Submarinos dos nazistas vigiavam litoral do Estado
Quando o barco pesqueiro dos irmãos José Luiz e Everaldo Meriguete partiu de Guarapari para socorrer um amigo pescador que havia enganchado sua rede no fundo do mar, eles jamais imaginavam, mas estavam prestes a fazer história.
Chegando ao local, próximo à divisa do Estado com o Rio de Janeiro, tiveram uma surpresa: havia uma embarcação afundada na região. Mais do que isso: um navio da Marinha do Brasil que havia desaparecido há quase 70 anos, durante a Segunda Guerra Mundial.
A embarcação foi afundada após ser torpedeada por um submarino alemão em julho de 1944, causando a morte de 150 marinheiros.
“É o único naufrágio de navio da Marinha do Brasil na costa brasileira durante a guerra”, conta o jornalista Jorge de Souza, autor do livro “Histórias do Mar – 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos”.
A história do navio Vital de Oliveira II, descoberto pelos pescadores de Guarapari em 2011, é uma das contadas por Jorge.
O jornalista diz que o litoral capixaba tem características propícias para os submarinos nazistas que vigiavam a costa brasileira.
“As águas rasas do litoral do Espírito Santo logo terminam e dão lugar a grandes profundezas. Era um local propício para submarinos se esconderem”, afirma Jorge.
Outra história contada pelo jornalista ganhou um capítulo especial na última quarta-feira, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a Alemanha poderá ser julgada no Brasil por ter naufragado uma embarcação pesqueira no litoral de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, em 1943.
O pequeno navio Changri-Lá foi alvo de um submarino nazista e, desde então, famílias dos pescadores mortos buscam justiça.
Entre tantas histórias de pescador – todas verídicas, ao contrário do que diz a expressão popular –, Jorge de Souza já levantou, pelo menos, 400 relatos.

A Tribuna – De onde veio esse interesse pelo mar?
Jorge de Souza – Não sou navegador, não tenho barco. Mas gosto do mar e sou jornalista. Sempre trabalhei em redação e, durante muito tempo, fui editor da Revista Náutica. Eu já gostava de mar, cresci em Santos (SP), sempre tive certa proximidade, mas nunca tive interesse participar por barcos.
Por questão profissional, passei a ter contato sobre esse mundo, li muito, conversei com muitas pessoas e fiquei apaixonado por essas histórias que o mar gera. Me tornei um colecionador de histórias.
Mas não tem muita “história de pescador”?
Sempre fiz questão de pesquisar muito porque só queria história verídica. Eu quero a verdade, embora muitas histórias sejam tecnicamente difíceis de se saber se foram exatamente daquele jeito.
O meu ponto de partida é saber a dica de uma história. A partir disso, eu corria atrás, fazia uma longa pesquisa. Em cerca de 90% das histórias do livro, os personagens já morreram. O que eu mais gasto tempo não é nem correndo atrás da história, é checando a veracidade da história, pois muitas são tão extraordinárias que sempre nos questionamos se são verdadeiras.
Descartou muita história nesse processo de apuração?
Muita história. Descartei muitas vezes porque não conseguia checar os fatos ou porque faltavam informações para montar a história.
O mar rende mais histórias do que muitos pensam?
O Brasil não se aprofunda muito nesse tipo de assunto como outros países. Mas imagina: o tamanho da costa brasileira, o volume que o mar ocupa, multiplicado pela história dos últimos 520 anos. Isso gera uma enormidade de fatos, casos e episódios. Isso sem contar que, no passado, tudo era feito no mar, não existia avião.
E hoje em dia?
Quando comecei a pesquisar e escrever, achei que uma hora não teria mais história e que, no século 21, não teria mais fatos interessantes. Mas é o contrário. Hoje, com a globalização, a quantidade de histórias é alta. Chegam até mim uma média de duas histórias por dia. O mar continua sendo matéria-prima para boas histórias, produzindo enigmas e histórias fantásticas.
Pode citar um exemplo?
O recorde de sobrevivência no mar é recente, de 2014. Um homem ficou à deriva por mais de 400 dias, 14 meses sozinho em um barco. Ele apareceu numa praia do Oceano Pacífico. Quem iria imaginar, que em plena era da tecnologia, isso iria acontecer?
Tem alguma outra história envolvendo o Espírito Santo?
Em 2017, um veleiro estava em Salvador, na Bahia, e seria levado para a Europa. Antes de enviar o barco, os donos, que eram ingleses, desceram com o barco até o Litoral Norte do Espírito Santo.
Pararam em um lugar remoto e embarcaram uma tonelada de cocaína. Voltaram para Salvador, entregaram o veleiro para brasileiros contratados para fazer a travessia. Eram três brasileiros e um francês, e ninguém sabia da droga. Eles foram parados em Cabo Verde (África). Ficaram presos por quase dois anos, e não tinham culpa nenhuma.
Suas histórias vão desde fatos narrados por pescadores a momentos históricos...
Se tem água no meio e é uma boa história, me interessa. Meu plano era escrever um livro com 200 histórias. Lancei em 2019, mas já escrevi outro com mais 200 histórias que devo lançar em outubro, e já tenho conteúdo para mais um. Temos histórias de 1.500 até o ano retrasado.
Perfil
Jorge de Souza
- É jornalista, ex-editor da Revista Náutica e criador das revistas Caminhos da Terra, Viagem e Turismo e Viaje Mais. Lançou, em 2019, o livro “Histórias do Mar – 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos”.
- Vai lançar um novo livro: “Mais Histórias do Mar”, previsto para outubro deste ano.
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