado três vezes por operações do Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho, não imaginava que o seu trabalho se configurava como análogo à escravidão.

“Demorei para criar uma consciência sobre a minha situação. Mas hoje sou um cara que saiu de um estado de escravidão para de defensor dos direitos humanos”.

Ele conta que a primeira situação ocorreu em 1988, quando era adolescente, quando foi com um primo e outros 78 homens para uma fazenda em Parauapebas, no Sul do Pará. O primeiro resgate ocorreu em 2007, mas anos depois acabou voltando a trabalhar por duas vezes em condições degradantes, sendo resgatado em Marabá (PA) em 2009, e em Bom Jardim (MA) em 2010.

“Na segunda e terceira vez, fui porque recebi promessas que não foram cumpridas e precisava ajudar minha família. Na última vez, por exemplo, depois de uma semana trabalhando, acabou a água do carro-pipa e passamos a beber água que o gado bebia e fazia suas necessidades. A gente usava camisa para coar a água suja”.

A história de Marinaldo será exibida hoje no Cine Ritz Jardins, no Shopping Jardins, pelo documentário “Servidão”, às 20h30. Ele e o diretor Renato Barbieri também participarão, após a exibição do filme, de um debate com o público sobre o tema.

“Retratamos no nosso trabalho uma fala muito viva de testemunhos ou de vivências da própria escravidão, que é o caso de 12 trabalhadores rurais que viveram na pele a escravidão contemporânea”, explica Barbieri.

O evento contará com membros do Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo, magistrados do Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região e auditores-fiscais do Trabalho.

Saiba mais

Exibição e debate do Documentário “Servidão”

Quando: hoje, às 20h30.

Local: Cine Ritz Jardins, no Shopping Jardins, em Jardim da Penha.

Com narração da artista Negra Li, “Servidão” discute o quanto as marcas da escravidão continuam a permear as relações trabalhistas hoje, embora sejam consideradas crime pelo Código Penal Brasileiro.

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